segunda-feira, abril 14, 2014

Espreitar a vida alheia, lucro ou prazer?

O fenómeno conhecido em literatura como "voyeurism" é definido no Oxford Dictionary como:
A person who gains sexual pleasure from watching others when they are naked or engaged in sexual activity.

A simples cusquice que não implica necessariamente nem nudez , nem truca-truca, aquilo que os anglo-saxões chamam "creeping",  é muitas vezes considerada como "espionagem" em bom português, mesmo que os segredos "do outro" nada tenham a ver com submarinos nucleares ou margens de rentabilidade de produtos apetecíveis.

Existem muitos locais na net que ensinam os truques que o "candidato a espião" deve utilizar. Alguns deles, como este:
http://lifehacker.com/5952171/the-best-ways-to-invade-someones-privacy
são relativamente inofensivos e até começam por explicar que se trata de práticas ilegais e sem dúvida não éticas. Outros são  muito mais agressivos.

Mas o hacker profissional que se transforma em "creeper" ou que vende os seus segredos a outros "creepers", sabe muito mais do que está escrito nestes artigos.

O motivo que as pesquisas  dão como sendo o mais frequente para justificar esta invasão da vida alheia por particulares é conhecido desde o início do mundo, desde aquela altura em que Caim e Abel começaram a "marrar" um com o outro: o velhíssimo ciúme.

Homens e mulheres ( e advogados de uns e de outros, e detectives privados a soldo de uns e de outros) a querer saber onde foi que a "cara metade" passou a tarde,  com quem foi na viagem de negócios, para quem telefona, a quem envia mails.

Depois do ciúme, existem como mais frequentes justificações para o creeping\espionagem as que envolvem a espionagem industrial ou comercial, as preocupações dos pais para saber por onde andam os filhos, e as preocupações dos empregadores para controlar o que fazem e onde estão os empregados, sobretudo a chamada "força de vendas".

Lá para o fim disto tudo aparecem na estatística os verdadeiros "James Bond", os espiões herdeiros da honrada tradição da guerra fria.  A espionagem pura e dura de Estado .

Estas aplicações "profissionais da cusquice" aparecem em último lugar porventura porque os verdadeiros espiões sabem o que fazem  e os mais bem sucedidos não são detectados e continuam a espiar sem que ninguém dê por eles.

Se estão a pensar na NSA são capazes de ter razão... Bom Dia Edward Snowden.

Uma das histórias mais engraçadas desse período da guerra fria , dos anos 50, foi a daquele diplomata sueco com quem alguém (um novato soviético)  tentou fazer chantagem com várias fotografias dele num quarto de hotel com uma companhia que não era a "legítima". E ambos nus e em acção.

O diplomata olhou, sorriu e disse para o cinzento funcionário que lhe apresentara o dossier fotográfico:
-"Olhe, gostei muito! Seria possível arranjar-me umas ampliações desta e daquela fotografia para enviar à minha mulher? Ela devia adorar!"

Espia-se para quê?  Nos casos que não são doentios (e incluo aqui a grande maioria do ciúme, bem assim como a "auto-gratificação" do triste doido que espia apenas para gozo próprio ) espia-se normalmente para encontrar alguma coisa que permita fazer pressão sobre o visado.

Nos dias de hoje, quando  as inclinações sexuais de cada um têm cada vez menos importância social, uma das melhores formas de "aplicar pressão" sobre o "alvo" parece que é a evasão fiscal... Imaginem: o IRS, o IRC e as outras obrigações legais, como a falta de pagamentos para a Segurança Social.

Nos países do sul, onde historicamente uma pessoa que não paga impostos é "um esperto" e o que paga é "um nabo", tenho algumas dúvidas sobre o opróbio social destas denúncias públicas. É claro que se a denúncia for à Repartição de Finanças, é capaz de haver mais chatices.

Mas nada que se compare ao "cacau" que daria se a mesma denúncia fosse feita nos USA...

Há até toda uma jurispridência norte-americana feita em volta desta  aparente contradição:
"Se a chantagem em si já é crime, será aceitável fazê-la para não denunciar outro crime? Por exemplo, exigir a alguém um contrato vantajoso  para  não denunciar que esse visado cometeu um crime fiscal"

Leiam aqui sff uma análise do tema:
http://law.jrank.org/pages/569/Blackmail-Extortion-paradox-blackmail.html

Tendo em atenção a história recente dos administradores do BCP, a única coisa que devo aconselhar a quem se queira meter nestas (ou noutras)  jogadas ilegais onde sejam alvo de denúncias,  é que tenham dinheiro.

Sendo ricos podem esperar pela passagem das ondas sem problemas. Meses e meses, anos e anos, até à Prescrição...

Perante a Justiça todos os Homens são iguais. Mas...sempre houve  homens que eram mais iguais do que outros. Desde o tempo do Adão. Quanto mais hoje, que há Internet...

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