Numa homenagem a Bertold Brecht e ao seu grande tradutor, mestre Paulo Quintela, ensigne Professor da UL de Lisboa, proponho hoje um poema para pensarmos.
Nesta altura de crise onde tudo nos é pedido, onde ainda há que chegar mais longe no capítulo da solidariedade, pode ser importante repensarmos as causas das coisas...
Mas que isso não nos leve a construir o escudo da indiferença à nossa volta!
Na grande maioria das vezes o pobre não escolhe de onde lhe vem a esmola, nem tem culpa da sociedade o ter assim tratado.
De que Serve a Bondade?
De que serve a bondade
Quando os bondosos são logo abatidos, ou são abatidos
Aqueles para quem foram bondosos?
De que serve a liberdade
Quando os livres têm que viver entre os não-livres?
De que serve a razão
Quando só a sem-razão arranja a comida de que cada um precisa?
Em vez de serdes só bondosos, esforçai-vos
Por criar uma situação que torne possível a bondade, e melhor;
A faça supérflua!
Em vez de serdes só livres, esforçai-vos
Por criar uma situação que a todos liberte
E também o amor da liberdade
Faça supérfluo!
Em vez de serdes só razoáveis, esforçai-vos
Por criar uma situação que faça da sem-razão dos indivíduos
Um mau negócio!
Bertold Brecht, in 'Lendas, Parábolas, Crónicas, Sátiras e outros Poemas'
Tradução de Paulo Quintela
Nota: "Triunfo da Pobreza" Quadro de Lucas Vorstermann the Elder, after Hans Holbein the Younger. Trata-se de uma cópia feita no século XVII de um original hoje perdido de Holbein e datado em estimativa de 1532. Está no Museu Britânico.
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