Chegámos à hora do almoço, como de costume. A Estrela não tinha neve mas o frio era intenso. Antes de nos atracarmos à Feijoca com pé de porco, menu habitual da chegada, vieram as novidades. O nosso Amigo Fernando, Pastor que costumava utilizar o pasto em frente à casa da quinta tinha tido um AVC. A mulher, desolada, referiu na sua simplicidade que "ainda há menos de um mês tinha ido medir a atenção e que tudo estava bem..."
Por sorte o acidente permite-lhe ainda andar e falar (entaramelado) mas nem pensar em retomar a vida de Pastor e tomar conta das largas dezenas de ovelhas de raça bordalesa pura que faziam um dos melhores queijos que tive ocasião de provar.
Os genes deste Rebanho têm a ver com a família, já que foi o bisavô de meu filho – António Correia – que o começou com duzentas e muitas cabeças, tendo depois e quase no fim da sua longa vida de 96 anos, passado as ovelhas ao pai do Amigo Fernando.
Menos um Pastor e mais um golpe na vida serrana que, tal como ainda a conheci em final dos anos 70, hoje pouco mais é do que uma recordação agradável.
Lembro-me de ter ido apartar borregos para a festa que antecedeu o meu casamento, com o Bisavô Correia, logo pelas 5 horas de uma fria manhã de Novembro, tendo que lidar – a medo – com 5 ou 6 cães da Serra – que não entendiam a intrusão do estranho no meio das suas protegidas... Fiquei imóvel durante largos minutos à espera que o Tio Correia assobiasse àquelas autênticas "mulas", os machos com mais de 70 Kg, que rosnavam para mim e me encostavam a um castanheiro.
O mais velho e poderoso desses cães – o "Leão" (sem piada para os sportinguistas) - foi durante alguns anos o brinquedo do meu filho Diogo, a quem deixava fazer tudo, mesmo puxar-lhe os pelos, sem se importar. Manso e ternurento para os da Casa, mas quanto a estranhos, vou ali e já venho...Morreu já velho, com mais de 17 anos, deitado aos pés do Bisavô Correia.
Era maravilhoso ver como o velho Correia controlava os cães só com o olhar e com o assobio... a um simples sinal um deles ia buscar uma ovelha tresmalhada, e nem era sempre o mesmo cão ou cadela, mas sim o que estava mais perto do acontecimento! Ainda dizem que os Serra da Estrela são estúpidos.... E o Pastor sempre sentado a ver sem se ralar nada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário