quarta-feira, janeiro 03, 2007

Crónicas da Serra 2

Nestes dias de passagem de ano há tempo para experimentar refeições distintas porque temos mais tempo para investir na cozinha, e que bem que lá se está, com a lareira acesa desde manhã e o cheiro bom dos petiscos a apurar ao lume lento.

São de rigor o Cabrito para o almoço da véspera da passagem de ano , assado no forno com todos os preceitos e de que já dei aqui a receita, mas também o Cozido à Serrana do Dia de Ano Novo, feito com tudo o que ainda sobrou do fumeiro do ano passado.

Nos intermezzos e para desenjoar, Pescada Cozida com Grelos de Nabo e Couve Portuguesa, Garoupa no forno com ervilhas tortas salteadas e batatas pequenas, Lulas frescas fritas em alho e malagueta. É claro que a componente marítima da mesa ficou a cargo do vosso Blogger, já que tem Cascais mais tradição piscícola do que Gouveia ou Seia (com excepção das trutas...).


Cozido à Portuguesa derivação Serrana

Mata-se o porco na zona de Seia-Gouveia pelo Carnaval, o que significa que por alturas do Ano Novo já pouco haverá nas arcas do fumeiro tradicional serrano. Ainda por cima estamos em cima da época da Azeitona , onde os Amigos que ajudam na apanha são muitas vezes presenteados com lanches de morcela assada e de farinheira frita com grelos cozidos. Mesmo assim os velhos ditames da economia medieval serrana estimavam a dona de Casa que, por altura do Ano Novo, tivesse tido suficiente previdência ao longo do ano que findava para, ainda assim, apresentar à Família um Almoço de Cozido à Portuguesa no dia de Ano Novo.

Sobraram, no caso em apreço, boas chouriças de carne da mão, farinheiras, paiola do lombo, enchido do bucho, chouriça de cebola e chouriça de sangue fumada (não é a de vinagre que se consome cá mais para baixo, sempre fresca).

Tudo foi posto numa panela eram 9,30H da manhã, acompanhando os enchidos com carne de vaca do chambão e pé de porco aberto ao meio previamente salgado. Passado algum tempo picaram-se com um garfo os chouriços e demais enchidos para evitar "respingar" quando são cortados.

Noutra panela aquecia a água para os Nabos da nossa horta e para as Batatas. Nessa acrescentou-se uma chouriça de carne para dar gosto e esperou-se algum tempo antes de lhe enfiar com as cenouras e as couves portuguesas, tão doces e tenras que não aguentam muito tempo a ferver.

Já quase no fim da cozedura colocaram-se por cima das duas panelas as farinheiras atravessadas por palitos.

A água das carnes foi então utilizada para fazer um arroz: fiz um refogado leve com azeite, cebola e alho. Nesse refogado deitei o conteúdo de uma farinheira já cozida e depois fritei aí directamente o arroz carolino vaporizado. Cozeu em água das carnes, na proporção de dois de água para um de arroz.

E pronto! Cozido para 5 pessoas (que comam bem...): 3 chouriças de carne, 4 farinheiras (uma para o arroz), uma paiola do Lombo, um chouriço de sangue, um de cebola e um do bucho. Dois pés inteiros de porco (com pernil agarrado), 1,5 Kg de Chambão. 5 Nabos grandes, 8 Batatas boas, 3 Couves Portuguesas de grande porte, 6 ou 7 cenouras.

Bom Apetite!

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