O curso superior para os pobres era assim como que uma quimera que se vislumbrava ao longe. Mas muito ao longe mesmo. Porque não era apenas o custo do curso propriamente dito! Era a mesada que significava ter o filho a comer e a dormir na cidade .
Nesse sentido os pobres de Lisboa, Porto ou Coimbra tinham mais sorte...
A saída mais airosa para um rapaz estudioso que tivesse tido o azar de ter nascido na província de pais pobres (e aqui pobres eram todos os que não possuiam terras, fábricas e coisas desse género) era ir para o Seminário e continuar por lá os estudos.
Claro que havia sempre a "outra" saída: transformar o "puto" num Eusébio da Marmeleira. Metê-lo a jogar nos campeonatos regionais à espera que algum olheiro reparasse nele.
Levá-lo a treinar ao Palmense, Sporting da Covilhã ou ao Olhanense (dependendo da geografia), de forma a que - admitindo o "jeito natural" - dentro de 3 ou 4 anos viesse o mânfio para Faro ou para Viseu e daí desse o salto para Lisboa ou para o Porto.
Devemos dizer que menos, muito menos, eram esses bafejados pela sorte e pelo "jeito natural" que acabavam no SLB, FCP ou no SCP, do que os outros que, apesar de tudo, conseguiam ter acesso ao ensino superior.
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-" Vais mas é aprender um ofício que pr'á bola não prestas e pr'a estudar não há dinheiro!"
E acabava assim o moço , uns anos depois, como serralheiro, carpinteiro de limpos, mecânico ( se tivesse sorte) ou servente de pedreiro (o mais normal).
Ontem, depois de ver o jogo com a Albânia, dei por mim a pensar quantos carpinteiros de limpos não se teriam perdido em Portugal, com a má escolha feita pelos pais, cegos de amor pelas pequenas habilidades dos filhos...
Sendo que a ênfase deve ser posta na palavra "pequenas", pequeninas mesmo....
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