sexta-feira, dezembro 10, 2010

Para Descansar A Vista

Em continuada homenagem ao decano dos realizadores aqui vão poemas sobre a Velhice.

 E, mesmo que como meu Mestre Torga diz "não haja frutos dessa Primavera",  melhor é (sempre!) amar tardiamente do que nunca ter verdadeiramente amado.




































Alma Serena

Alma serena, a consciência pura,
assim eu quero a vida que me resta.
Saudade não é dor nem amargura,
dilui-se ao longe a derradeira festa.

Não me tentam as rotas da aventura,
agora sei que a minha estrada é esta:
difícil de subir, áspera e dura,
mas branca a urze, de oiro puro a giesta.

Assim meu canto fácil de entender,
como chuva a cair, planta a nascer,
como raiz na terra, água corrente.

Tão fácil o difícil verso obscuro!
Eu não canto, porém, atrás dum muro,
eu canto ao sol e para toda a gente.

Fernanda de Castro, in "Ronda das Horas Lentas"


Frustração

Foi bonito
O meu sonho de amor.
Floriram em redor
Todos os campos em pousio.

Um sol de Abril brilhou em pleno estio,
Lavado e promissor.

Só que não houve frutos
Dessa primavera.

A vida disse que era
Tarde demais.

E que as paixões tardias
São ironias
Dos deuses desleais.

Miguel Torga, in 'Diário XV'

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