sexta-feira, julho 27, 2007

A ideia (gastronómica) do Mês


O grande gastrónomo (e criador de vinhos e cozinheiro e muitas coisas mais...) José Bento dos Santos, numa grande entrevista ao Diário de Notícias refere.

" Antigamente ia-se a um grande restaurante para poder provar algo (vinhos) que eles tinham religiosamente guardado e que nos iam saber maravilhosamente com a comida adequada. Hoje em dia vamos a um restaurante comer uma comida mais bonita mas mais simples e o que se pede é a novidade do Vinho: qual foi o último que chegou? É o mundo em que a gente vive..."

Já várias vezes tenho aqui referido isto mesmo. Não só o paladar dos aficionados está mais feito aos vinhos novos e à sua exuberância, poder, corpo e choque olfactivos, como também os Produtores - por motivos de MKT mas também de Rentabilidade - desataram a fazer vinhos que não são para guardar, de consumo imediato.

Hoje estranha-se que o Barca Velha seja posto à venda 6 ou 7 anos depois da Vindima que o viu nascer e, quando o provamos, "parece-nos xôxo ao pé de um Pintas do ano passado".

É o Barca Velha que está "xôxo" ou somos nós que priveligiamos o imediatismo e o agrado fácil dos sabores que nos explodem na boca próprios de um vinho novo (e obviamente muito bem feito)?

Um grande Vinho de Bordéus pode ser apreciado 15 a 20 anos depois da vindima. O mesmo se passa com um Vega Sicília de nuestros hermanos... isto - está claro - dizem os especialistas.

Mas onde está o português apreciador que tem 2000€ para pagar por uma dessas preciosidades e depois criticar?

E quem, depois de pagar essa fortuna, ousaria criticar? Mesmo que (sacrilégio!!) de facto não gostasse?

A beatice reverenda e sabuja existe também no mundo dos vinhos. Nem sempre o Barca Velha será o melhor vinho de Portugal - já aqui o tenho dito - mas que não se utilize essa observação pontual para afirmar que o seu tempo já passou.

Se passou para alguns que desenvolveram o gosto pelos vinhos com outro perfil, não terá passado para outros - como eu - que apreciam sobretudo a variedade de opções.

"Nem sempre Galinha nem sempre Rainha" - como dizia El-Rei D. José ao seu confessor quando este o criticava por umas escapadas conjugais.

Deixem-nos beber hoje um branco amadeirado e encorpado, amanhã um branco leve e frutado, depois um Tinto novo e poderoso e finalmente um Tinto elegante, macio e pleno de aromas terciários!

Na variedade das propostas báquicas está um dos segredos da qualidade de vida.




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