O Amigo Calado ( e bem) faz referência no local do costume ao facto de estarmos a denegrir demasiado a Grécia e o seu Povo nestes últimos tempos de desmandos, acabando eu próprio por comparar o estranho caso do Dr Alberto João aos governantes gregos de há uns anos atrás.
Claro que neste tipo de análises meio cómicas o que se compara não são os Povos, as mais das vezes alheios à agiotagem e canalhice que se passa à sua volta. O que se pode e deve comparar e vilificar são os comportamentos dos seus maiores (com atitudes cada vez menores).
A ineficácia da actuação das autoridades fiscais gregas permitia , desde tempos imemoriais, que os detentores de capital - fosse em dinheiro ou em bens imóveis - fugissem alegremente ao pagamento dos impostos devidos. As grandes fortunas já não estão hoje na Grécia, mas mesmo quando lá estavam encontravam formas ardilosas de não contribuirem para o bem público. Nada de novo, dirão os leitores. Tudo isso se passava em mais do que um País europeu. Vejam-se os escândalos da fuga ao fisco de certas "rock stars" ou realizadores de cinema na Escandinávia, por exemplo.
O que torna a Grécia "especial" neste mau sentido é o facto dessa "impunidade fiscal" dos Onassis e Niarchos ter lentamente passado para a restante sociedade civil como "norma aceitável" do ponto de vista ético. Claro que atrás disso vinha a corrupção dos funcionários públicos, sem uma não poderia existir a outra! Estimava-se em 2000 que a economia paralela grega representava já 30% do Produto Interno Bruto!!
E sem nunca ter existido uma modernização do aparelho fiscal do Estado que contrariasse este estado de coisas é perfeitamente aceitável que essa percentagem ainda mais tenha subido!
Aqui em Portugal não estivémos assim tão longe desse precipício. Ainda me lembro dos tempos antes da reforma fiscal do Dr. Paulo Macedo (honra lhe seja feita). Antes da generalização da computarização e cruzamento dos dados dos contribuintes - envolvendo contas bancárias, fisco e registos de propriedades - era certo e sabido que o biscateiro era rei aqui no burgo.
Há 25 anos atrás, quando renovei a cozinha da casa velha, apareceu-me lá um senhor que se deslocava de Alfa Romeu e que se propunha "tomar conta da Obra", fazer o trabalho todo, de pedreiro, ladrilhador, canalizador e incluindo os electrodomésticos, sem qualquer tipo de factura. Seriam, se eu tivesse aceitado, cerca de 4 mil contos na moeda antiga... Vivia bem melhor do que eu. Pudera! O filho era mecânico na FIAT e trabalhava todos os fds e fora de horas numa garagem de vão de escada, também "à solta"... E eu dava aulas à noite, era Assistente na Faculdade, Gestor de Produto nos Correios e ainda fazia análises de viabilidade de investimentos para empréstimos bancários...Trabalhava que me desunhava. Mas pagava todos os impostos devidos.
Hoje ainda existem "peças" destas, mas vivem com muito mais dificuldades, são clandestinos. Pode ser que esta Crise potencie outra vez o seu rejuvenescimento, mas não há dúvida nenhuma que a teia da lei já não é o que era nos anos 80 do século passado.
Este foi , e é, o grande problema da Grécia: Por muito que procure, apenas nos rendimentos do trabalho por conta de outrém encontra água para levar ao moinho do Orçamento do Estado! Mas se cava mais nessa mina acaba por matar a galinha dos ovos de ouro... Já não deve haver mais classe média para esbulhar.
Portugal tem que aprender com esta história de terror. E se do ponto de vista da dimensão da economia paralela não temos comparação com a Hélade, já no que respeita à contribuição das nossas fortunas para amenizar a crise vou ali e já venho... Não se nota nada de novo!
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