quinta-feira, setembro 08, 2011

Poemas de 5ª Feira (porque na sexta vou a Braga)

Braga do nosso Minho.. Há lá o Congresso e o Senhorio é Delegado. Oportunidade para o Blogger fazer de motorista e ir a Braga. Depois contarei como foi...

Então aqui vão dois poemas para nos dispor bem. Num fim de semana que se adivinha de Sol e Mar desejos de boa praia a todos os leitores!

Nesta jóia de Millor Fernandes vive o absurdo daqueles que tudo têm  mas sempre encontram motivo para se sentirem infelizes... Só a sarna lhes falta.

Poeminha de Insatisfação Absoluta

O que me dói
É que quando está tudo acabado
Pronto pronto
Não há nada acabado
Nem pronto pronto
Pintou-me a casa toda
Está tudo limpado
O armário fechado
A roupa arrumada
Tudo belo, perfeito.
E no mesmo instante
Em que aperfeiçoamos a perfeição
Uma lasca diminuta, ténue, microscópica,
Não sei onde,
Está começando
Na pintura da casa
E as traças, não sei onde,
Estão batendo asas
E a poeira, em geral, está caindo invisível,
E a ferrugem está comendo não sei quê
E não há jeito de parar.

Millôr Fernandes, in "Pif-Paf"

Exdistem criaturas que por muito banho de boutique e aulas de etiqueta que venham a ter nunca se "alevantam"  da condição de Jumentos (com desculpas aos jumentos!)...

Com a Fortuna não Perde o Ser de Besta

Na carreira veloz, a deusa cega
Lança às vezes a mão a um feio mono
E o sobe, num instante, a um coche, a um trono,
Onde a Virtude com trabalho chega.

Porém se, louca, num jumento pega,
Por mais que o erga não lhe dá abono:
Bem se vê que foi sonho de seu sono,
Quando a vara ou bastão ela lhe entrega.

Pouco importa adornar asno casmurro
Com jaezes reais, mantas de festa,
Se a conhecer se dá no rouco zurro.

Quem, no berço, por vil se manifesta,
Quem nele baixo foi, quem nace burro,
Co'a Fortuna não perde o ser de besta.

Francisco Joaquim Bingre, in 'Sonetos'



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