No último dia desta primeira semana de férias - a segunda ficará para o final de Outubro, para ir à serra quando a minha santa lá de cima estiver em convalescença - pensei em dar-lhes um poema de Lídia Jorge, a propósito do seu último livro "O Organista" , fábula que trata da criação do mundo e das relações dos homens com a divindade.
Aqui vai então, dessa grande escritora de Boliqueime um poema de Amor no Outono. Belíssimo!
Assim a Casa SejaAmor, é muito cedo 
E tarde uma palavra 
A noite uma lembrança 
Que não escurece nada 
Voltaste, já voltaste 
Já entras como sempre 
Abrandas os teus passos 
E paras no tapete 
Então que uma luz arda 
E assim o fogo aqueça 
Os dedos bem unidos 
Movidos pela pressa. 
Amor, é muito cedo 
E tarde uma palavra 
A noite uma lembrança 
Que não escurece nada Voltaste, já voltei 
Também cheia de pressa 
De dar-te, na parede 
O beijo que me peças 
Então que a sombra agite 
E assim a imagem faça 
Os rostos de nós dois 
Unidos pela graça. 
Amor, é muito cedo 
E tarde uma palavra 
A noite uma lembrança 
Que não escurece nada 
Amor, o que será 
Mais certo que o futuro 
Se nele é para habitar 
A escolha do mais puro 
Já fuma o nosso fumo 
Já sobra a nossa manta 
Já veio o nosso sono 
Fechar-nos a garganta. 
Então que os cílios olhem 
E assim a casa seja 
A árvore do Outono 
Coberta de cereja. 
Lídia Jorge, (Inédito)
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