segunda-feira, setembro 08, 2014

Vai mas é aprender um ofício que pr'á bola não prestas!

Nas aldeias  as pessoas de mais idade tinham antigamente dois sonhos para os filhos rapazes (era o obscurantismo): tirarem um curso superior ou terem uma carreira como futebolistas.

O curso superior para os pobres era assim como que uma quimera que se vislumbrava ao longe. Mas muito ao longe mesmo. Porque não era apenas o custo do curso propriamente dito! Era a mesada que significava ter o filho a comer e a dormir na cidade  .

Nesse sentido os pobres de Lisboa, Porto ou Coimbra tinham mais sorte...

A saída mais airosa para um rapaz estudioso que tivesse tido o azar de ter nascido na província de pais pobres (e aqui pobres eram todos os que não possuiam terras, fábricas e coisas desse género) era ir para o Seminário e continuar por lá os estudos.

Claro que havia sempre a "outra" saída: transformar o "puto" num Eusébio da Marmeleira. Metê-lo a jogar nos campeonatos regionais à espera que algum olheiro reparasse nele.
Levá-lo a treinar ao Palmense, Sporting da Covilhã ou ao Olhanense (dependendo da geografia), de forma a que - admitindo o "jeito natural" - dentro de 3 ou 4 anos viesse o mânfio para Faro ou para Viseu e daí desse o salto para Lisboa ou para o Porto.

Devemos dizer que menos, muito menos, eram esses bafejados pela sorte  e pelo "jeito natural" que acabavam no SLB, FCP ou no SCP, do que os outros que, apesar de tudo, conseguiam ter acesso ao ensino superior.

O Pai da província, ao ver que afinal e não obstante todos os treinos, o "puto" rematava mal, fintava pior e à conta dos maçitos de  "Definitivos" não tinha pulmão para correr o campo, acabava sempre por lhe dizer:
-" Vais mas é aprender um ofício que pr'á bola não prestas e pr'a estudar não há dinheiro!"

E acabava assim o moço , uns anos depois, como serralheiro, carpinteiro de limpos, mecânico ( se tivesse sorte) ou  servente de pedreiro (o mais normal).

Ontem, depois de ver o jogo com a Albânia,  dei por mim a pensar quantos carpinteiros de limpos não se teriam perdido em Portugal, com a má escolha feita pelos pais, cegos de amor pelas pequenas habilidades dos filhos...

Sendo que a ênfase deve ser posta na palavra "pequenas", pequeninas mesmo....

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