A guerra pela supremacia entre a carne de pelo e a carne de lã é antiga como o mundo.
Os manuais de referência colocam o cabrito no cume da gastronomia nacional, sempre assado no forno e de origem certificada. Com mais ou menos alho, com mais ou menos pimentão, acolitado ou não pelo arroz de forno dos seus miúdos e quase sempre com a batata assada no mesmo molho da carne e com os grelos salteados (ou ervas grossas).
O cabrito grelhado (ou guisado) é desdenhado pelos peritos como formas plebeias de estragar uma matéria prima de grande qualidade.
O cordeiro (ou borrego) é um outro produto de excelência da nossa pastagem serrana ou transtagana, talvez não tão incensado como cabrito, excepto nos locais onde se exalta o queijo de ovelha e onde a existência de cabras nos rebanhos é mal vista. A cabra dá um rendimento de leite bem superior ao das ovelhas das raças certificadas e por isso existe sempre a tentação de a usarem para "arredondar" as latas de leite que vão para queijar.
No prato, todavia, e partindo do excelente princípio que não se devem comparar alhos com bugalhos, o borrego também é superlativo. Com a vantagem que pode continuar a ser utilizado como ingrediente principal da nossa gastronomia tendo uns anos ( e uns kg) mais avançados do que o cabrito. Cabrito que ultrapasse os 5,5 kg e meio (limpo) já é por muitos considerado "cabrão" (com vossa licença).
Mas um borrego "mamão" continua a dar prazer em assados ou em guisados muito para além desse peso . Quase que até aos 11 kg, se bem criado com produtos naturais ao lado da mãe.
Este fim de semana fiz uma jardineira de borrego, estando o tempo de feição para um prato que em tempos era primaveril, acompanhando a carne jovem com o feijão verde ou as ervilhas, a batata nova e as cenouras infantes.
Não custa nada pedir no talho que vos cortem (para 4 pessoas) 1kg e meio de peito e costela de borrego. Depois, em chegando a casa, lavem com vinho branco e façam uma marinada com alho aos pedacinhos, cebola picada, uma colher de massa de pimentão, umas pitadas de pimenta preta e uns rebentos de salsa. Juntem azeite e vinho branco e mexam. Mergulhem os bocados do borrego e aguardem de um dia para o outro.
No dia do almoço preparem uma puxadinha da forma usual (alho, cebola, azeite e uma mão cheia de sal). Deitem também uma colher de sopa cheia de polpa de tomate de boa qualidade. Em ficando loura introduzam os bocados do borrego temperados .
Nota: Se o borrego for mais adulto considerem alourar os bocados numa sertã, em azeite ou em banha, a gosto, antes de deitarem no tacho. Caso seja um borrego mais "menino" não há necessidade dessa tarefa inicial.
Deixem apurar uns minutos os pedaços do borrego no refogado.
Depois deitem as batatas cortadas em cubos (duas batatas médias por pessoa) , o feijão verde (ou as ervilhas, a gosto) e as cenouras às rodelas grossas.
Reduzam o lume e vai guisando lentamente por cerca de hora e meia. Vão provando e rectificando de sal. Quando o garfo entrar bem nas batatas está tudo pronto a ir para a mesa.
Para acompanhar bebemos um Tinto Vallado (Douro) colheita de 2011. Excelente relação qualidade\preço!
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