Em minha casa o Cozido era feito tradicionalmente ao Domingo , e a sua preparação começava logo na véspera, com a compra das couves,cenouras, nabos e das carnes secas e salgadas. A minha Santa cá de baixo nunca foi grande artista em frente às panelas (nem grande , nem pequena...) pelo que esta tarefa do cozido era mais para homens.
Eu, ainda antes de casar, o que sabia fazer na cozinha era espreitar para ver se ainda demorava muito e ...sentar-me à mesa para comer. Infelizmente (pelas causas da mudança) quando enviuvei tive que aprender a fazer de tudo perante o "trilema" de me viciar em hamburgueres ou frango assado, levar a "firma à falência" com a frequência dos restaurantes ou ...passar fome. Eu e o meu Senhorio que, como bem sabem todos os que o conhecem, para comer não tem pruridos...
Meu Pai sabia quase tudo que metesse comeres e beberes desde a respectiva génese, ou não fosse ele um apaixonado por todas as coisas boas da vida, tendo-a vivido plenamente até mesmo ao final precoce dos seus dias.
Era ele que comandava as hostes. Comprava, temperava, partia, cozia, retirava das panelas e aconchegava nas travessas.
Um único problema: só sabia trabalhar para audiências de um certo tamanho... Cozido que ele fizesse dava à vontade para 11 ou 12 pessoas... Lá em casa éramos 3...
Parece , ou melhor, dizem algumas línguas maldosas, que eu herdei essa tendência exagerática dos genes paternais. Outras línguas dizem que não foi bem isso, Como aprendi muito do que sei a ver, lá na Beira Alta, fazer comida para os "batalhões" de familiares e trabalhadores da quinta, ficou a mão feita àquelas quantidades... Mas adiante que não estamos em Amarante.
Vem toda esta conversa para explicar que deram à minha Santa (cá de baixo) súbitas vontades de comer cozido neste fim-de-semana. Não me fica bem (sobretudo actualmente!!) ignorar estas ânsias. Temos que ter em atenção o sarilho que por aí virá: menos 10% no ordenado, rebaixa dos plafonds de gasóleo e de telemóvel, as despesas com a mula do senhorio , etc, etc... Não Senhores e Amigos, não estamos , decididamente, em tempos de fazer impacientar a Senhora. No fim de contas, quem nos diz que não teremos de ir lá beber à fonte em caso de necessidade?
O problema é que Ela, em lhe dando estas ânsias, passa de imediato à concretização, tal o Hulk em busca da baliza contrária (Ai, ai, que ainda me doem as costas dos 5 a zero). Vai daí pôe-se em campo e quando menos damos por isso já tem o frigorífico atascado das viandas...
Mas como o Artista sou eu, e tal como todos os artistas só gosto de mexer em materiais que eu escolho, já estão a ver o que se vai passar... Fica a casa a abarrotar com aquilo que Ela comprou e aquilo que eu próprio entendo dever ser , de facto, utilizado...Nem panelas tenho onde caiba tudo, dada a tal tendência "exagerática" pelas quantidades.
A verdadeira Arte consiste em fazer o cozido à minha maneira, com aquilo que eu comprar mesmo na véspera, dando a ideia que estamos a comer aquilo que Ela comprou... Tão a ver?
Para concretizar tal desiderato algumas regras têm de se cumprir:
- Comprar apenas à última hora as minhas coisas, para não dar nenhuma ideia da maldade que se vai concretizar. A Praça de Cascais que abre cedo que se farta, ao Sábado, é bom paradouro para estas furtivas compras.
- Fazer desaparecer as "outras coisas" que já lá estavam em casa. Banco Alimentar, ou, em desespero, esquecer-me dos sacos plásticos nalgum local onde tenho a certeza que há necessidades. E infelizmente conheço vários...
-Por fim, e é o mais difícil, convencer a Senhora que faço tudo sózinho e que "não vale a pena ela lá aparecer em casa antes da 1 da tarde"... Isto é que se torna mais complicado... Graças a Deus há a missinha de Domingo! Grande aliada nesta contenda.
E pronto! A Táctica está traçada, os planos foram feitos, resta a concretização (outra vez o Hulk NÃO Xiça!!).
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