segunda-feira, setembro 30, 2013

À Laia de Rescaldo

À Laia de Rescaldo

Ganha PS, CDU e …CDS.

Perde o PSD (muito) e o BE (também muito para as suas aspirações relativas).

Com 137 a 143 Câmaras ganhas o PS arrisca-se a ganhar por maioria absoluta a Associação Nacional de Municípios. Nestas condições, e apesar dos percalços de Braga, Faro e Guarda, Tó Zé Seguro já pode começar a organizar a ida a Fátima.
Mas cuidado com o António Costa! Com o resultado astronómico de Lisboa o mundo parece estar ao seu alcance.

CDU e CDS cantam Vitória ( e com razão). Embora das 5 Câmaras conquistadas pelo CDS 2 sejam das Regiões Autónomas ( onde existem singularidades que todos conhecemos) não há dúvida que nem a falta de carácter do Líder retirou votos a esta direita. Mas o Tio Jerónimo também tem muitas razões para cantar de galo!! Loures, Beja, Évora e Silves acrescentam aos outros conhecidos bastiões do PC.

BE pode chorar e acusar a CNE e os MCS pela fraca visibilidade da campanha. Mas o que fica dos fracos resultados é a ideia que o Grande Chefe retirou-se sem deixar substituição credível. Francisco Louçã sabe tudo da vida política. Até quando se devia retirar em glória.

E o PSD? Bem, perde bastante em votos e em Câmaras. Perde na Madeira !! E só não perde mais (Faro, por exemplo) porque as Autárquicas são mesmo assim.

Grande vitória também para Rui Moreira no Porto! Talvez que com António Costa , Bernardino Soares em Loures, Basílio Horta em Sintra e Rogério Bacalhau de Faro (estes últimos pelo suspense até ao final da noite) sejam estes os grandes vencedores da noite de ontem.

Uma palavra para a inadmissível falha administrativa que causou o encerramento do processo de apuramento de votos pelas 4 da manhã de hoje devido ( e cito) a “falhas de comunicação”. Foram 71 contagens afectadas. E isto significa que apenas pelo final da tarde de hoje poderemos encerrar o processo eleitoral (com sorte).

 Falhas de Comunicação? Mas já chegámos à Libéria ou ao Balochistão (salvo o devido respeito)?? Pensei que Portugal ainda era na Europa… Um membro da EU…
O MAI deve explicações.

sexta-feira, setembro 27, 2013

Para Descansar a Vista


 Poemas de chuva, agora que ela apareceu.

Desejo apenas que a dita não caia nem em cima das vindimas,caso estas - lá para o Norte – ainda não se tenham concretizado. E, sobretudo, que não afugente os cidadãos votantes no próximo Domingo.

Votar é das poucas coisas que nos restam onde ainda podemos decidir por nós próprios e que não pagam imposto… Imaginem o que seria a Troika meter o bedelho também no voto democrático. E vontade não lhes deve faltar. Para isso e para “despedirem” o Tribunal Constitucional que deve ser visto no exterior como uma espécie de “empata f****”, quero dizer, “coisas”.

Pois, pois.  A palavra que tenho para essa gente é plagiada de um banqueiro:
Aguentem!!

Porque nós também já aguentámos muito (fora o que por aí ainda vem).

Então, dos dois Fernandos (Namora e Pessoa), aqui vai:

Um Poema Que Se Perdeu
Hoje o dia é um dia chuvoso e triste
amortalhado
Naquela monotonia doente dos grandes dias.
Hoje o dia...
(a pena caiu-me das mãos)
Acabou-se o poema no papel.
Cá por dentro
Continua...
Oh! este marulhar das almas no silêncio!

Fernando Namora, in 'Relevos'

Ilumina-se a Igreja por Dentro da Chuva
Ilumina-se a igreja por dentro da chuva deste dia,
E cada vela que se acende é mais chuva a bater na vidraça...

Alegra-me ouvir a chuva porque ela é o templo estar aceso,
E as vidraças da igreja vistas de fora são o som da chuva ouvido por dentro ...

O esplendor do altar-mor é o eu não poder quase ver os montes
Através da chuva que é ouro tão solene na toalha do altar...

Soa o canto do coro, latino e vento a sacudir-me a vidraça
E sente-se chiar a água no fato de haver coro...

A missa é um automóvel que passa
Através dos fiéis que se ajoelham em hoje ser um dia triste...
Súbito vento sacode em esplendor maior
A festa da catedral e o ruído da chuva absorve tudo
Até só se ouvir a voz do padre água perder-se ao longe
Com o som de rodas de automóvel...

E apagam-se as luzes da igreja
Na chuva que cessa ...
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
 

quinta-feira, setembro 26, 2013

Ver mais com um olho...


Conhecemos todos o velho ditado :
"Vejo eu mais com um olho fechado do que aquele com os dois bem abertos".

Dei por mim a pensar nessa frase quando reparei (notícia do jornal "Público" de hoje ) que existem 68 presidentes de câmara e outros autarcas que se candidatam a Assembleias Municipais dado que perderam a hipótese de se proporem aos votantes para os mesmos locais onde exerceram o seu "ofício" anos a fio.

E pergunta o circunspecto periódico:
“Será sede de poder ou sentido de missão?"

Pode ser que em alguns exista bem enraizado o tal "sentido de missão". Mas na maioria dos casos o que estará em causa é estarem junto do Poder, protegendo até onde lhes for possível todos os interesses que amontoaram em tantos anos de "mando"...

Vejam a excelente série "Boss" a que já fiz referência aqui, com o enorme Kelsey Grammer a fazer de Mayor de Chicago. Vejam e apreciem os contornos da política local de uma grande cidade... Porque esses senhores da antiga ordem dos "Aqui mando eu!" são dos tais que vêem mais com o olho fechado do que muita malta "moderna" com os dois bem abertos...

quarta-feira, setembro 25, 2013

Como se vive nas freguesias rurais

Tentei fazer a vida normal de uma freguesia rural da nossa província por mais do que uma vez. Tratava-se de uma freguesia rural , rural mesmo. Excêntrica e não rural por cima de Paço de Arcos ( a Cabra Figa, por exemplo) a 35 minutos de Lisboa. Esta de que falo é mesmo rural da província , na Beira Alta.

Naquele local e antigamente, nas casas de lavoura comia-se 4 ou 5 vezes por dia. Havia que arranjar força para trabalhar o campo. E esse trabalho começava antes das 7h e só terminava com o pôr-do-sol. Era normal  ao longo do dia fazerem-se grandes tachos de feijão ou massa com carnes de porco. As sopas de substância e saladas de bacalhau desfiado eram também habituais. O Pão cozido em casa era omnipresente de manhã até à hora da deita, com algum presunto, salpicão ou queijo. Havia fome, sim, mas em casa dos lavradores tanto eles como os seus trabalhadores pelo menos comiam bem. Dinheiro para trocos é que podia ser mais difícil… Quem tinha ovelhas e fazia queijo dispensava os restos das aguadas (soro) que escorriam dos acinchos para dar aos pobres, que com isso e pão duro faziam as suas sopas. Esses mesmos pobres – que eram muitos - punham os filhos a trabalhar nas casas de lavoura a troco da comida apenas. Tempos de miséria e de arrepio!

Hoje em dia tudo mudou. Sem grandes grupos de trabalhadores para as terras, estas deixam-se em baldio e  cada proprietário faz o que pode e auxilia os outros no dia-a-dia dos trabalhos agrícolas. Galinhas tem sempre que haver, às vezes também uns coelhos e patos. Oliveiras são sagradas! Mas a grande maioria dos pequenos proprietários já só cultiva para si próprio: as batatas (imprescindível), os nabos , as cebolas e as couves

As pessoas comem de manhã, almoçam e depois comem qualquer coisa à tarde, entre as 17h e as 19h. As duas refeições mais afastadas uma da outra normalmente são feitas de pão e algum “conduto”. A da tarde muitas vezes é sopa. E ao almoço cozem-se as batatas com alguma coisita que haja em casa. Lata de sardinhas ou de atum, postita de bacalhau e , em dia mais farto, a carne de porco.

Borrego ou cabrito são para as festas. Ao Domingo pode fazer-se um guisado (que rende mais) com carne de vaca, ou assar-se um cachaço de porco.

As despesas mais importantes do orçamento mensal são a electricidade, o gaz, a água e o padeiro. Logo depois – ou antes, dependendo da idade do visado – vem a farmácia. E só depois disto a mercearia e o talho. Não se larga a TV Cabo, única distracção destas gentes. Muitas vezes vai ver-se o jogo ao Café ou ao Clube da terra (que ainda tem a SportTV),  mas a antigamente chamada “vida de café” , as mesas de sueca acompanhadas pelos copitos, tardes fora, isso tem acabado com a crise.

Durante as minhas “férias” locais e mesmo descontando que trago sempre peixe de Cascais, nunca consegui gastar mais do que 120 ou 150 euros por semana, incluindo jornais, idas ao supermercado e pagamento de alguma conta que vejo em cima das mesas

Comparando essa verba com aquilo que gasto aqui em baixo, cada vez me convenço mais que o nosso futuro será lá na quinta… O único problema será encontrar alguém que saiba vergar a mola para cavar as batatas, ou ( muito duvidoso) começarmos eu e o senhorio já a treinar para isso… Como dizem que a necessidade é a mãe da invenção nunca se sabe se sairão daqui dois lavradores…


 

terça-feira, setembro 24, 2013

Campanha para todos os gostos


Há ventos estranhos no ar destas eleições.

Já nem sequer falo daquele  Senhor do PTP de Gaia, que quer  criar uma escola de “Ninjas” (!!??)  para proteger os cidadãos e cuidar de melhorar a segurança nas cidades, nem sequer da promessa de parque automóvel gratuito universal para todos os lisboetas, ou das distribuições de dinheiro em missas (Viseu…) , ou ainda dos passeios de autocarro com a 3ª idade de Gondomar, com direito a lanche e dinheiro para trocos…

Refiro-me sobretudo às faltas de vergonha mais descaradas como  senhores autarcas que vão fazer campanha para outras freguesias com o dinheiro, as viaturas e os meios  da freguesia onde até então exerciam mas onde já não podem concorrer, ou ainda os avultados subsídios concedidos neste mês de Setembro pelos poderes camarários em busca de reeleição às Festas das Cidades, dos santinhos , dos estudantes, aos arraiais minhotos ou beirões, no fim de contas a  quem quer que por lá se apresente a pedir , garantindo alguns votos.

Um dos últimos “grandes” autarcas (por ser assim como eu, de volume respeitável) e há muitos anos no Poder, achava sinceramente que “só devia prestar contas a si próprio e à sua consciência”.  E que se havia algumas despesas a mais do que o previsto nos orçamentos camarários, sobretudo de carácter “representativo”,   era apenas   porque a “dignidade do cargo o exigia”…

E o pior deste filme nem sequer são as afirmações, mas sim o facto de que quem as emitiu estar (ainda hoje) piamente convencido da sua justiça e idoneidade.

Dizem que na Índia,  os marajás que depois do Raj ficaram sem dinheiro para manter a sua vida de enorme opulência , deixaram de ter vida pública. Nem sequer saíam do palácio  para não mostrarem aos antigos súbditos as condições  em que viviam depois da declaração da República (e que eram bem boas, à custa de subsídios do Governo).

Mal comparado faz-me lembrar a história contada por Alexandre Dumas, segundo a qual um certo nobre francês caído na falência costumava vestir-se de criado ( ele e o filho) e ambos conduziam a carruagem que ostentava o escudo da sua casa, para que as pessoas ainda pensassem que tinha dinheiro para ter cocheiro e palafreneiro de libré…

Pobres autarcas? Não amigos !  Pobres de nós!!
 

segunda-feira, setembro 23, 2013

Que novidades de Lisboa?


Segundo as últimas notícias aqui da capital – e depois do vosso Blogger se ter ausentado  (grande ausência) dois dias – não há assim tantos acontecimentos que necessitem de comentário. Ora vejam:

 - Jesus mascara-se de palhaço e, não sei se por estar em Guimarães e de peito cheio, ergue o “montante” e bate num steward e num polícia. Acto que, vindo de quem vem, nem sequer é novidade…
- A Merkl continua a mandar na Europa … (onde está a novidade??!!)
 - Portugal deve precisar de novo Resgate… (quem já não o disse e escreveu? Até eu, que sei pouco ou nada).
 - Na Campanha Eleitoral os Candidatos estão cada vez mais ridículos… As promessas que Seara fez para Lisboa são de ir às lágrimas…(ler o comentário de meu mestre Vasco Pulido Valente no Público). Sim, mas onde é que isto das “promessas eleitorais “ é novidade??!!

Em suma: Nada se passou nem passará tão cedo. O país está morno, as eleições estão chatas, o futebol suporta-se a custo.

O Sr. Primeiro Ministro rói as unhas e pensa como vai dar as más notícias do Resgate à plebe, sendo que o Sr. PR já tem pronta a estratégia do “Eu bem lhes disse. Bem os avisei  e tudo fiz para que não acontecesse!!.

 Repito, nada disto é novidade!
 

quarta-feira, setembro 18, 2013

Semana cheia de Lançamentos e de Apresentações: Blogger estará mais fora do que dentro...


Ontem não passei por aqui. Estive em Évora para a inauguração da EBORA 2013, Exposição Bilateral Portugal-Bulgária que será a mais importante do ano em Portugal.

Passem por lá caso possam e vejam as muitas maravilhas expostas no Palácio do Barrocal – mesmo ao pé da Praça do Giraldo.

 E, ao mesmo tempo, passem pelo antigo e respeitado Restaurante Fialho, na Travessa dos Mascarenhas ao Largo Garcia de Resende e vão prestar homenagem ao grande senhor Gabriel Fialho, desaparecido há poucos meses. Prestar-lhe homenagem será comer o que de muito ( e bom) existe naquela Catedral da comida transtagana.

Eu lá estive ontem.

Na Quinta feira parto para Braga, para fazer parte das comemorações dos 500 anos da Misericórdia local.  Começa na Quinta e  termina no Sábado. Mas a sessão solene onde apresentaremos o Postal Inteiro Comemorativo do Evento será na Sexta feira.

Por estes motivos as publicações sofrem. Mas depois quando chegar vou contar o que se passou e onde comi.

Curiosidades nas Autárquicas 1


Tenho lido algumas notícias engraçadas sobre a campanha para as eleições Autárquicas.

Por exemplo, um motivo relativamente importante de campanha tem sido a “Expansão dos Cemitérios”… Eu não sei se alguém seria eleito com o meu voto através de campanha que promovesse a “expansão dos cemitérios”. Provavelmente não.

É que para expandir cemitérios estará mais ou menos implícito que haveria que aumentar o número de enterros, e para que isto acontecesse seria ainda preciso anteriormente aumentar o número de mortos, falecidos lá na terra (ou que lá se enterrassem)…

Outro vector importante de campanha e de anúncio público tem sido a frase “A solução para…” seguida do nome da localidade. Na maior parte dos casos a frase pega e resulta bem. Mas há uma freguesia chamada “Degolados” , onde já assim não acontece…

“A Solução para os Degolados”?  Talvez enterrá-los rapidamente, tendo o cuidado de não se misturarem as cabeças de alguns com os corpinhos dos outros?

“A Solução para a Filha Boa”? (localidade de Torres Vedras). Casá-la rapidamente talvez…

“A Solução para a  Mulher Morta”? (de Ourém). Ver sff o que se aconselha para os degolados.

“A Solução para a Picha”? (localidade do conselho de Pedrógão, Leiria)? Bem, aqui pode haver várias. Mas leiam à frente sff.

“A Solução para o Colo do Pito”? (esta pertence a Castro D’Aire). Eu propunha que fosse apresentada à anterior, sendo então possível resolver ambos os casos. Seria uma solução de geminação aprofundada.

E poderíamos continuar com o mesmo exercício para  vilas e aldeias tão pitorescas como Rio Cabrão (Viana do Castelo), Cama da Porca (Alhandra), Mal Lavado (Beja)., etc, etc…

segunda-feira, setembro 16, 2013

Momento de angústia racional


Começa a 8ª e 9ª avaliação da Troika.

 É também a altura em que o Governo se prepara para fazer aprovar as propostas de lei que vão consignar ainda mais cortes na despesa pública através de diminuições nos valores das reformas e despedimentos (encapotados ou não) na função pública.

Para alguns pensionistas estes novos cortes em cima dos anteriores e associados ao aumento das taxas do IRS, diminuem o valor que entra no banco ao final do mês em mais de 50%. Nalguns casos em mais de 60%.

“- Esses ganhavam de mais!” , dirão alguns! “- Por isso é que o país está assim!”.

Admita-se que estamos a falar de pessoas com reformas perto dos 2500€, e não das que recebem 20 000€.  Admita-se também que – mesmo não discutindo quanto é que esses “milionários” descontaram ao longo da vida para estarem a receber assim – a troca das regras do jogo a meio do mesmo não é justiça…

Pensemos que o reformado “rico”  tinha tido a opção, 40 anos atrás, de em vez de descontar para a CGA poder ter começado a descontar para um Fundo de Pensões de algum Banco privado. Hoje estaria a receber quanto?

No meio disto tudo talvez fosse possível minorar os efeitos de tão aguda repressão fiscal. Ora leiam sff: Se a Segurança Social está a morrer pelo desfasamento entre aquilo que entra e aquilo que sai, e se todos temos de ajudar - os com mais dinheiro ajudando mais, está claro -  porque motivo o Governo não legisla abatendo às despesas obrigatórias com os outros compromissos uma proporção exacta à que vai retirar do orçamento disponível dos cidadãos?

Alguém comprou uma casa de 400 000 euros contando com um vencimento\pensão de 3000€. Está a pagar uma prestação de 1500€ por mês ao banco. Como vai viver se o que passar a receber mensalmente  em vez de 3000€ for 1800€?  Baixem estas prestações das casas e outros empréstimos, baixem as da electricidade e das águas, baixem em proporção todas as despesas das famílias que forem obrigatórias e essenciais (não falo de TV cabo nem de TM!)  e ganham todos.  Bem, todos  não… Mas os que ficam a perder são capazes de aguentar o “prejuízo” melhor do que os cidadãos. Ou estarei a pensar mal?


 

Que Catedrais portuguesas estão em selo postal?

Um dos nossos leitores pergunta quais são as catedrais portuguesas que figuram (ou figurarão) em selos postais. A resposta é que serão todas as consideradas nos meios oficiais, neste caso as referidas no site:

sexta-feira, setembro 13, 2013

Para Descansar a Vista

Poema de Outono - que por acaso não se adivinha ainda no tempo que faz -  e parece ter mais a ver com a vontade que o tempo passe depressa. Passe e leve com ele os ventos danosos.

Venha daí então primeiro o grande Neruda com tradução mazinha aqui do blogger...

Poema de Outono
 
Quero apenas cinco coisas..,
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o sizudo inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são os teus olhos
Não quero dormir sem os teus olhos.
Não quero ser sem que me olhes.
E dou em troca a primavera para que continues a olhar-me.
 
Pablo Neruda
 
E acabo com o nosso Gastão Cruz, profeta da poesia tomara que não o levem os poderes à letra ...
 
Que Farei no Outono quando Tudo Arde
 
Que farei no outono quando ardem
as aves e as folhas e se chove
é sobre o corpo descoberto que arde
a água do outono

Que faremos do corpo e da vontade
de o submeter ao fogo do outono
quando o corpo se queima e quando o sono
sob o rumor da chuva se desfaz

Tudo desaparece sob o fogo
tudo se queima tudo prende a sua
secura ao fogo e cada corpo vai-se

prendendo ao fogo raso
pois só pode
arder imerso quando tudo arde

Gastão Cruz, in "As Aves"

quinta-feira, setembro 12, 2013

Plano Provisório de Emissões para 2014

Plano de Emissões Filatélicas de 2014

a) Vultos da História e da Cultura Nacionais (conta apenas como uma Emissão)

Centenários de nascimento:
João Hogan: Mestre de Gravadores e Pintor notável do século XX.
Joaquim Namorado: Poeta e Matemático.
António Dacosta: Poeta, pintor e crítico de arte;
Sebastião e Silva: Matemático
Maria Keil: pintora modernista portuguesa;

Evocações:
Florbela Espanca: 120 anos do nascimento de uma das maiores poetisas portuguesas, autora de uma notável obra poética dedicada aos temas da feminilidade e do erotismo.
D. Frei Bartolomeu dos Mártires: 500 anos do nascimento do grande Arcebispo de Braga, figura central do Concílio de Trento. Beatificado em 2002 por João Paulo II.


b) Datas da História (7 emissões)

- 40 Anos do 25 de Abril (Tem Livro associado).

-150 Anos do Instituto Geofísico de Coimbra - Primeiro observatório magnético português - e ainda o único. Primeiro barómetro absoluto na Península Ibérica; primeira estação sísmica portuguesa, em 1891; laboratório português reconhecido pela Agência Espacial Europeia, para a missão Mars Express, em 2003

- 400 Anos da Publicação da “PEREGRINAÇÃO” de Fernão Mendes Pinto

- 500 Anos da Embaixada ao Papa Leão X de D. Manuel I


ver tudo
- 500 Anos do Nascimento de Andreas Vesalius, o mais importante anatomista da era moderna, considerado o “Pai da Anatomia”. Foi médico de Filipe I de Portugal.
 Os seus textos tiveram uma influência enorme em todas as escolas de medicina ocidentais até ao século XX. Nota: Os Correios Belgas concordaram em fazer uma Emissão Conjunta com Portugal sobre este Tema em 2014.

- 8 Séculos da Língua Portuguesa, evocando o 1º Testamento de D. Afonso II, em 1214. A Língua Portuguesa é falada por mais de duzentos milhões de habitantes, distribuídos por 8 países e Macau, situados em 4 continentes diferentes; é a língua mais falada no hemisfério sul, a 3ª língua europeia mais falada, a 4ª língua mais falada a nível mundial, a 6ª língua mais utilizada em negócios, a 3ª língua mais utilizada no Facebook e a 4ª no Twiter.

- 800 Anos do Notariado em Portugal - O Notariado é uma das mais velhas instituições de Portugal. Há mesmo quem diga que é anterior à fundação da nacionalidade, embora o primeiro documento tabeliónico referenciado sem margem para dúvidas date de 1214: uma carta de venda feita por Mendo Eanes, tabelião de Santarém.

c) Temáticas (5 emissões)

- A Rota das Catedrais 3ª e última série (Tem Livro associado)

- Jardins e Miradouros de Portugal (Tem Livro associado) –

- Tapeçarias de Portalegre 1ª Série (Tem Livro associado) –

- As Coleções do Instituto de Investigação Científica e Tropical (nome provisório) – 1ª Série ( A integrar num Livro posterior sobre “O Café em Portugal”) - O objetivo destas emissões será dar a conhecer o riquíssimo património albergado no IICT, com relevo para as suas coleções científicas e os preciosos documentos iconográficos do Arquivo Histórico Ultramarino.

- Grandes Prémios de Arquitetura Portugueses – Ribeiro Telles, Siza Vieira, Souto de Moura – Numa atividade onde Portugal se tem afirmado repetidamente como berço de excelência, propõe-se evocar os três grandes prémios da Arquitetura lusos: os dois prémios Priztker e o  prémio Jellicoe (Arquitetura paisagística).

d) Projeção Internacional (3 emissões)

- Campeonato do Mundo de Futebol (Brasil) - (Caso Portugal se qualifique).

- Ano Internacional da Cristalografia (ONU) – A Cristalografia é um ramo da ciência em desenvolvimento acelerado, que conta com 20 prémios Nobel atribuídos na área. O 1º foi atribuído a Max Von Laue em 1914, motivo que levou a UNESCO a declarar 2014 o Ano Internacional desta ciência. As aplicações mais importantes estão na Farmacologia, na Medicina e na Biologia (estrutura do ADN), mas também na Engenharia e na Eletrónica (super-condutores).

e)Patrimónios Portugueses Mundiais da UNESCO
 Elvas (Cidade fronteiriça e fortificações, consideradas a maior fortaleza de baluarte do mundo) e Universidade de Coimbra (Alta e Sofia) 

f)Açores (1 emissão)

- Aviões que os Açores Conhecem

g)Madeira (1 emissão)

- 500 Anos da Diocese do Funchal

h)Protocoladas (2 emissões)

- Europa (Tema: Instrumentos Musicais tradicionais/nacionais)

- Correio Escolar (Protocolo com o Plano Nacional de Leitura - Ministério da Educação e Ciência)


i)Etiquetas Automáticas

1ª Emissão: - Ano Europeu do Cérebro (UNESCO)
2ª Emissão: - Ano Europeu da Reconciliação do Trabalho com a Vida Familiar (UNESCO) 


Segredos do Quotidiano

Dei por mim a procurar ontem à noite o relógio de bronze (horroroso) que nos tinham dado no casamento e que estava por cima da consola que tenho à entrada da casa. Nunca o tirei de lá porque foi a minha mulher que assim o expôs inicialmente e sempre me pareceu pouco simpático aproveitar a ausência forçada dela para mexer no assunto. No assunto e no relógio.

O facto de não o ver acabou por se explicar : a “santa” tinha-se servido da monstruosidade para apoio das receitas médicas , dos relatórios das análises e de outros exames que fizera recentemente.

Por cima disto tudo tinha também empoleirado (no pescoço de um dos cavalos decorativos do dito relógio) um calendário, pequeno está claro, daqueles que têm uma foto em cada mês. No mês de Setembro um sorridente saguim (ou da família) olhava para todos nós do alto do seu improvisado poleiro.

Não sei, nem vou perguntar, se foi alguma inimizade antiga com a falecida nora que a moveu a assim tapar o relógio. Ou talvez o seu sentido estético se estivesse finalmente a apurar com a idade e a galopante degenerescência das faculdades…

Lembrei-me desta cena de ontem porque os nossos vendedores de jornais e revistas do quiosque da Versailles – ela e ele benfiquistas militantes e doentios -  nem sempre tinham bem à vista todos os jornais desportivos do dia.  A “Bola” e o “Record” eram evidentes (mais a Bola do que o outro), mas o “Jogo” só aparecia bem à vista de todos quando a notícia de 1ª página não molestava o “glorioso”, como aconteceu ontem com o artigo que punha em causa a saúde do sérvio-maravilha Markovic…

Nesta censura prévia à liberdade de expressão e de consulta podia ler-se alguma semelhança com a atitude da “santa” cá de baixo. Mas não acredito...

Terão sido motivos puramente práticos que motivaram o desmando feito pela idosa (ainda me lixo se o chibo primo lê isto) .

A cabeça já não era como dantes, a necessidade de ter os exames médicos, as receitas e a data das próximas consultas  à mão, era superior  à descrença quanto à  capacidade decorativa do artefacto…

Esta capacidade decorativa, como referi de início, era semelhante à de um alguidar de plástico, com a agravante que enquanto o alguidar pode ainda ter  alguma utilidade, o famigerado relógio já nem sequer dá as horas.  Só serviria para lastro (pesa que se farta) ou para enfiar nos c*** de algum transeunte que me chateie, arremessando-o da varanda.



 

quarta-feira, setembro 11, 2013

O Frio de Setembro

A temperatura baixou, mas não é a esse fenómeno meteorológico esperado e bem vindo (sobretudo para os bravos  combatentes da Paz) que me refiro.
Queria falar da baixa temperatura que se nota em torno da sociedade civil portuguesa. Nem a  proximidade eleitoral, nem o ruído em torno do Tribunal Constitucional e das suas decisões, nem a Festa do Avante, nem sequer a bola do nosso futebolês, parece que conseguem dar vida ao país e às suas gentes.
Os jornais têm cada vez menos páginas. As TV’s são obrigadas a mergulhar cada vez mais no poço das coscuvilhices e das notícias de tabloide (homem arranca orelha de cão à dentada depois de ter atirado o gato pela janela…).
Os políticos tanto abusaram da paciência da plebe que parecem ter cansado as suas audiências. Exceto aqueles pobres tristes  que ainda sonham com um empregozito lá na Junta (ou na Câmara) o que se torna cada vez mais difícil.
As únicas matérias que ainda parecem mexer com os visados (et pour cause) são os atentados cada vez mais certeiros do Governo à Função Pública. Aqui ainda se nota algum burburinho  popular perante as hipóteses certas de cortes nos salários e dispensas mais ou menos compulsivas .
Talvez  estas águas paradas se revolvam um pouco quando o Sr. Governo anunciar,  e  muito convenientemente depois das Autárquicas, a dimensão do “pacote” que tem preparado para os pensionistas.
Choro e ranger de dentes pois então… Mas porventura baixinho, por baixo do cobertor para não incomodar.
Não sei se fui eu que acordei hoje à Eça. Chateado e desanimado , enfim, quase “vencido da vida”… Mas cada vez me parece mais que o país está mesmo uma “pasmaceira”.  

terça-feira, setembro 10, 2013

A Tradição da Cunha


Vi ontem uma entrevista antiga feita a Mário Zambujal (recuperada na RTP Memória), onde o grande escritor e jornalista  afirmava mais ou menos isto ( e cito):
-“Uma forma de estar que é típica do português de todas as idades consiste em deixar tudo para a última hora e depois confiar no santo desenrascanço e na santa cunha. Em frente ao guichet das finanças ou segurança social o tuga, já atrasado na demanda,  pede sempre que lhe facilitem. O Senhor podia facilitar! Pois se só me falta um papelzito... Olhe que eu agradeço…”.
Por outro lado lembro-me bem que já o meu Pai abominava os tiranetes, nome que ele dava aos funcionários dos guichets de atendimento público, senhoras e senhores mangas de alpaca que parece que gozavam  com o  seu conhecimento dos serviços e da forma como o podiam utilizar para tramar a vida dos cidadãos. Sempre à espera da “prendinha” , nas Repartições de Finanças era uma loucura por alturas do Natal. E ninguém achava mal.
Nalguns casos  a desbunda era tão grande e o descaramento tão notório que chegava ao ponto dos colegas do “prendado” , ofendidos , telefonarem para o “ofertante” perguntando-lhes se “eles” estariam esquecidos?
Meu Pai fez esse percurso nos dois lados, primeiro numa Repartição  do  Ministério das Obras Públicas, e depois numa grande empresa privada , e por isso sabia do que falava.
Dirão alguns leitores:
 –“Isso passava-se há 30 anos atrás!”
Não estou assim tão seguro dessa afirmação. Pode não ser de forma tão pública e notória que as coisas agora se passam, mas cá para mim serão necessários não 30 anos,  mas uns 300, para acabar com essa idiossincrasia lusa d e deixar tudo para o final dos prazos,  e então meter o pedido, contando com o valor da cunha e da recomendação…
 

segunda-feira, setembro 09, 2013

A Noite mágica do prémio Aga Khan de Arquitectura

Estivemos presentes no castelo de S. Jorge para o lançamento da Emissão Comemorativa do Prémio Aga Khan de Arquitectura. Por causa disso não vi o jogo da seleção. Mas o espectáculo proporcionado pelo jogo de cores e de som, na noite de Lisboa e dentro das muralhas, foi memorável.

Os CTT emitiram o 1º bloco filatélico no mundo impresso com talhe doce (intaglio) sobre tecido de seda. Aqui fica a descrição do processo de fabrico para todos os interessados:

“A ideia desta Emissão começou com a notícia transmitida pela Aga Khan Development Network aos CTT de que a cerimónia de 2013 da atribuição do Prémio Aga Khan de Arquitetura seria realizada em Portugal, no Castelo de S. Jorge, em Lisboa.

E como faz parte da tradição deste Prémio de Arquitetura (um dos mais conceituados do mundo) existir uma série de selos do país anfitrião que comemore o Evento, a AKDN solicitou aos CTT se seria possível emitirem esta série de selos evocativa do prémio.

Tomada a decisão pela tutela dos CTT, estes de imediato começaram a estudar a formatação da Emissão de Selos. Decidiu-se – em acordo com a AKDN – que a mesma deveria conter dois selos e um bloco especial filatélico. Um dos selos representa um azulejo árabe de Lisboa e o outro teria um detalhe de uma colcha de Castelo Branco do século XVIII, existente no MNAA e que possui caraterísticas também árabes.

Para o Bloco Filatélico foi escolhida uma representação do Castelo de S. Jorge e do casario de Lisboa que o envolve a descer para o Tejo, perfil único no mundo.

Foi confiado ao atelier português Folk Design a tarefa de produzir as artes finais dos selos e deste bloco filatélico. Trata-se de um atelier que colabora com os CTT há já vários anos, conhecido pela minúcia e o detalhe com que prepara as suas artes finais, tendo já obtido prémios de design internacionais com as suas criações para os CTT.

Para dar ainda mais importância ao acontecimento e testar as capacidades de organização dos Correios de Portugal, foi tomada a decisão de executar o Bloco Filatélico em causa com uma técnica nunca antes utilizada no mundo: uma impressão a Talhe Doce feita em cima de Tecido de Seda.

Esta inovação na utilização de duas técnicas já conhecidas individualmente mas nunca antes justapostas, obrigou a que uma operação de logística importante fosse montada por toda a Europa, envolvendo, em Portugal, os designers do Atelier português Folk Design e os peritos da Filatelia dos CTT.

E ainda: um fornecedor de seda italiano, uma empresa impressora de segurança francesa (certificada pela INTERGRAF), um gravador eslovaco e outra impressora de segurança checa para a impressão a talhe doce.

A escolha destas diversas opções de fornecedores para este projeto tão especial tem razão de ser. Em primeiro lugar a Cartor Security Printing é a única empresa do mundo que domina a técnica de integração de tecido de seda em papel de selos. Depois, a Itália, que já anteriormente ao século XV mantinha relações com a China através de Veneza, tendo assim criado uma relevante industria têxtil baseada na seda. Por fim, é na Eslováquia e na República Checa, que se encontra uma das mais importantes escolas da Europa de gravação manual em aço e de impressão em talhe doce, derivadas de uma tradição de muitos anos.

O processo complexo é descrito em mais detalhe seguidamente:

As artes finais do desenho do bloco filatélico foram aperfeiçoadas em Portugal tendo em atenção que a impressão seria feita a dois tempos. Primeiro a impressão do fundo do bloco, em offset e a quatro cores. Posteriormente a gravação em talhe doce do contorno do castelo de S. Jorge.

A seda crua foi comprada a um fornecedor de tecidos italiano de alto nível. É apresentada em cortes de 80 metros de comprimento que são depois cosidos a topo de forma a serem enrolados em cilindros de 200 metros.

Estes cilindros são posteriormente enviados para o Norte de França, para a Cartor Security Printing, local onde a seda será laminada e integrada no papel adesivo que permitirá a colagem dos selos. Trata-se de um processo industrial que levou vários anos a aperfeiçoar entre o fornecedor de seda e o impressor de segurança Cartor, e onde se utilizaram também técnicas derivadas da Alta-costura para atingir os objetivos desejados.

A seda laminada e já integrada no papel auto-colante é então cortada em folhas, estas são escolhidas e apenas as de melhor qualidade são reservadas para nelas se proceder à impressão da panorâmica do fundo do desenho, em offset, e em quatro cores.

Enquanto todo este processo se desenvolvia em França, foi escolhido um mestre gravador na Eslováquia para realizar o trabalho da gravura manual da placa de aço destinada ao entalhe.

As folhas de selos já impressas a offset foram então enviadas para Praga, para a Impressora Oficial dos Correios da República Checa, onde a placa de aço gravada manualmente é usada para realizar a impressão a Talhe Doce (“recess printing”, o método mais nobre da arte da impressão) do contorno das muralhas do Castelo de S. Jorge, tendo como resultado final proporcionar um toque de relevo ao desenho executado.

As folhas com os blocos gravados foram reexpedidas para França, onde a Cartor Security Printing executou as operações finais: a perfuração nos locais exatos com a ferramenta de picotar, o que permitirá destacar o selo do fundo do bloco filatélico, a escolha em controlo de qualidade, a embalagem e o envio para os CTT Correios de Portugal.

A Gravura de Aço executada pelo mestre gravador e que é a interpretação do desenho original feito em Portugal, foi  oferecida aos CTT Correios de Portugal.”

Presidente da República recebeu Aga Khan

sexta-feira, setembro 06, 2013

Para Descansar a Vista

Um dia destes dei por mim a ver namorar… Mesmo ali à beira Tejo, em frente da Praça da Ribeira, um casal de namorados beijava-se com as mãos dadas em pleno jardim da Praça D. Luis I.

Terreno esse que já foi de coisas muito mais bizarras do que namorados a beijarem-se para pacóvio ver…
 
Entre os sem-abrigo e os agarrados de toda a espécie que por lá abancavam e assaltavam transeuntes, e agora estes casais de namorados que aproveitam toda uma recuperação do espaço urbano fronteiro ao antigo edifício da Central Telegráfica para usufruir uns dos outros,  vai uma grande – enorme mesmo -  melhoria.

Venha de lá então poema que celebre de uma forma bem disposta estes amores de Lisboa:

Os Namorados Lisboetas

Entre o olival e a vinha
o Tejo líquido jumento
sua solar viola afina
a todo o azul do seu comprimento

tendo por lânguida bainha
barcaças de bacia larga
que possessas de ócio animam
o sol a possuí-las de ilharga.

Sua lata de branca tinta
vai derramando um vapor
precisando a tela marinha
debuxada com os lápis de cor

da liberdade de sermos dois
a máquina de fazer púrpura
que em todas as coisas fermenta
seu tácito sumo de uva.

Natália Correia, in "O Vinho e a Lira