quinta-feira, abril 17, 2014

Para Descansar a Vista...na Páscoa

Depois dos 40 dias da Quaresma (Quadragesima) vai amanhecer o Domingo de Páscoa, festa maior para várias religiões embora em diferentes contextos.

Neste ano não vou para a Serra . Obrigações familiares prendem-me cá em baixo, com  as minhas "santas"  a ficarem  cada vez mais velhinhas.

Mas espero que a semana seguinte, a do 25 de Abril (Sempre!), já me permita tomar o caminho das habituais "Crónicas da Serra", embora por menos dias.

Desejo uma santa Páscoa, uma muito boa Páscoa, uma Páscoa muito feliz (consoante as inclinações) a todos os leitores.

Para amenizar as cores mais sombrias do nosso quotidiano recordo com um poema  uma das  mais antigas invocações a um Deus único de que existe registo escrito.

Foi em 1400 antes de Cristo (mais ou menos) e o autor é o faraó maldito, Akénaton, marido da divina Nefertiti, o casal real que ousou converter o Antigo Egipto ao monoteísmo, pelo menos enquanto durou o sonho que foi Tel-el-Amarna:

Thou appearest beautifully on the horizon of heaven,
Thou living Aton, the beginning of life!
When thou art risen on the eastern horizon,
Thou hast filled every land with thy beauty.
Thou art gracious, great, glistening, and high over every land;

Thy rays encompass the lands to the limit of all that thou hast made:
As thou art Re, thou reachest to the end of them;
(Thou) subduest them (for) thy beloved son.
Though thou art far away, thy rays are on earth;
Though thou art in their faces, no one knows thy going.

 Fonte: Pritchard, James B., ed., The Ancient Near East – Volume 1: An Anthology of Texts and Pictures, Princeton, New Jersey: Princeton University Press, 1958, pp. 227-230.

E termino em português, com um poema de Sofia. E se Akenaton invocava o Sol, aqui neste poema Sofia fala-nos antes da  Lua:

Bebido O Luar

Bebido o luar, ébrios de horizontes,
Julgamos que viver era abraçar
O rumor dos pinhais, o azul dos montes
E todos os jardins verdes do mar.

Mas solitários somos e passamos,
Não são nossos os frutos nem as flores,
O céu e o mar apagam-se exteriores
E tornam-se os fantasmas que sonhamos.

Por que jardins que nós não colheremos,
Límpidos nas auroras a nascer,
Por que o céu e o mar se não seremos
Nunca os deuses capazes de os viver.

Sophia de Mello Breyner Andresen 

Um comentário:

Américo Oliveira disse...

É por estas alturas que sinto vontade de reler Miguel Torga:

"Isto de religião está cada vez pior dentro de mim. Depois de uns arrancos fundos e angustiosos, a coisa foi secando, secando, até chegar a esta mirra mística, que já não há Jordão teológico capaz de vivificar.
Mas quanto mais pobre estou desse conteúdo humano, mais cheio me sinto de desespero. O que eu dava para me levantar cedo esta manhã, ir à missa, e voltar da igreja com a cara que trazia o meu vizinho!
Não é que eu tenha verdadeiramente pecados, ou que, se os tivesse, algum Deus fosse capaz de me lavar deles. (Até o último aldeão sabe que quando muda um marco não há céu que lhe benza a maroteira).
Queria era sentir-me ligado a um destino extra-biológico, a uma vida que não acabasse com a última pancada do coração."

[Miguel Torga in Diário, vol. 1)