quinta-feira, dezembro 09, 2010

Corrupção e Economia Paralela

É hoje que se celebra o Dia Mundial contra a Corrupção.  No mesmo dia em que a Universidade do Porto (Faculdade de Economia) publica uma Tese sobre Economia Paralela em Portugal, onde se observa que a mesma já é responsável por cerca de 25 % do PIB nacional. Se este tiver sido mais ou menos 167 mil milhões de euros (em 2009) teremos que a economia subterrânea já representa  41,75 mil milhões de euros... É Muito! É enorme!!

A tributação fiscal desta economia daria para pagar grande parte dos efeitos perversos desta Crise em que estamos enfiados...

Destes quase 42 mil milhões de euros, a grande maioria diz respeito a Serviços. Os "biscates" lá em casa, as reparações do automóvel sem recibo ou factura, os almoços também sem factura, a consulta médica sem recibo, etc...

Toda a actividade resultante da economia paralela tem a ver com a Corrupção no sentido lato. Se pagamos ao "artista" que lá foi ver o esquentador sem factura, estamos a ser corruptos passivos, porque ao roubar a fazenda pública estamos em grande medida a roubar a Assistência Social, a tirar dinheiro ao Serviço Nacional de Saúde, a impedir o regular pagamento das Bolsas de Estudo aos estudantes pobres,  e por aí fora .

Porque motivo existe então - e com tal dimensão, a maior de todos os Países da UE - esta Economia paralela no nosso País?

Em primeiro lugar porque (à primeira vista) sai mais barato a todos: a quem paga (porque paga menos) e a quem recebe (porque recebe livre de impostos). Em segundo lugar porque deixou de haver confiança nos poderes constituídos e na sua capacidade para "tratarem bem" das nossas poupanças que têm a forma de impostos. Muito boa gente receará que o dinheiro dos seus Impostos, em vez de servir para o que deveria , seja gasto em utilizações pouco aceitáveis , como as tais "grandes obras do regime".

E a economia paralela vai aumentar! Porque é dos livros que estas actividades florescem em situações de crise, onde aperta o cinto o cliente e prospera o biscateiro. Onde aumenta a carga fiscal, que torna o pagador "chico esperto" e o tal cliente conivente porque não pode abater ao seu IRS as tais despesazinhas  ...

Dizem alguns economistas  que a economia paralela não significa apenas atraso e negatividade... Terá, por exemplo, um efeito positivo na reanimação do consumo (restaurantes,bares e discotecas,  electrónica de consumo, viagens e mercado automóvel).  Em Itália ficou famosa a afirmação que teve por base a situação em Nápoles, há alguns anos atrás, segundo a qual a cidade "vivia" em grande parte da economia paralela associada ao turismo. E permitam-me que diga - no nosso Algarve?  Quantos quartos particulares serão pagos com recibo, nos meses de Verão?

Pode ser  que na Suécia ou na Dinamarca esta actividade criminosa - fruto da aplicação e gestão honrada e criteriosa dos dinheiros públicos que costuma ser feita nesses países - tenha um ónus de permanente negatividade para o cidadão local. Mas não é esse o caso aqui em Portugal , onde o cidadão sempre se habituou à economia do "jeitinho",  da "cunhazinha", do "desenrascanço".

Portugal é o País onde será preferível prevaricar para depois (muito depois) pagar a multa, do que fazer bem e honradamente desde o início. É ,no fim de contas, o País onde o opróbio social talvez esteja mais associado a quem cumpre zelosamente os seus deveres, do que aos outros, aos que se "sabem safar"...

Corrupção não é apenas economia paralela. É também e sobretudo um sinal de pouca civilização.

Agora, como muito bem diz o ditado antigo "É de cima que deve vir o Exemplo"... E, de momento, quanto a isso acho que estamos conversados.

Um comentário:

João disse...

Achei este artigo interessante, sobre um estudo feito sobre a corrupção nos últimos 3 anos. 83 pessoas acham que a corrupção aumentou em Portugal.
http://dinheiroactual.virtualtechfor.com/2010/12/10/corrupcao-em-portugal/vil