sexta-feira, dezembro 27, 2013

Crónicas da Serra 1


Chegámos a S. Martinho depois de um Natal quase sem história passado com a santa lá de baixo. Perú assado no forno foi o prato do almoço do dia 25, apesar dos votos contra do meu senhorio e de mim próprio. Mas a Senhora repete vezes sem conta que “Natal sem Perú não é Natal”, pelo que temos sempre de lhe fazer a vontade… 
 
Estão à hora em que escrevo uns 8 graus, mas parecem menos, talvez menos uns 4 grauzinhos,  apercebidos pela força do vento gélido que puxa a chuva da serra.
 
Está na hora de fazer uma boa sopa de espinafres, acompanhar com pão do Sabugueiro e com paio e chouriço cortados finos.  Trouxe para variar e desfrutar do espanto dos serranos amigos uns queijos de Serpa, uns de cabra, outros de ovelha e mais alguns de mistura, todos pequenos. Vamos a ver se adivinham como são feitos.
 
Amanhã assamos um lombo de porco preto inteiro e depois, no Domingo, avançamos para o peixe do costume: garoupa cozida com todos será o prato desse almoço.
 
Apenas de adivinhar as couves tenrinhas aqui da nossa horta, que são doces ao paladar e se desfazem na boca, quase que me apetece ( e vai ser o caso) construir todos os menús em volta desse acompanhamento de luxo que não aparece nas cidades.  E mesmo aqui na Serra  está limitado a poucos meses por ano, e sujeito a granizadas e outras coisas que a invernia traz consigo. Mas este ano – deixa-me bater na madeira – a horta está bem composta!
 
A aldeia parece deserta a esta hora. Só anda mesmo na rua quem precisa. É nestes momentos que compreendo porque motivo os antigos recolhiam a casa no Inverno antes do bater das 5 da tarde, hora a que também começavam a fazer as parcas ceias.
 
Claro que hoje em dia a TV veio dar uma (ou duas voltas) a esses hábitos, mas para lá do Telejornal e das Telenovelas, aos citadinos de passagem é quantas vezes mais acolhedor o banco em frente à lareira com a sopa a fervilhar, ou, mais tarde, com umas histórias para ouvir e para contar.

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