Quando entrei para os Correios havia uma empresa do nosso grupo - éramos na altura um grande grupo conglomerado que envolvia os CTT, a PT avant la lettre, os TLP e a Marconi, entre outras miudezas - que metia inveja a muita gente.
Quem nos metia inveja era a empresa gestora dos fundos de pensões, local de alto gabarito onde os trabalhadores ganhavam bem acima da média remuneratória da actividade de comunicações. Por lá se encontravam os melhores alunos dos cursos de finanças, os melhores peritos em aplicação de capitais (pelo menos aqueles que os bancos não tinham conseguido apanhar).
Pagavam-se bónus indexados à valorização da carteira de acções e de obrigações onde os Fundos estavam baseados, e em consequência disso, o vencimento de um Director era quase tanto ali como o vencimento de um Administrador no grupo "pai". E os trabalhadores administrativos iam pelo mesmo caminho...
Havia quem trabalhasse ( e muito) nessa empresa. Eram os tais gestores de títulos que ganhavam em função da valorização da respectiva carteira. Mas os seus directores e administradores, gente que lá tinha sido posta por compadrio político, não só não percebiam nada do que se passava lá dentro, como passavam o seu tempo a jogar jogos de tabuleiro, de guerra e de estratégia (ainda não havia a febre dos videogames).
A única vez em que se preocupavam no ano, ou no semestre, era na altura em que tinham de apresentar os resultados da valorização da carteira de títulos à Administração do Grupo. Aí preocupavam-se, e bem, pois os bónus milionários podiam estar em causa...
Quando essa gentinha se ausentava, normalmente para congressos e reuniões pagos pela empresa, dentro e fora do país, fazia-lhes confusão deixarem o secretariado à boa vida, sem controlo dos próprios. Então do que se lembraram?
Exigir às secretárias que passassem o seu tempo a tirar fotocópias das listas telefónicas...
Juro que isto é verdade! E as visadas, como ganhavam bem e tinham todo o interesse em não fazer ondas que pusessem em causa aquele status quo, faziam o que lhes era pedido e mostravam aos energúmenos, no regresso, resmas e resmas de fotocópias que eram de imediato mandadas para o lixo.
Que diria o actual Ministro do Emprego e da Solidariedade Social destas práticas ? Pouco ou nada poderia dizer caso estivesse no activo nessa altura. Tudo isto se passava entre 1988 e 1992... Lembram-se de quem era Primeiro Ministro?
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