Antes que os amigos pensem que endoidei de vez ( o que poderia acontecer neste mundo estranho onde vivemos) esclareço que a "seca" a que me refiro não é a da falta de água.
A águinha de S. Pedro tem caído (não confundir com a "águiazinha" , a qual também caíu ontem no relvado, mas levantou-se, embora manca de uma asa).
Direi até que o santo das chaves adormeceu no Inverno passado, e se calhar ainda não acordou, motivo pelo qual as estações do ano andam um bocado baralhadas... Por mim tudo bem, por que já não me interessa muito ir a banhos de mar. O meu problema é mais com o vinho...Porque se chove na vindima temos o caldo entornado... Até lá, antes e depois, chova tudo o que tem que chover.
Mas não, amigos. A "seca" do título tem a ver com o sentido literário que era usado pelo mestre de nós todos, Eça de Queiroz:
-"Achei-me tão cansada, depois de jantar, veio-me uma preguiça... Mas então partires assim de repente!... Que seca! Dá cá a mão!"
(Os Maias)
"Seca" como coisa aborrecida ou entediante , ou ter de aturar uma pessoa maçadora e importuna.
Todos temos destas "secas", nuns dias mais, noutros dias menos... A mim acontece-me muitas vezes ter de sorrir sem vontade, ter de falar bem e de forma cortês quando o que me apetecia era virar as costas à pressa. São "ossos do meu ofício". Quem os não tem?
Ora "um caso se deu" onde a visão presunçosa do erudito sabichão alfacinha (moi) , já a adivinhar uma tarde e noite de uma "ganda seca" , se virou contra o feiticeiro.
Num dia (já longe no tempo, era eu jovem ...) tive de receber um senhor norte-americano aqui nos CTT. Ele vinha bem recomendado, mas a forma como se apresentou no escritório era um bocado duvidosa: trazia o cabelo bem comprido, jeans e botas de cowboy de ponteira metálica (que eu nunca tinha visto, só nos filmes). Até tive para lhe perguntar se deixara o cavalo preso à entrada da Casal Ribeiro...
A criatura vinha recomendada pelo nosso agente nos USA, Mike Buttler, que me dissera ao telefone se eu lhe podia apresentar um agente imobiliário. O "cowboy" queria comprar uma casita no Algarve perto de um campo de golf.
Estávamos numa época em que os cartões de crédito eram pouco utilizados (havia restrições às movimentações de dinheiro, impostas pelo Banco de Portugal) e poucos teriam visto em acção o American Express Platina, quanto mais um certo AMEX Centurion (na gíria conhecido pelo "black card").
Levei o "homem" a jantar ao Reijos, na Rua Direita de Cascais, que era o restaurante preferido dos americanos na linha, local onde tinham "acampado" muitos dos engenheiros yankees que vieram para a construção da Ponte sobre o Tejo.
Nessa noite de assombro, começei logo por ver na mesa principal do Reijos, Sir Clive Sinclair (inventor do Spectrum). Era capa da Times e da Economist, pelo que dei logo pelo homem.
Depois, bem , depois foi quando o "cowboy" insistiu em pagar o jantar, e deu o tal blackcard ao meu amigo António, proprietário do Reijos...
Ao princípio o António olhava desconfiado para aquilo... Depois telefonou para o apoio ao cliente, e quando acabou, chamou-me de lado para perguntar se o senhor americano não desejaria comprar-lhe o restaurantezinho...
O cowboy afinal , vim depois a saber, era um herdeiro de uns poçitos de pitrol lá para o sul da Califórnia...
Nem tudo que luz é ouro? Pois, mas o oposto também é verdadeiro!!
quarta-feira, setembro 17, 2014
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