quarta-feira, setembro 07, 2011

O inefável "Feitor dos Ricos" ontem na TV

Começo por tirar o chapéu ao Dr. Manuel Alegre, agora que se aproxima o Congresso do PS, pelo lúcido artigo de opinião que fez para o "Público" de hoje. Cunha aí a frase "Feitor dos Ricos", atribuída ao Capitão Varela Gomes, o herói da Revolta de 61 contra Salazar, quando explicava no Tribunal que o condenou aquilo que os Governos estariam a fazer em Portugal há já muito tempo, demasiado tempo...

Pois ao nosso Ministro das Finanças, Dr. Vitor Gaspar, assenta-lhe que nem uma luva o epíteto. Aliás, os dois: "Inefável" e "Feitor dos Ricos"...

Inefável,  significa o que não pode ser expresso verbalmente e é um termo utilizado para identificar algo de origem divina ou transcendental,  com atributos de beleza e perfeição tão superiores aos níveis terrenos que não pode ser expresso em palavras humanas...

Ficámos a saber pela boca do Sr Ministro a razão pela qual não se dividiu o sacrifício do ajuste orçamental por ricos e pobres. E foi ela:.

"Porque seria muito complicado tecnicamente criar as condições fiscais para onerar esses rendimentos" (!!!????)

Uma questão "técnica" ... Estão a ver não é? Como havia pressa em facturar e era "complicado" estudar a forma de ir ao bolso dos "Amorins",  toca a esportular o Zé Povo.

Esses, os pés rapados,  comem e calam, nunca se queixam, são bombos de festa e verbos de encher, autênticos "punching bags" da tecnocracia reinante.

Ora isto que se ouve e vê (e de passagem celebro a candura do Homem Gaspar, que de facto nem sabe mentir, tal a distância - medida em Eons, que é a maior divisão do tempo geológico - que o afasta da realidade nacional) é inaudito e perigoso.

Então foi porque não houve "tempo para estudar outras opções" que se lixaram os tristes?  Foi porque era "tecnicamente difícil" encontrar uma solução para ir obter impostos dos rendimentos dos poderosos?

Mas hoje em dia a malta que tem depósitos a prazo já paga na fonte os tais 21,5% sobre os juros ... Quão difícil seria estabelecer, por exemplo, uma taxa adicional de mais uns 5% para juros de depósitos superiores a 500 000 euros?

Assim não vamos a lado nenhum. Ou , por outro lado, vamos sim senhor, mas é a caminho de uma confrontação perfeitamente evitável entre estratos sociais...

E receia o "Primeiro" os tais Tumultos... Pois deve recear... Com estas medidas criadas de propósito para matar a classe média e apertar as costelas dos pobres...

O que vale é que o País não é nenhuma Islândia!  Hélas... Quem é  que está a ver este Portugal a pôr em tribunal os chefes dos governos anteriores que deixaram as Finanças Públicas neste estado?  Pois na Islândia o 1º Ministro anterior está já a responder por isso...

Vão lá à InterNet ver como os islandeses mandaram o FMI às malvas e obrigaram toda a gente a pagar a crise... Começando pelos detentores das maiores fortunas. E estão a conseguir endireitar a economia do país, partindo de uma situação bem pior do que a nossa.

Não amigos leitores, Portugal (ainda) não é nenhuma Islândia...Infelizmente para nós todos e felizmente para quem nos Governa, desde a famigerada Troika até aos Feitores dos Ricos que empunham o pau de marmeleiro.

Nota 1: Os juros pagos pelas entidades bancárias estão sujeitos a IRS, à taxa de 21,5%. O próprio banco deduz o imposto aos juros.
Caso o depósito seja constituído por mais de 5 e menos de 8 anos, apenas 80% dos juros obtidos na data do vencimento estão sujeitos a IRS.
Caso o depósito seja constituído por mais de 8 anos, apenas 40% dos juros obtidos pagam imposto. Em qualquer das situações o IRS devido é retido na fonte sobre o valor sujeito, à taxa de 21,5%. (Fonte: Millenium BCP)

Nota 2: fotografia do Jogo do Pau por cortesia do rancho folclórico "Rosas do Lena".

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