O meu velho mestre Professor Pina Prata, catedrático de Psicologia Social no ISCTE, costumava começar as suas aulas com uma anedota.
Pedia a um aluno que olhasse pela janela e perguntava-lhe o que via.
O aluno lá ia dizendo: "-Vejo o céu, vejo as árvores..."
E o Professor repetia " E não vê mais nada!?"
Ao que o aluno, já um pouco incomodado retorquia " - E está ali o Sr. Belinha (era um contínuo, amabilíssimo por sinal) a falar com uns professores. E não vejo mais nada!"
E rematava o Pina Prata: "-Mas antes de tudo isso o Senhor não reparou que viu a própria janela e o respectivo vidro!?"
Esta noção do que alguns (que para tal estão treinados) "vêem" e outros não, sempre me incomodou um pouco. Dá-me a ideia que há "peritos" (digamos assim) que aproveitam mais certos aspectos da vida do que as pessoas "normais" ...
É óbvio que algumas destas percepções especializadas são pagas pelos mortais comuns. E algumas delas bem caras... É o caso dos Médicos Internistas ou Generalistas que diagnosticam o que vai cá por dentro; o caso dos Mecânicos de automóveis ; para já não falar de um Inspector da Judiciária treinado para certo tipo de detalhes, etc, etc...
Mas o que dá que pensar não são tanto estas "visões periciais" sem as quais não podemos já viver, mas sim a diferente profundidade com que todos nós percepcionamos os mesmos acontecimentos ou factos da vida normais, consoante a importância relativa que lhes damos.
A senhora com quem esbarro no super-mercado pode ser feia, bonita ou normal, mas salvo se a respectiva aparência se situar nalgum destes extremos é duvidoso que lhe dê mais alguns segundos de atenção depois do inevitável "Peço desculpa! ". Agora imaginem que a mesma senhora leva um encontrão de um (ou uma) profissional de estética. É normal que a "cara" da vítima seja escrutinada pelo profissional de uma forma que eu não sei nem estou habituado a fazer.
O mendigo que pede na rua é ignorado por uns e acarinhado por outros . Porquê? Todos o vêem ou será invisível para alguns?
Existem pessoas que vêem mais do que outras - e não estou a falar de dioptrias! Há quem tenha (como dizer?) a habilidade, o poder, o dom, (ou até direi em aguns casos:a maldição) de ver para além do óbvio.
O aspecto material que para a maioria de nós é tudo o que apercebemos, para alguns dotados será uma espécie de "roupagem" do espírito, ao qual podem ter acesso em algumas circunstâncias. Muitas vezes chamamos a essas pessoas especiais "visionários" - em tempos idos seriam "profetas" - e não estamos longe da verdade.
Tudo isto a propósito da visita do Dalai-Lama a Portugal - talvez um dos mais "visionários " líderes espirituais do mundo actual - e da quase invisibilidade que a respectiva presença assumiu para todos os nossos Governantes, relações com a República Popular da China "obligent" claro está...
Com uma cobertura mediática - honra lhe seja feita - muito completa, onde as TV´s e sobretudo a SIC-Notícias (hoje por hoje talvez o melhor canal noticioso nacional ) se fizeram eco das suas palavras simples e directas, não deixou de ser estranho a ausência e distanciamento dos poderes públicos a esta presença luminosa em solo luso.
Ontem à noite, antes de partir, disse o Dalai-Lama no Pavilhão Atlântico: "- Não esperem que eu faça milagres nem que esteja aqui para vos converter!! A minha mensagem é de fraternidade universal"
Este "Mensagem" tem que se lhe diga... Estamos tão longe desse objectivo hoje como estaríamos há 500 anos atrás, na época da Inquisição.
O que é que aprendemos desde essa altura ?
Olhando bem para o que se passa no mundo até dá para duvidar da metempsicose e do percurso espiritual de aperfeiçoamento que esta implica... Ou então, como as alterações biológicas, estas mudanças na alma da Pangeia devem durar milhões de anos...
Esperemos que - entretanto - não dê a Humanidade cabo dela própria, resolvendo o assunto da Eternidade de uma vez por todas e finalmente!
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