Um "Petisco" tanto pode ser - na nossa maravilhosa língua - uma comida muito apetitosa, como uma iguaria que se serve antes do prato principal, como ainda e entrando no vernáculo irónico, uma coisa desagradável de fazer ou até uma pessoa pretensiosa e a evitar.
Vamos todavia situar-nos na antiga acepção do termo com as suas vertentes gastronómicas e discorrer um pouco sobre o assunto.
Está mais ou menos visto e aceite que nestes tempos conturbados petiscar é a alternativa do pobre cidadão da classe média (chiu, que está em vias de extinção) a "comer". Em vez de almoçar, petisca-se qualquer coisinha. Em vez de jantar, vai-se pelo petisco, até porque faz mal deitarmo-nos com o estômago cheio. Lanchar e tomar o pequeno almoço passam ultimamente por luxos daqueles que, ou vivem à sombra de alguma herança (melhor dito, algum "trust fund") ou são banqueiros, ou presidentes das "energéticas" ( EDP, GALP) ou governantes das antigas colónias, endinheiradas agora.
Vamos lá então dar uns exemplos dos "petiscos à antiga portuguesa" de que mais gosto e ainda hoje são possíveis de encontrar ou fazer em casa:
- Clássicas bifanas, pregos, francesinhas, sandes de ovo mexido com paio, e cachorros. Tudo normal e proletário, mas se bem feitas são quase uma refeição das antigas. Mesmo um normalíssimo hot-dog pode ser melhorado a partir do bom pão de centeio em cacete, mostarda Colman's , desde 1814 a "aquecer" as boquinhas, e (obviamente) salsichas alemãs de qualidade - Bratwurst por exemplo.
- Caracóis, tanto normalmente cozidos como, sendo maiores, grelhados.
- Todos os "fritinhos nortenhos" da praxe: bolinhos de bacalhau, rissóis, croquetes, sonhos do mesmo, pataniscas. As importadas chamuças (de cair para o lado no Martim Moniz, vejam no blogue da Fátima Moura "à mesa com Fátima Moura").
- As saladinhas que terão nascido no Fialho e outras tabernas transtaganas: de búzios, de bacalhau, de pimentos, de polvo, de ovas, de feijão frade. O coelho manso S. Cristóvão.
- Os torresmos do rissol.
- Os ovos de codorniz com paio, os ovos "rotos" à moda do Lúcio de Madrid, as omolettes (de salsa, de cebola, de presunto, de cogumelos).
- As bivalves todas! Desde a proletária conquilha até às aristocráticas ostras e ameijoas cristãs do Algarve.
- Já agora, o Xerém com berbigão (ou ameijoa).
- As moelas fritas ou estufadas, o pica-pau de porco ou de vaca (sempre envolto em mostarda e pickles depois dos pedaços da carne bem fritos e posteriormente guisados).
E agora num registo muito menos proletário, mas que já o foi, em tempos idos onde as coisas do mar e da terra pareciam vir à mão de quem era mais habilidoso, e não necessariamente de quem tinha mais dinheiro...Caça e pesca amigos...
- Perdizes de escabeche (a melhor do mundo é feita no Oliveira, em Évora).
- Coelho bravo em molho de vilão. Servido frio, desfiado, em cima de pão torrado alentejano.
- Codornizes grelhadas.
- Tordos e outros passarinhos fritos
- Bruxas, percebes e camarão de Espinho. Com as ostras, esta é a trilogia do "sabor a mar" mais envolvente do mundo!
No âmbito dos petiscos em forma de pratos quentes, apenas três sugestões, bem pobrezinhas , mas de sabor inolvidável se bem feitas:
- Ervilhas frescas com ovos escalfados e paio de Marvão.
- Uma simples Açorda de alho alentejana com uma postita de bacalhau ao lado.
- Um Gaspacho grosso acompanhado de petinga frita.
Bom Proveito. Por mim já almoçava Carago!
quinta-feira, abril 11, 2013
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