segunda-feira, dezembro 16, 2013

Os "fritos" da estação: de fugir...

Sonhos de abóbora ou de laranja, amassados ou não com aguardente, filhoses, velhoses, coscorões, fatias douradas e rabanadas, azevias de amêndoa ou gila e outros que de certeza por aí existirão.

Estes são os antigos "fritos de Natal" que se comiam nas nossas províncias há mais tempo do que haverá lembrança, em casa de pobres, ricos ou remediados.

Por acaso embirro solenemente com todos eles... Aguento um ou dois sonhos de abóbora quando estão acabados de fazer e rescendem ainda ao bom bagaço da "amassadura". Mas isso será o mais perto que me podem encontrar da travessa dos ditos "fritos".

E não se trata de eu ter  medo às muitas calorias!! Como quem me conhece sabe perfeitamente o meu problema é exactamente o contrário: que as calorias tenham medo de mim...

Acho que esta embirração provém do facto de muitas noites de 23 de DEZ ter sido obrigado a ajudar a minha mulher na cozinha a estender, amassar e fritar estas coisas. Só o cheiro da canela e do açucar no ar me enjoam ainda hoje.. Para não falar da fritura propriamente dita, que enchia a cozinha de aromas tenebrosos. Para mim. Outros os acharão paradisíacos.

Nessas noitadas, que só terminavam para lá das 3 da matina, a única coisa boa era eu abrir uma garrafita de bom espumante, normalmente o Vértice, e irmos ambos molhando as gargantas à medida que o trabalho se fazia.

Na altura em que chegavam as visitas para manducar, no dia seguinte, o enjoo de ter estado a fazer durante horas aquelas coisitas era tal que nem podia ter perto de mim os empratamentos.

O almoço do dia 24 de DEZ era magro. Normalmente um bom prato de caldo verde com seu chouriço e pingo de azeite, acompanhado depois por várias carnes frias e queijos.

A "festa" começava lá pelas 16h, altura em que se começava a pôr a mesa da Ceia de Natal. Ceava-se cedo, pelas 18,30H, para não perder a Missa do Galo. Sempre o bom bacalhau cozido com as couves pencas, ovos cozidos, e batatas da quinta. Ninguém tomava sobremesa.

Depois da Missa é que a mesa ficava posta com os doces. Para além dos tais fritos em profusão também havia arroz doce, leite creme, o bolo-rei, o tronco de Natal e o bolo branco recheado de nozes e pinhões. Estes últimos vinham da Garret.

Mesmo com a animação de primos e primas, sogra e sogro, cunhados e etc... verdade seja dita que eu estava sempre à espera do dia seguinte para meter o dente em coisas mais substantivas, como o perú engordado lá na quinta e lá mesmo embebedado, as ervas (esparregado grosso) e o magnífico queijo da serra da mesa de Natal, especialmente escolhido pelo pastor que nos arrendava o pasto e que nunca tinha menos de 2,5 kg!

Mas o mais importante era que nesse almoço do dia 25 as travessas dos "fritinhos", já bastante abusadas, não vinham para a mesa!! O alívio que isso me dava...

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