quarta-feira, abril 11, 2012

Qualidade a baixo preço: tenham paciência!

Como de costume, nesta Páscoa fui dar uma revisão às minhas garrafas de vinhos velhos que estão lá bem guardadas na adega da Beira Alta. Dentro do granito, isolados dos extremos de temperatura, aqueles vinhos têm vindo a dar lições de longevidade que aqui em baixo em Lisboa provavelmente não dariam, a não ser que estivessem dentro das caves climatizadas artificiais (armários de temperatura e humidade controlada) que agora qualquer um de nós pode comprar.

Quando era mais novo não gostava muito de vinhos velhos. E esta política parece ser cada vez mais generalizada por esse mundo fora, sobretudo em relação a não-especialistas. Nem sempre foi assim, os grandes restaurantes antigamente orgulhavam-se das magníficas caves de vinhos antigos que mantinham para os seus clientes. Lembro-me da Tágide ( à conta da garrafeira do Sr Jorge de Brito) mas também da Tia Matilde, do Beira Mar e do English Bar.
Hoje em dia, fruto da Parkerização do gosto mundial, preferem-se em todo o lado  tintos jovens, espessos e negros -  há quem lhe chame a "Bordelização" dos vinhos, não sei se por relação semântica com os gran cru de Bordéus, se antes por semelhança fonética com a antiga palavra "bordel".

Perdeu-se desta forma o  gosto pelos vinhos tintos com mais idade, e por isso obrigatoriamente mais delgados e desvanecidos na cor. Mas quem já teve a felicidade de beber um Romanée Conti sabe que tais atributos são apenas parte do ramalhete que transforma qualquer vinho num grande vinho.

Por todos estes motivos que nos dão matéria para pensar, mas também por ter começado a privar com grandes conhecedores, mudei a minha percepção sobre os vinhos velhos  e - quem sabe? - talvez a idade tenha também tido influência...

No Méson Andaluz o Amigo Sr Almeida guarda-me religiosamente um Albariño Rias Bajas dos anos 90 , que por estar demasiado amarelo na cor e com os sabores já extraordinariamente maduros constuma ser rejeitado pela "malta" refeiçoeira. É divinal a acompanhar pratos um pouco mais puxados ou até com o Pata Negra cortado no momento.

Pois lá na nossa adega de granito abri 4 garrafas das pequenas - a maioria dos vinhos que lá estão encontram-se em Magnum, mas essas serão as últimas a abrir - que já me pareciam começar a perder algum conteúdo pelas rolhas.

Vinhos perfeitamente normais E BARATOS!

Calheiros Cruz Tinto do Douro, colheita do ano de 1997, engarrafado para o Pingo Doce e Caves Aliança Tinto de Baga da Bairrada de 1995, engarrafado para o Fórum Prior do Crato (que saudades Amigo Chambel!).

Excelentes ambos!  Mais evoluído o Baga (quem diria) nas ainda igualmente bebível e com os temíveis taninos da casta perfeitamente domados. Um prazer bebê-lo com o nosso cabrito assado no forno.

Mas a estrela da "saison" foi o Calheiros da Cruz. Com dois lombos de porco alentejano de Ourique fez maravilhas! Muito bom! Talvez melhor do que na altura em que o comprei, embora tenha de confessar que as memórias enológicas de há 15 anos atrás estejam meio desvanecidas...

Vinhos que, quando foram comprados, teriam custado para aí 2 euros ou 3 euros cada garrafa... Claro que houve que esperar 15 anos (ou mais) para darem esta prova qualitativa... Quem terá paciência? E os riscos de se estragar o vinho?

Concordo que todas estas são variáveis que temos de enfiar na velha equação que equilibra a probabilidade do sucesso com a do insucesso... Mas para quem arrisca e ganha, que prazer!

Foi Milagre da Senhora Santa Eufémia, nosso orago local? Isso não sei.

Mas que a experiência contribuiu muito para robustecer esta nova opinião que tenho sobre vinhos já com uma certa maturidade, disso podem ter a certeza!!

Nenhum comentário: