quinta-feira, dezembro 31, 2009

A "Passagem" do Ano



Está um frio do caraças nesta altura e o granizo bate nos vidros que até nos faz lembrar o velho poema (alterado a gosto do artista):

Bate leve, levemente
Como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Só se for o gajo das Finanças
Que o Cobrador do Fraque não bate assim...

Mas adiante. Ainda ontem me estava a queixar que não fazia frio e que me chateava estar aqui no cume mais alto da continental portugalidade como se estivesse em remanso nalguma Veneza do Adriático... eis senão quando os deuses me ouviram - ou me leram, o que de repente me fez pensar para quem ando a escrever neste Blog - e vai daí não foram de modas e desataram ao granizado cá para baixo como quem acerta no palhaço da feira.

Estamos a olhar para a TV , passando de canal, algo incrédulos com o que o português médio sem acesso ao cabo tem de gramar todos os santos dias. A escolha parece ser entre um obsceno programa com criancinhas a cantar, ou um tal de "Ìdolos" , ou ainda mais um programa com gente a cantar ao desafio (ou lá o que seja). Valha-nos a "2" . Nem sei o que passará hoje, mas TEM de ser melhor do que isto!

O Portugal profundo das pessoas que ainda não aderiram à ZON ou à MEO deve estar cada vez mais fora de fase com o "outro" país, aquele em que vivem e legislam os Srs Ministros ... E onde  as élites (para o mal e para o bem) se passeiam com os seus próprios problemas, tão diferentes destes aqui de cima, da Beira Alta agrícola e sem industria,  nem fábricas, nem empregos...

Estamos a beber  Espumante. Começámos pelo Cava Juvé i Camps e avançamos depois para o  de moscatel galega da Casa de Sarmento,  acompanhado por uns foies gras, patês e carnes frias andaluzas, manteiga de ovelha, queijo da serra curado e de entorna, salmão da Irlanda fumado; Pão de centeio local, quentinho do forno. Tudo isto em antecipação de chegar a "Passagem do ano", altura em que se metem à boca  as doze passas e se bebe o último flute, antes de nos enfiarmos nos lençóis...

Deprimente?

Para alguns pode assim parecer. Eu, do alto dos meus 54 anos, só me apetece dizer: e que  o ano que vem seja, pelo menos, tão bom como este, com a mesma mesa farta e espumante à maneira.

É que as coisas não estão fáceis. E para quem pensa o contrário talvez faça falta um estágio aqui no País real, onde se medem as venturas do dia a dia conforme o almoçito tenha sido de sandwichs ou de comida de prato...

Estou nesta noite meio "chôcho",  é verdade. Amanhã prometo que farei do 1º Post de 2010 um grito de boa disposição e de esperança para todos os leitores.

Só amanhã...

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