quarta-feira, setembro 05, 2007

Uma história de terror


O velho escritor e ensaísta Amos Oz (nascido em Jerusalém mas uma voz lúcida e crítica em relação quer ao Judaísmo extremo quer ao Islamismo do mesmo pendor) escreveu alguns ensaios sobre (contra ) o que ele designa por "Fanatismo" tendo como pano de fundo os actuais acontecimentos do Médio Oriente, as acções demenciais dos "ultras" isdlâmicos e a cruzada norte-americana contra o Terrorismo.

Não vem agora ao caso comentar esses ensaios ( mas vale a pena lê-los se puderem) mas sim "transportar" este "Fanatismo" para o Portugal dos nossos dias, para demonstrar como a capa de civilização e de moderação que reveste a nossa própria sociedade ocidental, mediterrânica de suaves e bons costumes, não é mais do que um fino papel de celofane prestes a rasgar-se ao mínimo sobressalto.

Num dia destes - ainda em férias - e tendo-me levantado cedo como de costume, já estava às 7.20H da manhã à espera da abertura da Versailles ali na Av. da República da nossa Lisboa, mesmo no "core" da dita civilização lusíada dos tais "brandos" costumes.

Está o começo da Av República em obras do Metro, segundo parece para ampliar a Estação do Saldanha, o que limita a circulação naquela zona e - obviamente - reduz o espaço para estacionamento na lateral da mesma Avenida.

Os Fornecedores e Clientes Grossistas da Versailles começam a respectiva actividade muito mais cedo do que os Clientes normais, estacionando por isso os carros que utilizam nos poucos espaços disponíveis à frente da Pastelaria.

Um desses carros - deixado momentâneamento aberto para facilitar as descargas - foi um pouco "apertado" por outra viatura de um dos tais Clientes normais dos pequenos almoços. Contudo poderia perfeitamente fazer a manobra, apenas com mais uma ou duas voltas de volante.

O que se passou a seguir foi edificante: o proprietário do veículo comercial começou por dar uma pancada de marcha-atrás na frente do carro que o apertava. Arrancou, deu a volta ao quarteirão e... voltou a bater - agora na traseira - no mesmo carro!!

Abriu a janela e disse alto: " - Isto é p'ra ver se para a próxima respeitam quem trabalha!"

E arrancou...

É claro que foi identificada a matrícula, é claro que era pessoa conhecida na Versailles (aliás tal como o proprietário do veículo acidentado) mas julgam que se importou? Tanto como eu, que vi tudo de boca aberta...

Não estamos assim tão longe da barbárie. Venha por aí um demagogo "educador da classe operária" à maneira e logo lhes digo se não estaremos a um passo de retomar o velho hábito ibérico de degolar à navalhada quem não é da nossa opinião...

E olhem que essa cena da degola não se passou apenas na Idade Média, mas também durante a Guerra Civil, e dos dois lados da Fronteira... Há ainda portugueses e espanhóis vivos que se lembram bem.


A Alma Ausente (excerto) - Frederico Garcia Lorca

No te conoce el toro ni la higuera, ni caballos ni hormigas de tu casa.
No te conoce tu recuerdo mudo porque te has muerto para siempre.

No te conoce el lomo de la piedra, ni el raso negro donde te destrozas.
No te conoce tu recuerdo mudo porque te has muerto para siempre.

El otoño vendrá con caracolas, uva de niebla y montes agrupados, pero nadie querrá mirar tus ojos porque te has muerto para siempre.

Porque te has muerto para siempre, como todos los muertos de la Tierra, como todos los muertos que se olvidan en un montón de perros apagados.

No te conoce nadie. No. Pero yo te canto. Yo canto para luego tu perfil y tu gracia. La madurez insigne de tu conocimiento. Tu apetencia de muerte y el gusto de su boca. La tristeza que tuvo tu valiente alegría.

Tardará mucho tiempo en nacer, si es que nace, un andaluz tan claro, tan rico de aventura. Yo canto su elegancia con palabras que gimen y recuerdo una brisa triste por los olivos.



Nenhum comentário: