Peniche tem recordações muito ligadas à mitologia do 25 de Abril. Para o seu Forte eram recolhidos os "opositores ao regime". No seu Forte teve lugar uma das mais conhecidas fugas de presos de que há memória em Portugal, protagonizada por Álvaro Cunhal, em 3 de Janeiro de 1960.
Aqui ficam os nomes dos heróis dessa fuga, para memória futura:
Álvaro Cunhal, Joaquim Gomes, Carlos Costa, Jaime Serra, Francisco Miguel, José
Carlos, Guilherme Carvalho, Pedro Soares, Rogério de Carvalho e Francisco
Martins Rodrigues.
Foi Rogério Paulo (o actor de teatro) que deu o sinal para a fuga. E na primeira noite de liberdade Álvaro Cunhal veio dormir para S. João do Estoril, na casa de Pires Jorge, onde acabou por viver ainda algum tempo na clandestinidade.
Nestes tempos algo conturbados e esquecidos faz bem recordar estas histórias.
Mas Peniche é também lugar de bem comer. Famoso pelas suas lagostas, pargos e cardeais, percebes das Berlengas e por tantas outras maravilhas da nossa gastronomia marítima.
Em Peniche existe a Tasca do Joel. Numa rua antiga com o improvável nome de Rua do Lapadusso. nº 73.
Para lá ir ter sem GPS o melhor é tentarem dar com o cemitério (cruzes , canhoto!) e após essa plantação de tabuletas virarem à direita (para quem vem do cabo) ou à esquerda, para quem vem do forte. E perguntem.
Tasca do Joel
Rua do Lapadusso 73
2520 370 PENICHE
Telefone: 262782945
Na Tasca do Joel existe uma sábia coordenação a que poderemos chamar o "dois em um". Há uma loja gourmet para vinhos, charutos, petiscos e destilados. Há um restaurante onde podem ser provados logo a seguir os produtos comprados na Loja, sem aumento de preço!
Que grande ideia!
A minha recomendação é que cheguem cedo, vão para a loja, escolham o vinho do almoço (vão cedo para permitir ao branco refrescar). Paguem o vinho. Depois sentem-se e "mandem vir". Não sem antes passarem obrigatoriamente pela montra do peixe fresco!
No Joel deve comer-se aquilo que o mar deixou apanhar no dia a dia (encerra segundas feiras e domingos à noite). Mas a sua oferta "fixa" é mais ou menos esta:
Entradas: Pataniscas da Tasca; Salada de ovas;Presunto Maldonado; Chouriço assado; Morcela de arroz;
Peixe: Bacalhau à lagareiro; Lulas grelhadas; Espetada de lulas; Bacalhau à tasca; bacalhau à joel; Bacalhau com puré. Peixes frescos do dia.
Carne: Alheiras à tasca; Franguinho à tasca; Lombinhos de porco preto; Secretos de porco preto; Bife à lapa do urso; Javali à tasca com castanhas; Codornizes; Espetadas de porco; Espetadas de perú; Entremeada.
Doces: Pudim de pão; Pudim de ovos caseiros; Pastéis típicos da tasca; Doce de manga.
Dois Mânfios ali aportaram num destes fds. Comeram presunto Maldonado, chouriço assado de Garvão, lulas grelhadas simples . E depois um Cardeal soberbo assado no forno com legumes e batatas novas salteadas.
Nota: Cardeal é um peixe vermelho de carne firme e branca, muito próximo do que chamamos em Cascais "Imperador".
Antes tínhamos passado pela Loja e mercou-se uma garrafa dos Projectos Dirk Nieepoort, um Tinto Cão de 2009. Foi este tinto raro , leve e seco, que fez boa companhia ao Cardeal. As entradas foram acompanhadas por dois copos de branco Quinta de Saes Reserva (belo serviço de vinho a copo!).
Um Terrincho velho serviu de sobremesa, terminando-se com Balvenie malte de 12 anos. E fez-se esta festa toda por pouco mais de 80€.
Não gostei apenas de duas coisas: têm o queijo frigorificado. E o peixe, se não avisarmos antes, é escalado antes de posto ao lume... Mas como estou aqui a avisar, qualquer destas coisas é facilmente ultrapassável com uma pequena conversa antes de nos sentarmos:
-" Amigo, sff tire o queijo de frio e por favor asse (ou grelhe) o peixinho inteiro, como Deus Nosso Senhor o fez".
E pronto!
Aproveitando a viagem aviou-se ainda uns vinhitos mais, que beberemos em honra e memória dos fugitivos de 1960!
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2 comentários:
e ficaste bem vingado sem dúvida. Tomem Lá
Numa altura em que – finalmente! – alguém se lembrou de procurar o corajoso soldado que, no dia 25 de Abril de 1974, se recusou a disparar o seu tanque sobre os de Salgueiro Maia, apesar das ordens e da ameaça de um brigadeiro que, de arma em punho, lhe deu essa ordem, lembro aqui um outro militar – agora da GNR – que garantiu a fuga de Álvaro Cunhal do forte de Peniche:
“Foi debaixo da sua capa que Jorge Alves conduziu os dez responsáveis comunistas às paredes do forte de Peniche, na noite de 3 de janeiro. Um automóvel esperava-os na vila. O agente da GNR ainda acompanhou Cunhal na viagem de carro até casa. Depois, com a ajuda do PCP, Jorge Alves emigrou para a Roménia, onde acabou por morrer em 1968 [ao que consta com problemas graves de alcoolismo]. Mais tarde, a mulher e os filhos juntaram-se ao guarda. Poucos sabem que o êxito desta fuga se deveu muito mais à iniciativa do soldado do que à organização da operação, que coube ao secretariado do PCP. Álvaro Cunhal ainda referiu o «corajoso militar que arriscou a liberdade e a vida» num comício do PCP em Peniche, quatro meses depois da queda da ditadura. No entanto pouco fez para ajudar a família. [TVI, Fevereiro de 2014]
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