Realizou a DECO um estudo sobre as condições em que alunos portugueses viviam em 20 escolas nacionais, tendo chegado à conclusão que na maioria das mesmas existiam deficiências de climatização e dificuldades em respirar, enquanto que em outras havia indícios de que as lajes de separação de andares eram isoladas com base em amianto, conhecida substância cancerígena.
Vem imediatamente o Ministério da Educação, ontem à tarde, enviar um comunicado para os MCS onde acusa a DECO de alarmismo e refere não reconhecer competência técnica à DECO para este tipo de estudos e - ainda por cima - salientar que não é com base em análises realizadas em 20 Escolas que se poderá inferir alguma conclusão para um conjunto de 12 000, que são as que de facto existem em território nacional.
Os 30 anos que levo a ensinar estas matérias e a tentar construir Amostras Representativas de certas populações dão-me alguma moralidade para falar sobre este assunto.
Começo por dizer que Amostras Representativas são as não enviezadas, as que são capazes de prever com probabilidade conhecida o comportamento das populações.
Questão - Seriam 20 escolas em 12,000 demasiado poucas para fazer inferências (tirar conclusões) sobre a totalidade da população "Escolas Portuguesas"?
Pergunta muito difícil de responder, como verão.
a) A fracção amostral "20 para 12,000 (0,001667..)" é até muito mais alta do que as fracções amostrais com que normalmente trabalham as Empresas de sondagens ao prever Resultados eleitorais: "1000 para 7 Milhões (0,000142...)" . Isto significa que - contrariamente ao que diz o Ministério - não é pelo nº de Escolas que serviram de Amostra - sem mais - que podemos pôr em causa o Estudo da DECO.
b) Mas... o problema das Amostras pequenas é que são demasiado sujeitas a variações de vício do processo amostral para serem fiáveis.
Isto é, e por exemplo, se tivermos o azar de trabalhar "no campo", na recolha da informação, com algum entrevistador "mal formado" e se for sempre esse a fazer as 20 entrevistas, é certo e sabido que todos os resultados serão negativamente influenciados por essa "má formação".
Por outro lado, se entrevistarmos 1,000 eleitores utilizando 25 entrevistadores, esse risco da "má formação" de algum entrevistador pode influenciar algumas entrevistas, mas será pouco provável - a não ser em casos extremos - que todos os 25 entrevistdores sofram do mesmo vício de formação.
c) Outra coisa: como terão sido seleccionadas as 20 escolas da Amostra da DECO?
Aqui é que está o busílis da questão...
Imaginem que foram escolhidas com base em queixas de alunos (ou dos Pais). Obviamente que estaríamos então a recolher dados de escolas já de si com sintomas de problemas, o que inviabiliza (retira fiabilidade) ao Estudo em termos dele se retirarem conclusões para o Universo das 12,000 Escolas do País.
Muito diferente seria se estas 20 escolas fossem escolhidas aleatoriamente (isto é, à sorte, por um processo de lotaria). Aqui já os respectivos sintomas de má construção ou deficiências de cilmatização poderiam ser indiciantes de situação parecida para o Grupo das 12,000.
d) Mas este raciocínio não acaba aqui e pode ser complicado tanto quanto quisermos. Por exemplo, será que as Escolas do Algarve têm a mesma probabilidade de ter os seus sistemas de aquecimento revistos tantas vezes como as do Norte Transmontano do País? Porventura os Conselhos Directivos de Trás-os-Montes estarão mais atentos ao bom funcionamento dos sistemas de aquecimento do que os de Lagos...
E por aí adiante poderíamos continuar a criar hipóteses de trabalho que ainda mais dificultassem este estudo.
Em conclusão: Se me pedissem a mim para desenhar este Estudo sobre as Escolas eu não teria trabalhado só com uma Amostra de 20. Escolheria no mínimo mais 50 só para Portugal Continental e tentaria segmentar essa Amostra de acordo com a situação geográfica dos estabelecimentos de ensino. Não esquecendo Açores e Madeira, pelo menos uma Escola por cada Ilha das maiores açoreanas e duas ou três para a Madeira . E todas escolhidas à sorte dentro de cada Região.
Depois disto poderíamos falar de conclusões.
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