sexta-feira, setembro 02, 2011

Para Descansar a Vista

O que vou publicar que nos alegre? Está difícil... O ideal seria dar a notícia que ganhámos todos o Euromilhões, o suficiente a cada um para poder encarar o futuro sem preocupações.

Como não é possível (hélas...) só actuando pelo lado onírico. Vamos imaginando que nos acontecem coisas boas e pode ser que o Universo se digne concordar com tais ambições, mesmo que o dito Universo não tenha lido  " O Segredo".

"Se visualizar na sua mente aquilo que deseja e fizer disso o seu pensamento dominante, atrairá o que quer para a sua vida"

Era bom era... Eu próprio há mais de 20 anos que visualiso na minha mente uma ilha tropical sem furacões, areia branca com palmeiras e água morna a perder de vista, companhia do melhor (claro!) e mais umas coisinhas... Pois até hoje Nada, Nadinha mesmo. O mais próximo que estive disso foi  uma semanita nas Seychelles a pisar coral e com água pelo umbigo, já que lá no sítio onde se podia nadar já nadavam outras bichezas com barbatanas triangulares (Porra!).  

Mas pode ser que a tal Ilha apareça amanhã, ou no dia a seguir...

Por isso, para manterem bem desperto o Desejo (não é só esse Gulosos!!) , aqui vão poemas:



Paisagem

Desejei-te pinheiro à beira-mar
para fixar o teu perfil exacto.

Desejei-te encerrada num retrato
para poder-te contemplar.

Desejei que tu fosses sombra e folhas
no limite sereno dessa praia.

E desejei: «Que nada me distraia
dos horizontes que tu olhas!»

Mas frágil e humano grão de areia
não me detive à tua sombra esguia.

(Insatisfeito, um corpo rodopia
na solidão que te rodeia.)

David Mourão-Ferreira, in "A Secreta Viagem"

Não Desejemos, Lídia, Nesta Hora

Ténue, como se de Éolo a esquecessem,
A brisa da manhã titila o campo,
E há começo do sol.

Não desejemos, Lídia, nesta hora
Mais sol do que ela, nem mais alta brisa
Que a que é pequena e existe.

Ricardo Reis, in "Odes"
(Heterónimo de Fernando Pessoa)

Ansiedade

Quero compor um poema
onde fremente
cante a vida
das florestas das águas e dos ventos.

Que o meu canto seja
no meio do temporal
uma chicotada de vento
que estremeça as estrelas
desfaça mitos
e rasgue nevoeiros — escancarando sóis!

Manuel da Fonseca, in "Poemas Dispersos"

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