quarta-feira, janeiro 11, 2006

A Caneja da Infundíce e outras Coisas de Comer estranhas - os Limites da Gastronomia

Quem não for natural da zona da Ericeira não sabe o que é a Caneja da Infundice (também chamada "enxúndia") .

Não sei se lhe chame um Prato típico ou antes uma curiosidade etnográfica, sem dúvida originada há muitos anos atrás, para garantir a conservação das vitualhas quando não se ouvia falar de refrigeração ...

Mas, por outro lado, também a salga e a defumação das carnes e dos peixes começaram por ser uma resposta humana às necessidades de conservação dos alimentos, e deram coisas comestíveis tão aprazíveis como o Presunto Pata Negra ou o Salmão Fumado... Enquanto que a Caneja... Já lá vamos.

Caneja da Infundíce - A Receita :

Apanhe-se uma Raia de bom tamanho e fresquíssima (não sei bem para quê...) .
Tira-se a Tripa (também não sei bem para quê...) e
Enrole-se em serapillheira duas ou três vezes.
De seguida torne-se a Enrolar o "embrulho" da serapilheira em vários jornais ( uma ou duas edições do Expresso são ideais).

Encontre-se um terreno livre de cães e de toupeiras, relativamente perto de casa mas suficientemente longe para não ofender o nariz da família e dos vizinhos.

Nesse terreno faça-se um buraco de cerca de meio metro.
Enterre-se a Raia escondida na serapilheira e no jornal.
Aguardem-se 3 a 4 semanas (dizem uns, outros 5 a 6 semanas).

Destape-se o buraco (com o nariz tapado) .
Leve-se a "coisa" para uma garagem (normalmente as mulheres não deixam "aquilo" entrar na cozinha, quanto mais na sala de jantar...) onde já está a mesa posta.
Retire-se o que resta da raia (em decomposição) tempere-se com bom Azeite e Vinagre e...

Coma-se acompanhada de batatas cozidas com a pele e cebolas.

O que acham? Devo dizer que já comi - embora sem saber todos os detalhes da preparação - e não me soube assim tão mal. Há que experimentar de tudo.

Por graça relato que foi em Seul que encontrei um prato típico Coreano que me lembrou da Caneja da Ericeira.

Convém saberem que - nas duas Coreias - comer carne de cão é mais comum do que na China. Por esse motivo todos os que se deslocaram a Seul para o Congresso da UPU foram avisados para terem cuidado nos restaurantes locais se tal tipo de comida lhes desagradasse.

Para jogar à defesa muitos colegas comiam no Hotel o MacDonald´s da ordem, mas o vosso escriba, intrépido aventureiro gastronómico, aventurou-se pela restauração local.

Aí encontrei um prato (vegetariano) constituído por Couves que ficavam a apodrecer cerca de 45 dias dentro de umas barricas de madeira, só depois podendo ser servidas à mesa.

Quando apareciam no prato eram mais esbranquiçadas do que verdes (a sua cor natural antes da putrefacção) e sabiam quase que à "choucroute" da Baviera, embora com uma intensidade de gosto talvez 10 vezes superior.

E pronto, a aventura gastronómica também tem limites.

Devo dizer que os meus andam mais ou menos pela latitude da Caneja e pela longitude da tal Couve de que esqueci o nome coreano...

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