sexta-feira, dezembro 13, 2013

Para Descansar a Vista

Ainda estou a tentar decifrar a "Mensagem" da entrevista de PPC , ontem à noite.
Mesmo com o auxílio do "senhorio" , que antecipou na TSF o resultado, não tem sido muito fácil...

Se calhar porque o que o Senhor disse foi pouco, e o pouco que disse não serve para quase nada...

Para desanuviar o cérebro desse tipo de "narrativas" lúgubres aqui vai meu mestre Eugénio de Andrade, que da vida sabia tudo, ou quase tudo:

Os navios existem e existe o teu rosto
encostado ao rosto dos navios.
Sem nenhum destino flutuam nas cidades,
partem no vento, regressam nos rios. 
 
Na areia branca, onde o tempo começa,
uma criança passa de costas para o mar.
Anoitece. Não há dúvida, anoitece.
É preciso partir, é preciso ficar.
Os hospitais cobrem-se de cinza.
Ondas de sombra quebram nas esquinas.
Amo-te... E abrem-se janelas
mostrando a brancura das cortinas. 
 
As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas minhas curvas claras. 
 
Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
e estas mãos noturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.  
 
E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens vivas, desenhadas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.


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