quinta-feira, maio 31, 2007

A Greve Geral (mas pouco...)


Anunciada com laivos de grande acontecimento mediático - e assim retomada por praticamente todos os meios de comunicação social - fazem-se hoje as primeiras análises sobre os efeitos da Greve Geral de 30 de Maio.

Para já parece - e não entrando nas guerras dos números - que o Governo pode sentir-se satisfeito pela relativa placidez do dia de luta sindical.

Ainda que vários organismos públicos ou de capital público se tenham ressentido da ausência dos trabalhadores - com destaque para os Transportes na Cidade de Lisboa - o certo é que no sector privado quase não se deu pela Greve , pelo menos ao nível dos Serviços que é onde o cidadão contribuinte sente mais estas movimentações.

Nos CTT houve repercussões nos Centros de Tratamento (sobretudo em Lisboa - Cabo Ruivo) como seria de esperar, mas não tenho notícias de encerramento de Estações. Provavelmente também os Transportes Postais foram afectados, de novo sem que eu tenha dados concretos sobre os índices dessa afectação. Nos Serviços Centrais onde trabalho não se deu pela paralisação.

Que dizer ? Perdeu o Movimento Sindical força e motivação para organizar estas acções? Terá sido a conotação partidária quase que única (PCP-InterSindical) que prejudicou a abrangência do fenómeno? Teria sido esta uma jornada mais ampla e destacada ao nível da adesão se a UGT tem participado activamente?

Provavelmente não... O Mundo mudou e existem razões para crer - como hoje escrevia o jornalista de serviço ao editorial do Público - que a "real politik" das relações do trabalho (onde a segurança do emprego é ideia-chave) já chegou ao movimento operário, sobretudo nas Empresas Privadas onde o encerramento das fábricas deixou de ser um "papão" à distância para fazer - e infelizmente - parte integrante do dia-a-dia deste País.

Sem motivo para celebrar estarão os leaders sindicais, hoje praticamente obrigados a gerir um descontentamento de funcionalismo público e de colarinhos brancos com medo de perderem os seus privilégios antigos...

Esta Classe Média - a única que o País soube criar nos cem anos de República que já leva - tem como principal empregador o Estado e é por definição pouco geradora de valor (PIB) , atendo-se sobretudo às funções do Ensino, da fiscalização e da manutenção perene dos próprios mecanismos do seu Estado patrão.

Numa sociedade como a nossa onde os Serviços constituem a parte de leão da ocupação laboral - sobretudo nesta época de Verão que por aí se aproxima - será sempre difícil mobilizar trabalhadores para grandes lutas de classe organizadas...

Impera cada vez mais o princípio do "cada um por si" e os "outros que se lixem".

Este princípio costuma ser muito português e vale até ao dia em que o trabalhador é despedido sem justa causa ou por fecho da Empresa onde trabalhava, altura em que - fenómeno também intrinsecamente português - todos se lembram que "existe Sindicato"... Mas já é tarde.

E parece-me que nesta encruzilhada de egoísmos pessoais se perdem princípios importantes, como o da subsidariedade dos fortes e mais ricos em relação aos mais fracos e mais pobres, ou o complementar da solidariedade social, já para não falar da esperança (em mito) de que a sociedade portuguesa possa ser cada vez menos extremada em termos de riqueza.

Pelo contrário, neste Portugal em que os ricos são cada vez mais ricos, onde a Classe Média é funcionária e onde há cada vez mais pobres, os Trabalhadores preferem investir no EuroMilhões em vez de continuar a pagar a quota do sindicato...
"Pelo Sonho é que Vamos"... mas há que manter os pés no chão Camaradas!
E esta hein?

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