terça-feira, setembro 10, 2013

A Tradição da Cunha


Vi ontem uma entrevista antiga feita a Mário Zambujal (recuperada na RTP Memória), onde o grande escritor e jornalista  afirmava mais ou menos isto ( e cito):
-“Uma forma de estar que é típica do português de todas as idades consiste em deixar tudo para a última hora e depois confiar no santo desenrascanço e na santa cunha. Em frente ao guichet das finanças ou segurança social o tuga, já atrasado na demanda,  pede sempre que lhe facilitem. O Senhor podia facilitar! Pois se só me falta um papelzito... Olhe que eu agradeço…”.
Por outro lado lembro-me bem que já o meu Pai abominava os tiranetes, nome que ele dava aos funcionários dos guichets de atendimento público, senhoras e senhores mangas de alpaca que parece que gozavam  com o  seu conhecimento dos serviços e da forma como o podiam utilizar para tramar a vida dos cidadãos. Sempre à espera da “prendinha” , nas Repartições de Finanças era uma loucura por alturas do Natal. E ninguém achava mal.
Nalguns casos  a desbunda era tão grande e o descaramento tão notório que chegava ao ponto dos colegas do “prendado” , ofendidos , telefonarem para o “ofertante” perguntando-lhes se “eles” estariam esquecidos?
Meu Pai fez esse percurso nos dois lados, primeiro numa Repartição  do  Ministério das Obras Públicas, e depois numa grande empresa privada , e por isso sabia do que falava.
Dirão alguns leitores:
 –“Isso passava-se há 30 anos atrás!”
Não estou assim tão seguro dessa afirmação. Pode não ser de forma tão pública e notória que as coisas agora se passam, mas cá para mim serão necessários não 30 anos,  mas uns 300, para acabar com essa idiossincrasia lusa d e deixar tudo para o final dos prazos,  e então meter o pedido, contando com o valor da cunha e da recomendação…
 

Um comentário:

Anônimo disse...

Pois que muito me aprouve suas crónicas.

Gostava de conversar com você mais a miúde.

Também escrevo crónicas, para o mercado brasileiro.

Porém muitas palavras, na escrita portuguesa, não percebo.

Te convido para um café.

Osiris Duarte cde Curityba.