sexta-feira, dezembro 11, 2009

Para Descansar a Vista

















Vamos ao Alentejo, terra de poetas assombrados pela planície imensa e pelos horizontes caiados, Vamos descobrir José Duro, o "decadente dos decadentes", mais sombrio ainda que António Nobre, e deliciarmo-nos
com esta sua introspecção poética:

Em Busca

Ponho os olhos em mim, como se olhasse um estranho,
E choro de me ver tão outro, tão mudado…
Sem desvendar a causa, o íntimo cuidado
Que sofro do meu mal — o mal de que provenho.

Já não sou aquele Eu do tempo que é passado,
Pastor das ilusões perdi o meu rebanho,
Não sei do meu amor, saúde não na tenho,
E a vida sem saúde é um sofrer dobrado.

A minh’alma rasgou-ma o trágico Desgosto
Nas silvas do abandono, à hora do sol-posto,
Quando o azul começa a diluir-se em astros…

E à beira do caminho, até lá muito longe,
Como um mendigo só, como um sombrio monge,
Anda o meu coração em busca dos seus rastros…

José Duro

Da Infopédia (Enciclopédia on line) tirei esta bio: O poeta decadentista José Duro nasceu em 1875, em Portalegre, e morreu em 1899, em Lisboa. Viveu uma adolescência triste e conturbada, marcada pela tuberculose, doença que o fez sempre viver entre a vida e a morte. Foi aluno da Escola Politécnica de Lisboa e desde cedo começou a frequentar as altas rodas literárias, onde escritores como Victor Hugo, Cesário Verde, Antero de Quental e Charles Baudelaire eram reconhecidos como as grandes personagens literárias da época. Também os jovens simbolistas de Coimbra, como António Nobre, se lhe afiguravam dignos de admiração. De todos estes escritores e poetas, José Duro recebeu profundas influências, as quais se manifestam sob diversas formas na sua escrita. A obra de José Duro reflecte o seu estado de espírito sombrio, que a doença agravava, bem como a sua inserção nas estéticas decadentistas do final do século - das quais terá realizado, porventura, a concretização mais negativista em Portugal. A prostituição, a morte, a tuberculose e o desespero são os temas fulcrais da sua poesia.
Nota: Fotografia de José Luis Mendes.

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