quarta-feira, outubro 31, 2012

A Vida começa aos 91

Ontem tive uma reunião que deu em almoço (como habitual) com meu Mestre Quitério.

Estávamos sozinhos, falámos sobre tudo o que nos veio à cabeça, até (imaginem!) sobre o assunto da dita reunião.

Estes encontros são sempre assim. A memória elefantina do Zé leva-me a "desfolhá-lo"  como se fosse uma enciclopédia bem fornecida sobre todas as trivialidades que andam ao redor da gastronomia e dos seus actores.

E, como não tínhamos empenhos, nem obrigações, nem combinações (nem sequer soutiens), em relação ao local da janta, decidimos ir visitar o nosso velho amigo Sr. Emílio à sempre respeitada Adega da Tia Matilde.

Aqui o adjetivo carinhoso "velho" aplicado ao Sr. Emílio tem um significado duplamente importante: não só se trata de uma jóia de pessoa, daquelas que se não tivessem nascido teriam deixado o mundo mais pobre, como também e para todos os efeitos "legais", convém reconhecer que  o Sr. Emílio já tem de facto alguma idade...91 aninhos para ser exato.

Do alto da complacência que essa idade lhe proporciona, com a sabedoria em barda e o saber fazer no seu métier que é incomparável, o Sr. Emílio não pára: recebe os Clientes na sala. Levanta as mesas, prepara o couvert, aconselha os pratos, serve os vinhos e, quase no final, chega humilde ao pé dos comensais e pergunta em tom baixo:
-"Então como foi? Acha que estivémos bem?"

Ontem começámos com pataniscas de bacalhau soberbas! Continuámos por eirozes fritas com vinagrinho, muito boas, e seguimos em frente com mioleira de borrego mexida em manteiga e ovos.  Para estas entradas juvenis serviu-se (e bebeu-se) um Camarate Branco Seco, que satisfez, limpando o palato para o que havia de vir.

Pausa nº1. Discussão filosófica sobre um dos meus outros mestres,  Borges (a quem Quitério não perdoa o silêncio sobre a ditadura de Vilela) e Eugénio de Andrade, sobre cuja qualidade geral concordamos ambos sem qualquer esforço.

Depois do "intervalo" viraram-se os olhos e as papilas gustativas para a garrafita de Mouchão 2006 já aberta desde que tínhamos chegado. Grande Vinho, Alicante-Bouschet no seu esplendor em terras transtaganas!

E para ficarmos de igual para igual reparem só no que se seguiu: Canja de Robalo de mar com ameijoas (deslumbrante!) . Coelho bravo à caçadora (magnífico de sapidez, molho guloso e pujante) . Canónico de apresentação e conteúdos.

Pausa nº 2. Aqui aproveitámos e dissémos mal da Fátima Moura, que me tinha dito que "talvez aparecesse para o café" mas que mais nada entoara depois dessa afirmação. Telefonámos-lhe, criticámos a opção de ter ficado em casa a preparar a viagem a Amarante (em trabalho para nós - Livro dos Sabores) e voltámos às coisas sérias.

Queijo da Beira Baixa e da Beira Alta, ambos curados no ponto certo e sem nenhum toque do abominável frio que estraga o gosto a qualquer um.

E para terminar em beleza a questão dos sólidos, um admirável Marmelo assado no forno!

Em redor de dois cálices de Lagavullin (o bem amado!) voltámos à conversa, desta vez sobre o nosso David  (e como ele estimava a Tia Matilde e o Sr. Emílio!) e sobre o panorama restaurativo atual no retângulo, o qual - e não obstante algumas esquisitices, como o desdobrável saído no fds a publicitar um restaurante conhecido na Ereira - parece estar a sofrer como gente grande.

Felizmente a Adega da Tia Matilde ontem não parecia muito afetada! Embora a presença de convivas angolanos fosse muito notada e daí talvez o bom aspecto cheio que a casa tinha.

E com estas reflexões nos despedimos os dois do grande Sr. Emílio! Que a idade nunca lhe pese meu Amigo!

Nota: Daqui vai um grande abraço apertado para o Pedro do Solar! Espero que se recomponha tão breve quanto possível!

terça-feira, outubro 30, 2012

O Convite da Aranha

Convida-se um vizinho para entrar lá em casa. Convida-se um amigo para almoçar. Convidamos os colegas da escola  para a festa de anos dos nossos filhos. Convida-se uma amiga especial para sair à noite. Admito até que em determinadas circunstâncias sejamos obrigados a "convidar" alguém a sair, antes que "saia" mas é  uma cadeira pelas costas da criatura...

Pois o nosso Primeiro Ministro apressa-se a convidar o lider da Oposição para uma conversa onde se discutirá a três (ou a 4) o futuro do Estado Social, as funções do Estado em Portugal.

Trata-se, já se percebeu, de uma conversa algo esquizofrénica, pois nela estarão metidos os 3 Partidos daquilo que se convencionou chamar o "arco da navegação", e mais o Governo que é formado por dois deles...

O porquê desta "chamada afetuosa" , tal e qual um Pai ao seu filho pródigo, percebe-se bem. Mais do que bem:

O Orçamento de Estado para 2013 é já um nado-morto. Tudo indica que lá para o final do 1º TRIM do ano que vem toda a gente entenda que não está a resultar. Pelo contrário, que os danos causados à trama económica do país são cada vez maiores. E que a Receita - responsável por 80% do esforço de ajustamento - não está a entrar como era previsto. Resta aos governantes virarem-se para a Despesa...

Virarem-se para a Despesa é um eufemismo para dizer: Despedimentos na Função Pública e abdicação das funções sociais do Estado: famílias a pagar a educação e a pagar a assistência médica, baixa considerável nas contribuições sociais.  Mas enquanto que o despedimento só acarreta mais problemas para a Segurança Social, pôr as famílias a pagar a educação dos filhos e as despesas com médicos, hospitais e enfermeiros e ainda a carregarem com maior percentagem do preço dos medicamentos,  são medidas que "aliviarão" o Estado.

À custa de quê? À custa de Portugal regredir 35 anos na escala evolutiva dos países desenvolvidos.

Aceitará o PS de TóZé Seguro esse convite? E ao aceitar, fará o frete ao Governo para alterar as normas constitucionais que impedem estas medidas drásticas?

Só se quiser cavar a sua própria sepultura política. Tem de haver alternativas dentro do enquadramento da Constituição atual. Para bem de todos, mas sobretudo para proteger os mais desfavorecidos.

O saudoso Jorge Perestrelo ( o relator desportivo do "ripa na rapaqueca" , lembram-se?)  quando lá no relvado o Árbitro mandava para os balneários algum jogador , pretensamente por lhe ter dito alguma coisa, comentava sempre:

-"Não ouvi o que disse este  jogador, mas  não deve ter convidado o árbitro para tomar chá lá em casa. Digo eu..."

Tó Zé, amigo, cuidado com os convites ! Não há almoços grátis!!

Não queiras ser a mosca convidada para visitar a sala de estar da aranha!

Mary Howitt - Poem: The spyder and the fly

Will you walk into my parlour?" said the Spider to the Fly,
'Tis the prettiest little parlour that ever you did spy;
The way into my parlour is up a winding stair,
And I've a many curious things to shew when you are there."
Oh no, no," said the little Fly, "to ask me is in vain,
For who goes up your winding stair can ne'er come down again." 

segunda-feira, outubro 29, 2012

"Engano de Alma Ledo e Cego..."

Outros datarão os anos como entenderem. Para mim, considero que entre 1974 e 2009 passámos pelos melhores 35 anos da história de Portugal.

Não me queixo da minha infância - tinha 19 anos em 1974 - e  fui um dos priveligiados: andei num colégio de élites, entrei para a faculdade facilmente, tirei a carta de condução logo aos 18 anos...

Mas para mim, a verdadeira felicidade veio depois, quando me licenciei, quando arranjei emprego a dar aulas na faculdade 1 mês depois da licenciatura tirada, quando organizei a minha vida de adulto de forma tão fácil que até parecia "tão natural como ter nascido":  Aos 25 anos tinha casa própria (embora a pagar hipoteca) , tinha um filho, continuava a dar aulas na faculdade, tinha entrado para os CTT  e ainda trabalhava como free-lancer a fazer estudos de viabilidade financeira para os bancos...

Nesses tempos havia democracia, votávamos e vivíamos intensamente a vida pública. Mesmo com dificuldades financeiras havia esperança, pois a Europa de Willy Brandt estava connosco.

Criou-se o SNS, o acesso ao ensino liberalizou-se e democratizou-se. Defenderam-se os mais pobres, reforçou-se a Segurança Social, deu-se dignidade ao trabalho.

Os anos que vinham pareciam ser anos cada vez melhores...
Tão fundo e amplo foi o "balde" de esperança que ganhámos com o 25 de Abril que esta parecia durar para sempre... Mas não durou.

Tal como a felicidade da "linda Inês".

Alguns analistas (Vasco Pulido Valente quase sempre, e mais próximo de nós, Medina Carreira, entre outros) sempre disseram que "isto não era para durar! O país não tem estaleca para tanto!".

E que "vivíamos acima da riqueza que criávamos, e que alguém, nalguma altura, havia de nos apresentar a conta desta destemperança". 

Estamos agora no período do "Ajuste das Contas". Podem chamar-lhe "ajuste orçamental", "reforma do Estado", o que quiserem.

Para muitos portugueses - para aqueles que ainda se lembram da ideologia da juventude -  os males que sofrem mais não são do  que uma vingançazinha dos ricos e poderosos pela "boa vida" que levaram nestes 35 anos. A retribuição do grande capital pelas leviandades praticadas. "Havia liberdade a mais! Agora aguentem!"

Para outros, tudo terá a ver com a "Sorte". Este país foi feito à sombra das crendices árabes no destino e na predistinação... "É o nosso fado".


Mas todos têm medo. Como muito bem dizia hoje de manhã na TSF Victor Cotovio:

-"As crianças têm medo do medo dos Pais, os pais têm medo do futuro dos filhos, os mais velhos têm medo de morrer sem deixar para trás uma situação pelo menos igual à que tiveram. Uns estão ansiosos, os outros estão desesperados."

E eu concluo: a pior coisa que pode acontecer a um povo é instalar-se este desespero, a pouco e pouco ir-se acumulando no pensamento coletivo a ideia de que "não há solução".
Sem esperança não há força de vontade para lutar contra as adversidades. Sem justiça ninguém pode exigir esses sacrifícios de todos.

Nota: Os Lusíadas, Canto III

 Estavas linda Inês, posta em sosssego,
 De teus anos colhendo doce fruito Naquele engano da alma, ledo e cego,
 Que a Fortuna não deixa durar muito,
 Nos saudosos campos do Mondego,
 De teus fermosos olhos nunca enxuito,
 Aos montes insinando e às ervinhas
 O nome que no peito escrito tinhas.

sexta-feira, outubro 26, 2012

Para Descansar a Vista

Numa homenagem a Bertold Brecht e ao seu grande tradutor, mestre Paulo Quintela, ensigne Professor da UL de Lisboa, proponho hoje um poema para pensarmos.

Nesta altura de crise onde tudo nos é pedido, onde ainda há que chegar mais longe no capítulo da solidariedade, pode ser importante repensarmos as causas das coisas...

Mas que isso não nos leve a construir o escudo da indiferença à nossa volta!

Na grande maioria das vezes o pobre não escolhe de onde lhe vem a esmola, nem tem culpa da sociedade o ter assim tratado.

De que Serve a Bondade?
De que serve a bondade
Quando os bondosos são logo abatidos, ou são abatidos
Aqueles para quem foram bondosos?

De que serve a liberdade
Quando os livres têm que viver entre os não-livres?

De que serve a razão
Quando só a sem-razão arranja a comida de que cada um precisa?

Em vez de serdes só bondosos, esforçai-vos
Por criar uma situação que torne possível a bondade, e melhor;
A faça supérflua!

Em vez de serdes só livres, esforçai-vos
Por criar uma situação que a todos liberte
E também o amor da liberdade
Faça supérfluo!

Em vez de serdes só razoáveis, esforçai-vos
Por criar uma situação que faça da sem-razão dos indivíduos
Um mau negócio!

Bertold Brecht, in 'Lendas, Parábolas, Crónicas, Sátiras e outros Poemas'
Tradução de Paulo Quintela


Nota: "Triunfo da Pobreza" Quadro de Lucas Vorstermann the Elder, after Hans Holbein the Younger.  Trata-se de uma cópia feita no século XVII de um original hoje perdido de Holbein e datado em estimativa de 1532. Está no Museu Britânico.

quinta-feira, outubro 25, 2012

Trovoada para o Halloween

Caíu uma "bernarda" daquelas antigas aqui pela Grande Lisboa por volta das 4 da manhã.

Eu, que estava ainda a falar com o senhorio depois dele ter chegado de mais uma reunião partidária com o Tó Zé (lamento mas só ouvi falar de ainda mais  notícias más Amigos, mas adiante...) vi bem estremecerem os vidros todos lá de casa, incluindo os do aparador dos copos  - imaginem a desgraça  se têm partido os meus copinhos de vinho da  Riedel, tão amorosamente comprados em dias bem melhores...

Aproxima-se a noite das bruxas. Pode ser que alguns portugueses (onde me incluo) até achem que essas senhoras já se instalaram aqui no velho retângulo há mais de um ano e, talvez por gostarem do clima, nunca mais de cá saíram. Agora imaginem o que pode acontecer na noite de Samhain, a antiga noite celta das forças malignas, quando "elas" tiverem todos os poderes disponíveis...

"Samhain (like Beltane) was seen as a time when the 'door' to the Otherworld opened enough for the souls of the dead, and other beings, to come into our world. Feasts were had, at which the souls of dead kin were beckoned to attend and a place set at the table for them. It has thus been likened to a festival of the dead.  People also took steps to protect themselves from harmful spirits, which is thought to have led to the custom of guising. Divination was also done at Samhain."

Mas deixando lá mais para o pé do 31 de Outubro a nossa habitual evocação do Halloween aqui no Blog, hoje fico apenas pela visão (aterradora) da Srª Merkl .

E segundo parece ela vem por aí!

Fechem as crianças em casa!

quarta-feira, outubro 24, 2012

Responsabilidades: As consequências

O julgamento em Itália dos cientistas que tinham estado envolvidos nas previsões sismológicas, e depois nos comunicados públicos, sobre a possibilidade de terramoto em Áquila, deu e continua a dar muito que falar em todo o mundo.

Foram condenados a 6 anos de prisão, porque se teria provado durante o julgamento que foram as suas comunicações "pacificadoras e calmantes" da população que tinham levado a que muitos dos habitantes do que viria a ser o local da tragédia ficassem em sua casa,  e não tivessem fugido como seria a sua intenção primeira.

Até que ponto esta moda vai pegar? Até que ponto todas estas decisões passarão a ser responsabilizadas na justiça? Até que ponto, por fim, é que se espera uma generalização deste assunto a políticos cujas ações dão cabo da vida das pessoas, tal como já pode acontecer (embora raramente) a advogados e juízes, a médicos e enfermeiros?

O risco já todos o sabemos: consiste em a "malta" envolvida passar a estar calada. Em os políticos decidirem sempre pelo seguro, ou então, em caso de dúvida, não decidirem nada. Todavia estude-se o exemplo da Islândia já citado por aqui...

Terá de se encontrar a figura do crime social "por omissão".

Dito isto, nem todas as ciências são "exatas".

Na dúvida, deve o cientista acalmar a população ou instigar o desassossego generalizado? E não seria depois "condenado" por ter obrigado milhares de cidadãos a debandar sem que nada tivesse acontecido? E responsabilizado (por exemplo) por causa dos roubos que teriam lugar nas casas abandonadas?

Não tenho respostas sobre estas questões. Mas uma coisa parece-me certa: têm que se discutir amplamente na sociedade civil.

terça-feira, outubro 23, 2012

As Últimas de Alvalade

Resisti até onde pude...Mas depois de tanto Treinador apontado para o comando dos velhos leões, desde o Ministro Rangel até ao Sargentão Scollari (que não veio quando lhe disseram que tinha de ser ele a pagar o ordenado ao Clube) não posso deixar de contar a história que hoje de manhã bem cedo ouvi no quiosque dos jornais, à porta da Versailles:

- "Devido à falta de verbas para rega, o Hipódromo do Campo Grande, lá mesmo em frente ao estádio,  estaria a ser utilizado para campo nº 2 do SCP. Daí a falta de resultados da equipa principal... Os jogadores estavam em protesto , autêntica greve de zelo, porque os substitutos, os gajos da  equipa B, andavam metidos com Mulas a toda a hora  e eles não... Só à noite!"

Em Torres Vedras: no meio da criançada!

Hoje foi dia de ir a Torres Vedras (um salto pela A8) fazer uma festa com o Jardim-Escola João de Deus dessa localidade e o seu aluno Martim, autor de um dos selos deste ano da Emissão "Correio Escolar".

O Martim portou-se como um herói! Apesar dos seus 4 anitos e picos assinou os 5 sobrescritos da praxe e carimbou valentemente os selos ali colados! Para o último cansou-se um bocadinho e já só escreveu "MATIM", tal e qual e em maiúsculas. Faltou-lhe o "R"...

segunda-feira, outubro 22, 2012

A Qualidade

Noutros tempos mais felizes, estava eu a desempenhar o cargo de key accounts general manager aqui nos CTT (Diretor de Grandes Clientes) quando o velho e perspicaz Dr. Pilar me mandou fazer um "Memorando sobre a Qualidade".

O que é que o nosso Cliente achava da qualidade que lhe dávamos. Se queria mais e se queria pagar por mais...

Foi interessante ler o que havia de mais recente (estávamos em 1999) sobre o tema publicado por faculdades de referência - Harvard, Cambridge... - e depois fazer as perguntas da praxe aos cerca de 40 Grandes Clientes que nesses tempos representavam quase 70% da receita total dos CTT.

Os Clientes queixam-se sempre da "má qualidade do serviço". Aliás, em qualquer ramo da gestão e de negócio o fariam. Faz parte da descrição de funções da palavra "cliente" ... Mas, neste caso concreto,  quando questionados se estavam disponíveis a pagar mais por mais qualidade garantida dos serviços postais, a grande maioria das respostas foi negativa!

A Qualidade que tinham era já a suficiente. Não estavam dispostos a pagar por mais. Num mundo ideal, o que desejavam era ainda mais Qualidade e se possível a preços mais baratos...

Aprendi bem nesse momento que Qualidade era um conceito relativo e não absoluto, e ainda que não era possível discutir qualidade sem discutir o seu custo e o preço que alguém estaria disposto a dar por ela. E, finalmente,  que a Qualidade a mais tinha ela própria também um custo, tal como a falta de Qualidade.

Como exemplo mais recente lembro a emissão conjunta com o Japão feita em 2010 onde combinámos com o Impressor Cartor (que também imprimia os selos japoneses) passar a qualidade da trama para 600 dpi's. Quase o dobro do que fazemos normalmente, para acompanhar a qualidade dos selos japoneses que eram sempre feitos com essa definição de pontos por polegada.

Pois ninguém deu por isso... E custou uns euritos...

Tenho andado pela Fundação das Comunicações a dar formação num curso que reúne quadros superiores vários  países de expressão portuguesa. O curso é obviamente sobre MKT de Correios e de Telecomunicações.

Por isso regressei ao velhinho "Adega dos Macacos" , onde os notáveis Sr Luis (gerente) e Sr. Leonel (na barra) continuam a desafiar Gaspares e Merkles e conseguem manter a casinha aberta apesar do público-cliente ser agora talvez um terço daquilo que já foi.

Num almoço de 18 pessoas, onde a maioria pediu peixe fresco grelhado - douradas e salmão - onde se bebeu vinho verde e cervejas e onde vieram cafés no final, a conta foi dividida por todos e andou pelos 11 € por cabeça. E ainda deu direito a pão e queijinhos secos de entrada, mais algumas coca-colas e águas.

Eu tinha pedido as "Iscas da casa" prato que me faz lembrar a Manuela, o Duran e as nossas patuscadas ali naquele mesmo lugar.

No final o Sr. Luis veio pedir desculpa pelo óleo de fritar, talvez já com alguma idade, "não do uso, infelizmente, mas por estar na fritadeira há já algum tempo..."

E perguntou ainda " se tinham achado caro?".

Os colegas de Angola, Brasil e etc... não tinham achado caro. Pelo contrário. Dada a qualidade tinha sido bué barato.

Seria caro mas era para portugueses, pensei eu... São as voltas da nora.

sexta-feira, outubro 19, 2012

Para descansar a Vista

Em redor do tema , aqui recorrente e ainda bem, da Amizade,  aqui vai o grande Eugénio de Andrade:

Os Amigos

Os amigos amei
despido de ternura
fatigada;
uns iam, outros vinham,
a nenhum perguntava
porque partia,
porque ficava;
era pouco o que tinha,
pouco o que dava,
mas também só queria
partilhar
a sede de alegria —
por mais amarga.

Eugénio de Andrade, in "Coração do Dia"


E termino com dois pensamentos do brasileiro Millôr Fernandes, ensaísta, escritor e jornalista:
"Os nossos amigos poderão não saber muitas coisas, mas sabem sempre o que fariam no nosso lugar."

"A verdadeira amizade é aquela que nos permite falar, ao amigo, de todos os seus defeitos e de todas as nossas qualidades."

Entre Amigos

Sábado passado rumámos ao centro geodésico do País, para um almoço entre bons amigos.

Cabrito lá da quinta assado no forno e excelente de gosto, Coelhos bravos estufados à moda do Álvaro e  Cachaço de porco preto, fizeram as honras da festa. Tudo acompanhado pelas batatas ali criadas e saladas de alface e tomate idem, idem.

De vinhos levaram-se uns espumantes rosés  (região de Baião) para limpar os dentes e desanuviar o palato, antes de passarmos às coisas mais sérias: Quinta do Mouro de 2007 , Vallado Touriga Nacional de 2007, Barca Velha de 1999, tudo em garrafas magnum.

A prova do Mouro foi assim-assim, a do Sr. Barca Velha ainda se revelou excepcional tendo em atenção a idade. Mas o que verdadeiramente deslumbrou foi o Vallado Touriga Nacional, classificado com 95\100 pontos na Wine Spectator e que deu claramente razão à classificação!

Por enquanto ainda se podem fazer destas avarias... Embora o vinhito tenha sido comprado há já alguns anos, no chamado "tempo de gastar". Agora vamos avançando pelo "tempo de amargar".

E não é a mesma coisa! Podem ter a certeza disso...

quarta-feira, outubro 17, 2012

O Cabra da Festa

No Nordeste do Brasil, por alteração do vocábulo popular português "cabrão" e espanhol "cabrón" , utiliza-se ainda hoje muito o termo " o Cabra" ou ainda "o cabra da peste" , "o cabra da mulesta", para designar (imaginem) um homem forte e sem medo. Um personagem valente e perigoso, um verdadeiro "cabrón de mierda" como dizem ali ao lado!

Nesse sentido, o "cabra da festa" é o personagem que, sempre no país-irmão,  normalmente está de guarda à porta da festança , seja ela onde for, para evitar que lá entrem manguelas duvidosos ou que saiam outros ainda mais duvidosos (mas com melhor aspecto) sem pagar.

Mesmo que  o nosso país seja tudo atualmente menos  uma "festa" - embora para alguns foi, é , e continuará a ser uma - era importante existir uma brigada desses "cabras" que controlasse as fugas de capitais, a evasão fiscal, a corrupção e outros fenómenos parecidos que parecem pulular nestes tempos de crise.

Estima-se que as dívidas por cobrar do Estado ascendam a 11 mil milhões de euros, quase 8% do PIB. Este valor, se recuperado, evitaria grande parte do esforço brutal de ajustamento que agora nos é exigido pelo proposto Orçamento de Estado para 2013.

Dizem-nos que se tem progredido muito nessa recuperação, mas a procissão ainda vai no adro. E quando se pedem histericamente alternativas para o obsceno aumento de Impostos, faz pena ver  que nada se  propôe para reforçar a "brigada dos cabras" nestas vertentes de fiscalização que passam cada vez mais pelo controlo do grande capital,  e pela auditoria e inspeção cada vez mais cerrada das contabilidades dos bancos e das grandes empresas multinacionais que alegremente se estabelecem em paraísos fiscais para evitar pagar aqui em Portugal os seus impostos. 

Pelo contrário, é advogada atualmente pela ideologia do regime a diminuição do peso do Estado , por outras palavras, a não substituição ou o despedimento de funcionários públicos.

É que, por muito que custe aos liberais de serviço, a economia paralela que urge combater em Portugal não é apenas a cabeleireira que não passa recibo, ou o mecânico de automóveis que se esquece da fatura...

Quem já se queixou da ASAE fui eu, mas até tenho receio que com estas medidas de aperto de cinto e dispensas de trabalhadores ainda volte ao burgo a moda da sardinha com vareja...


Nota: Em Portugal não há o Cabra da Festa, mas há a Festa da Cabra!! 

 "Festa da Cabra e do Canhoto": Festa tradicional de características únicas, realiza-se a 31 de Outubro, no Concelho de Vinhais.
Segundo a tradição, nesta festa deve-se fazer uma grande fogueira com o "canhoto", nome que se dá ao tronco. O canhoto e toda a lenha que se queima nesta fogueira deverâo ser roubados, pois se não forem roubados diz a tradição que  não ardem.
Nesta fogueira vai ser cozinhada uma cabra em grandes potes, enquanto isso vão-se comendo castanhas assadas, figos secos e nozes.
Nessa noite a aldeia é virada ao contrário, pois a rapaziada vai roubar os vasos das flores e espalha-los pelas ruas, viram ao contrário os carros de bois e carroças de animais. Nessa noite também um carro de bois percorre a aldeia puxado pelos rapazes, com as atarraxas bem apertadas para cantar bem alto e não deixar dormir ninguém.
É um lugar de festa e convívio, trocam-se notícias de amigos e familiares ausentes, encontram-se os amigos numa noite animada.

Fonte: Origens.pt

terça-feira, outubro 16, 2012

Ai que Dói!

Dói-lhes alguma coisa amigos? Pois a mim também...
Nem sei do que seja.

Acordei desta maneira, uma espécie de colite misturada com a inflamação da vesícula... E que dá uma azia que até parece que passei a noite a comer caramujos...

Pode ser da apresentação do Orçamento de Estado para 2013?

Talvez. Depois , durante a discussão na AR,  logo se vê se os sintomas se agravam ou não. Mas é provável que sim. Ou me engano muito ou muitos dos portugueses "ricos" vão passar a grande parte do ano que vem com grandes diarreias e sem dormir, a dar voltas na cama, enquanto têm cama.

Grande fotografia a que junto , não acham?

- "As nossas Armas são estas!"

Dizia a jovem exibindo os seus dotes sem pudores.

Ah Grande Marianne!


Nota: Fotografia por cortesia do Correio da Manhã.

segunda-feira, outubro 15, 2012

Cozinha à Gaspar: Aproveitamentos

Muitas vezes vemo-nos com sobras de cozido à portuguesa em casa. A forma mais conhecida de fazer esse aproveitamento é na Tortilha à Espanhola, mas para quem se está a defender um pouco das fritadas deixo aqui hoje uma alternativa - que fiz no Domingo lá em casa - e que consiste num "Arroz de Forno de Substância".

Tirei a ideia desta receita de um prato emblemático da "Tia Alice" em Fátima, mas já na casa de meus sogros se faziam estes tabuleiros de forno com carnes e fumados previamente cozidos, não para aproveitamentos - os porcos e as galinhas davam cabo de todas as sobras -  mas quando se queria desenjoar das batatas cozidas com os enchidos e as couves.

Para começar escolham muito bem as carnes do cozido, retirando a pele aos bocados das farinheiras e aos troços de chouriço, e desfiando a carne de vaca e de porco que tenha ficado. Depois cozam um chouriço gordo (aqui tem de ser um chouriço novo, crú) e aproveitem a água para o arroz.

Façam uma puxadinha leve de cebola fininha , alho e sal com bom azeite, num tacho de fundo espesso. Quando a cebola ficar transparente deitem um copito de vinho branco para refrescar e deixem alourar mais uns minutos. Depois fritem o arroz (do vaporizado) e deixem cozer sem ficar muito espapaçado, praticamente "al dente".

Já sabem que a medida - como vai para o forno - deve ser de uma chávena de arroz para duas e meia da água onde cozeram o chouriço.

Estando o arroz cozido começem por cobrir com ele o fundo de um tabuleiro. Depois deitem as carnes todas desfiadas à mão. Acabem com o resto do arroz e alisem por cima.

Decorem com os troços do chouriço que cozeram nesse dia e vai ao forno a uns 170º por uma hora mais ou menos, vão controlando sff.

Com uma salada e um tinto Vallado de 2009 (colheita) espero que lhes faça bom proveito e sirva para esquecer um pouco a cabra da crise.

Nota: Em querendo fazer este prato "à moda dos ricos remediados" isto é, com as carnes e enchidos de raiz, basta cozerem os mesmos como se fosse para o cozido, aproveitar essa água e depois fazer tudo igual ao que descrevi acima.

Chicotada Açoreana

O Governo começou a colher aquilo que semeou. Nos Açores o PS reforça a Maioria Absoluta depois e apesar  de 16 anos  de governação socialista, não dando razão a quem vaticinava (com alguma perspicácia, mas antes das medidas "colossais") que estava na altura da alternância democrática no Arquipélago.

Se a "moda" pega no Continente, é de esperar choro e ranger de dentes nos aparelhos do  PSD e CDS lá mais para o ano que vem.

A não ser que Passos Coelho volte atrás na estratégia demolidora da classe média que tem vindo a implementar...

E, aqui para nós e sabendo como está tanta gente a ter insónias só a pensar como vai poupar para pagar o IRS, já nem sei se preferiria isso mesmo, o atalhar deste caminho de miséria já, ou dar mais umas "nalgadas sérias" ao Governo nas autárquicas, para que o susto fosse ainda maior...

De todas as formas o aviso está dado. E para bom entendedor meia palavra costuma bastar. Mesmo que seja  em sotaque ilhéu, de S. Miguel.

quinta-feira, outubro 11, 2012

Antecipação poética

Amanhã não passo por aqui, tenho que fazer com a minha Santa cá de baixo.

Médicos e doutores outra vez... Mas no caso dela ( e Graças a Deus) é a revisão do milhão de km!!

Já lá não chego eu...

Vamos então aos poemas.

Em louvor da vida saudável e longa, aqui vai esta peça  de Fernanda de Castro, autêntico hino de paz neste Outono da vida:

Alma Serena

Alma serena, a consciência pura,
assim eu quero a vida que me resta.
Saudade não é dor nem amargura,
dilui-se ao longe a derradeira festa.

Não me tentam as rotas da aventura,
agora sei que a minha estrada é esta:
difícil de subir, áspera e dura,
mas branca a urze, de oiro puro a giesta.

Assim meu canto fácil de entender,
como chuva a cair, planta a nascer,
como raiz na terra, água corrente.

Tão fácil o difícil verso obscuro!
Eu não canto, porém, atrás dum muro,
eu canto ao sol e para toda a gente.
Fernanda de Castro, in "Ronda das Horas Lentas"


Agora de meu mestre Borges, aqui fica um lamento em laia de remorso: não fui feliz!

Por muito que os alcatruzes da nora girem ao contrário é cada vez mais importante não nos esquecermos de ser felizes... Mesmo que substituindo o bife do lombo pelo carapau negrão!

 E nunca se esqueçam do que escreveu Ferran Adrià (El Bule) : "Mais vale uma bela sardinha que uma lagosta medíocre!"

O Remorso

Cometi o pior desses pecados
Que podem cometer-se. Não fui sendo
Feliz. Que os glaciares do esquecimento
Me arrastem e me percam, despiedados.
Plos meus pais fui gerado para o jogo
Arriscado e tão belo que é a vida,
Para a terra e a água, o ar, o fogo.
Defraudei-os. Não fui feliz. Cumprida
Não foi sua vontade. A minha mente
Aplicou-se às simétricas porfias
Da arte, que entretece ninharias.
Valentia eu herdei. Não fui valente.
Não me abandona. Está sempre ao meu lado
A sombra de ter sido um desgraçado.

Jorge Luis Borges, in "A Moeda de Ferro"
Tradução de Fernando Pinto do Amaral


Médicos e Doutores

Ontem eu e o senhorio tínhamos a revisão habitual. Dos 100 000 km para mim e dos 50 000 km para ele.

Tínhamos de ir ver o estado em que se encontravam os velhos amigos (meus, porque dele são ainda novos) Zé Castrol, Tia Betes, Joca da Pensão (arterial) e por aí fora.

Enquanto esperávamos pelo "mecânico encartado" houve que comer qualquer coisinha. Tenho uma mania que consiste em nunca comer antes destas revisões, não vá o médico (apesar de nosso amigo)  ainda mais me chatear por causa do peso se se deparar com o barril atestado na altura da apalpação. Para além disso levo-lhe sempre 2 garrafitas de bom tinto, para mais amenizar a conversa à roda desse assunto meio tabu.

Mas ontem o "senhorio" parecia que estava esganado e não abdicou de se sentar à mesa.

Ali bem perto do consultório do Amigo e Doutor Cantiga encontrámos um paradouro numa meia cave:

Restaurante Ninho do Ouriço
Av. Defensores de Chaves 69, D

Pratos a cinco euros e meio. Vinho havia o da casa, em jarros. Pãozinho bom  na mesa. Azeitonas temperadas, um prato de cozido e outro de carapaus com molho à espanhola, uma meia de branco (era de Sobral do Monte Agraço e muito razoável). Um queijito para sobremesa. 2 cafés. Tudo isto por ...15 euros.

Serviu para desenjoar das outras vezes em que só o couvert custa isso. Por pessoa...

E notas do que se comeu? Bem, as doses eram pequenas (não há milagres) mas a qualidade era muito boa. Cozido bem feito e nada a extravasar de carnes gordas, um belo carapau "negrão" fresco a ocupar um prato inteiro, vinho, como já disse, muito aceitável pelo preço.

Depois no médico é que foram elas... ainda por cima o estupor do homem tem corpo e alma de maratonista... E - nouance fatal -  como me tinha esquecido do vinho levei-lhe o nosso último livro sobre o Rio Douro. Bela prenda, mas...não era a mesma coisa...

Em conclusão: ouvi das boas.  Se fosse na Inspeção Periódica Obrigatória dos automóveis tinha chumbado e mandado lá ir outra vez depois de arranjar algumas das maleitas.

E já tenho outra "revisão" marcada para Dezembro. O gajo ainda me disse:

-" É para preparar bem o Natal! He, He, He..."

Tenho de escrever no Black Berry uma nota para mim próprio para não me esquecer do vinho, senão estou bem tramado... Nem as filhoses me servem de proveito...

Mas porque razão não arranjei eu um médico gordo e anafado, que fumava e bebia whisky mais que um jornalista da Bola em noite de Quarta Feira europeia, como era o do meu Pai, e que nunca o chateou enquanto viveu?

Resposta: Esse médico já faleceu... E relativamente novo Caraças!

quarta-feira, outubro 10, 2012

Teias da Ignorância no Universo Fiscal

O meu "bi-colega" Miguel Esteves Cardoso (primeiro andámos juntos nos 2 últimos anos do Liceu, em  S. João do Estoril e depois no ISCTE fomos assistentes na mesma altura) fala hoje na sua crónica diária sobre aquela frase célebre de um físico americano:
"Existe no mundo físico um oceano de desconhecimento que rodeia a ilha daquilo que sabemos por todos os lados. Quanto mais cresce a ilha , quanto mais julgamos saber, mais cresce também a costa da nossa ignorância".

E é bem verdade. Mas essa "ignorância" nunca foi tão perigosa  - sobretudo no relacionamento com o Estado e a Autoridade Fiscal - como neste momento.

Reparem que na sua vertente mais otimista de encarar a vida, muitos restauradores diziam sobre o aumento do IVA  de 13% para 23%:
- "Temos que aguentar e não fazer refletir nos preços estes 10% do aumento..."

Quando na verdade, de 13% para 23%  é mesmo  um acréscimo de quase 80%!! E a  AHRESP tanto tem insistido no esclarecimento cabal deste ponto que atualmente já serão muito poucos os seus associados que ainda pensam daquela maneira.

As SCUDS  têm agora 15% de desconto para "toda a gente" ! Quer isto dizer que a partir da 6ª ou da 7ª vez que uma viatura por lá passar estará a passar "à borla"?  6 x 15% sempre são 90%!

Claro que não! Cada vez que passarmos pelos "portais" lá vai o Gaspar outra vez à continha bancária do automobilista impetrante!! E se passarmos 6 vezes , irá lá ao mesmo local 6 vezes tirar o dinheirinho!

O IMI, para o ano que vem,  vai dar conta da vidinha de muita gente. Anulada a precaução legal que impedia aumentos superiores a 75€ em 2013 e 2014, é provável que a maioria dos proprietários veja a sua "contribuição" bastante inflacionada face ao que pagou em 2012.
 Vejam aqui um artigo explicativo sff:


Mas não paguem sem ler atentamente os detalhes das reavaliações! Existe já jurisprudência do Supremo Tribunal Administrativo que aconselha todo o cuidado ao contribuinte em relação a esse ponto fulcral,  que é o seu direito em saber quais os argumentos que levaram o Estado a reavaliar por determinado valor.

Aqui também podem ler sobre este assunto:


Finalmente, como podem os trabalhadores por conta de outrém "safar-se" desta maresia?  Eles  que já não sabemos bem se  têm direito a qualquer tipo de dedução em sede de IRS , os tais "ricos" de que aqui falava um destes dias, e que tudo indica que sejam (para confirmar no Orçamento de Estado) famílias com mais de 45000€ brutos de rendimento por ano em 2013?

Vejam também aqui sff este excelente artigo de Paula Cravina de Sousa:

http://economico.sapo.pt/noticias/nprint/152252.html

E ainda cito, de diversas publicações especializadas:

"De uma forma geral,  e e para a maioria dos portugueses, o aumento dos impostos em 2013 será sentido particularmente  ao nível das referidas deduções. Pela primeira vez, as deduções permitidas em sede de IRS serão sujeitas a um valor que englobarão todas as deduções – saúde, educação, casa, etc."

 "Quando no próximo ano começarem a ser entregues as declarações de IRS referentes aos rendimentos obtidos em 2012, a generalidade dos portugueses vai confrontar-se pela primeira vez com um valor global para o conjunto das deduções (saúde, educação, casa, seguros) fiscais que oscila entre os 1250 e os 1100 euros. E os rendimentos acima de 66045 euros perdem totalmente o direito a beneficiar destas deduções."


Na ressaca de tanta violência de Estado como devemos encarar  aquele  "grave problema" da bandeira nacional invertida na Praça do Município, a 5 de Outubro?

Como diria o Zé Povinho:

-" A bandeira  que se f...coiso ...carago! Eu quero saber é onde pára o meu pilim!!"

Ele e nós...

terça-feira, outubro 09, 2012

Dia Mundial dos Correios

Celebramos hoje o Dia Mundial de Correios em todo o mundo.

Aqui vos deixo a mensagem sobre o mesmo assunto publicada pela União Postal Universal - UPU:

 

9 October

World Post Day is celebrated each year on 9 October, the anniversary of the establishment of the Universal Postal Union (UPU) in 1874 in the Swiss capital, Bern. It was declared World Post Day by the UPU Congress held in Tokyo, Japan, in 1969.

Awareness

The purpose of World Post Day is to create awareness of the role of the postal sector in people’s and businesses’ everyday lives and its contribution to the social and economic development of countries. The celebration encourages member countries to undertake programme activities aimed at generating a broader awareness of their Post’s role and activities among the public and media on a national scale.

New products and services

Every year, more than 150 countries celebrate World Post Day in a variety of ways. In certain countries, World Post Day is observed as a working holiday. Many Posts use the event to introduce or promote new postal products and services. Some Posts also use World Post Day to reward their employees for good service.
In many countries, philatelic exhibitions are organized and new stamps and date cancellation marks are issued. Other activities include the display of World Post Day posters in post offices and other public places, open days at post offices, mail centers and postal museums, the holding of conferences, seminars and workshops, as well as cultural, sport and other recreational activities. Many postal administrations issue special souvenirs such as T-shirts and badges.

Aqui em Lisboa lançamos hoje na Fundação Portuguesa das Comunicações duas emissões filatélicas : Os selos "Correio Escolar" realizados por crianças das nossas escolas e a 2ª série de 2012 das Etiquetas de Franquia, evocadoras do Ano Internacional das Energias Sustentáveis .

À noite teremos a imposição das insígnias de antiguidade e de bons serviços aos trabalhadores dos CTT com 36 e 40 anos de serviço ativo. Lá estarei para dar um abraço aos  colegas da Filatelia que vão ser homenageados. 

segunda-feira, outubro 08, 2012

A "Mamuda" era no Restaurante Montenegro!

Agradeço a um dos nossos leitores, que a propósito do Post sobre o Restaurante "Adega Vila Meã", esclareceu o nome do mítico paradeiro da grande cozinheira que foi conhecida no Porto por "Mamuda":

Era o Restaurante Montenegro, na Rua de Entreparedes (à Batalha).

Traços dos manjares do Montenegro ainda podem ser hoje provados na Invicta, no Restaurante "Casa Nanda" , aberto por uma sobrinha da famosa Mamuda e que fica ali para a Rua da Alegria, perto da Cooperativa dos Pedreiros , local onde oficiava o grande senhor da restauração portista que foi o Sr. Azevedo, infelizmente já falecido, do Restaurante Portucale.

Et tu Brute?

"Até tu Brutus?" Assim Julio César se dirige ao seu "amigo" Brutus, que o acabara de assassinar,  na imortal peça de William Shakespeare.

Pois dei comigo a sorrir (porque rir saíu de moda nesta conjuntura) quando li o habitual comentário de João Carlos Espada no Público desta Segunda Feira, queixando-se da última decisão governamental e arrepelando os cabelos pelo que de mal esta 
 subida de impostos fará à tal Classe Média (que parece andar escondida,  com medo que ainda mais lhe metam o dedo no**).

O Espada? Esse neo-liberal convicto? O inimigo de Sócrates  e de todos os socialismos?  Onde chegámos...

Por outro lado, já o inefável Prof. Marcelo parece ter feito marcha à ré na sua diatribe contra as medidas governamentais. Quem o viu ontem  entendeu  que o homem terá finalmente caído em si e chegado à conclusão que para ter contratos chorudos com o establishment faz mister manter a bocarra mais fechada e contida em relação à crítica (exceto contra o Paulinho... Aí parece que lhe deram rédea solta. Et pour cause...).

Só por acaso apareceu hoje a notícia que foi ele mesmo, o  Sr. Prof. Marcelo, o causídico escolhido por Portugal para esclarecer com o Governo de Angola algumas desavenças que metem diamantes à mistura. Por acaso, repito.

A posição do Dr. Espada (antigo vizinho da minha santa cá de baixo, da mesma rua) compreende-se: um homem começa a ter mesmo que ver bem para que lado lhe caem as moedas... E estando o "Moedas" neste propósito estranho de esmifrar tudo o que mexe, rico, pobre ou remediado, mal feito fora que os remediados não se revoltassem.

E não será o último.

Teremos em potência aqui no retângulo uma revolta tão abrangente que nem Estaline, Marx ou Mao sonharam com ela: uma revolução que mete todas as classes lá dentro, exceto a meia dúzia de senhores feudais que terão "feito este cozinhado desde o princípio". O problema é que ainda são esses que distribuem o pão e a cerveja por quem querem, misturando isso tudo com umas atividades circenses para o Povo se distrair do principal.

Começei com a velha Roma e termino com a mesma. Apenas tenho dúvidas  se o estado atual do país tem mais a ver com o louco do Calígula ou com o velho Teodósius, o último Imperador digno desse nome , o que dividiu o Império entre o Ocidente e o Oriente...

Nota: O Quadro "Imperador Teodósius é impedido por Santo Ambrósio de entrar na Catedral de Milão" é de Van Dyck e está em Londres (National Gallery).


quinta-feira, outubro 04, 2012

Dia da República

Antecipo hoje  o último Feriado evocativo do Dia da implantação da República.

Acaba este ano. Em 2013 já não há. Tal como o 1º de Dezembro deixará de ser comemorado.

Por aqui, havendo cada vez menos Portugal,  porque raio se comemoraria a Implantação da República??!! Ou, já agora , o Dia da Independência Nacional?

Deixando de lado a amargura, esquecendo quantas vezes a prática da governação republicana foi funesta e mal conduzida - há quem derive dessas primícias de 1910 grande parte dos males que hoje nos assolam -  ergo a voz e   louvo os ideais , a candura e a pureza do espírito republicano.

Viva a República!



Viram por aí a minha cabeça?!

Perdi ontem a cabeça.

 Não dei logo por isso. Estava a acabar o almoço com o Prof. Carlos Fabião, antecipando a apresentação do nosso Livro da Arqueologia no Estoril, quando o "senhorio" vai de enviar SMS's com tal vigor e sequência que pareciam nascidos de alguma raiva interior. Ou isso ou então ter-lhe-ia dado uma "travadinha" daquelas que deixam o visado com as mãos a tremelicar...

O homem Gaspar tinha anunciado ao pobre Portugal mais um cabaz de Natal... A distribuir pelo ano que vem ( e seguintes) tendo por objetivo final proceder à exterminação do que resta da classe média. O Governo de Passos Coelho e (cada vez menos ) de Paulo Portas está transformado numa Comissão Liquidatária Ativa dos Remediados Ainda Vivos.

Está claro que esta coisa de perder a cabeça foi por graus. Só mais tarde, quando começei a ouvir os comentadores nas TV's,  é que me apercebi da dimensão da "porrada" que me fez perder "la tête" de vez.

A definição de rico e poderoso neste nosso Portugal é estranha. Parece que qualquer casal com  filhos a estudar e que tem uma hipoteca da casa, e pediu algum emprestado para um carrito familiar, recebendo brutos cerca de 70000€ por ano, é rico e poderoso.

Esse casal , depois de impostos e de pagar a hipoteca, mais o empréstimo do carro, ficará hoje com um rendimento mensal liquido de pouco mais de 1200€ por mês para pagar as suas obrigações: IMI, condomínio, água, electricidade, TV cabo, transportes, gasóleo, escola ou faculdade dos  filhos, respetivos livros, comer e vestir... Já me esquecia: também para medicamentos.

Depois do que se viu e ouviu ontem, o mesmo casal deve passar (em estimativa, ainda não há certezas, só depois de ver os escalões do IRS novos) a dispor mensalmente para as mesmas despesas de pouco mais de 1000€. 

Mas que porcos fascistas milionários !! Ainda se atrevem a abrir a boca com 1000€ para gastar por mês!!

Aristocratas de um raio! À guilhotina já!

Já nem digo mais nada enquanto não encontrar a minha cabeça. Se a virem (é grande, vê-se bem) podem enviar para aqui para o Báltico, ou então deixá-la no Beira Mar,  que quando receber um dos subsídios que me prometeram para o ano passo por lá.

quarta-feira, outubro 03, 2012

Apresentação do Livro "Arqueologia" no Estoril

Os CTT em devido tempo ofereceram à autarquia de Cascais o andar cimeiro da histórica Estação de Correios do Estoril (com traço do arquiteto modernista Adelino Nunes) para ali a mesma entidade criar o Museu- Memória dos Exílios, dedicado a evocar tantas personalidades que se alojaram em Cascais durante a Segunda Grande Guerra.

Vejam aqui sff: http://www.cm-cascais.pt/equipamento/espaco-memoria-dos-exilios


Nesse local apresentamos hoje o Livro de nossa Edição "Uma História da Arquelogia Portuguesa" do grande especialista Prof. Doutor Carlos Fabião, Professor associado da FL-UL, mestre de arqueólogos, autor de cerca de centena e meia de títulos dedicados à sua ciência, entre monografias, estudos científicos e livros propriamente ditos.

Para os CTT já nos tinha também escrito " A Herança Romana em Portugal".

Apareçam pelas 17,30h!! A entrada é livre e  as charlas do Prof. Fabião são sempre impressionantes de sentido de humor e de rigor científico!

A Exposição Nacional e Multilateral de Ílhavo - Organização dos Galitos

Ontem não passei por aqui, foi diretamente para a inauguração da exposição referida no título, a maior deste ano em Portugal.

Debaixo da égide da autarquia - Engº Ribau Esteves, a quem tiro o chapéu pelo belo trabalho que vem realizando - e enquadrados pela arquitetura excelente do Museu Marítimo de Ílhavo , lá fizémos a abertura do certame.

Pouca gente? Sinal dos tempos, talvez estivessem umas 50 pessoas... mas o Clube organizador, os "clássicos" Galitos de Aveiro , não tem culpa da forma como a conjuntura estendeu assim tapetes tão escorregadios a quem , neste país e hoje em dia, ainda se mete a estes trabalhos.

Essa talvez a maior causa de admiração: haver ainda quem dispôe de tempo e de cabedais próprios para andar metido em tarefas de pura cidadania e associativismo, tanto aqui - na filatelia organizada - como em tantas outras vertentes da nossa vida pública.

À conversa com os representantes das Filatelias Croata e Grega quase que tive ocasião para sorrir para dentro, já que, como dizia o brasileiro, "pimenta no cú dos outros é refresco"... A situação de vendas filatélicas em ambos os países está desastrosa. Enquanto que em Portugal vamos com desvios negativos de 20% em relação aos anos passados, lá naqueles países podem multiplicar esse "prejuízo" por duas vezes... Ou mais.

Passem pelo Museu e aproveitem para ver boas coleções, peças raras e dar ainda uma espreitadela pelos quadros oriundos da Grécia e Croácia.

segunda-feira, outubro 01, 2012

Alguns Resultados do Congresso da UPU

Como sabem fui para Doha tentando fazer aprovar a reconstituição da Associação Mundial para o Desenvolvimento da Filatelia para o próximo período 2012-2016. Da mesma forma essa aprovação teria inerente a minha nomeação para mais um período de trabalho à frente da dita Associação.

Houve necessidade de algumas jogadas de bastidores  para resolver pequenos  litígios com os países do Norte da Europa, no seu afâ horizontal de reduzir custos de operação - coisa que, aqui para nós,  os "qatarenses"  e quejandos vizinhos muito devem ter estranhado.

Mas conseguimos ultrapassar tudo e  fazer aprovar por Unanimidade a proposta de Portugal e Finlândia  - a "cara" da Europa do Norte que conseguimos finalmente  co-optar para a nossa proposta.

Aqui fica a proposta. Desculpem por ser um pouco longa.

FINLANDE, PORTUGAL
Résolution
Développement de la philatélie
1
Le Congrès,
notant
que la vente de timbres-poste et des produits philatéliques constitue une source de revenus importante pour
de nombreuses autorités émettrices de timbres-poste (ci-après comprenant les opérateurs désignés,
le cas échéant) notamment celles des pays en développement,
notant également
que l'appui, l'engagement et l'excellente coopération entre les partenaires du secteur philatélique sont
essentiels au succès du marché de la philatélie,
rappelant
que le 24
e Congrès, par sa résolution C 36/2008, a établi un plan d'action pour le développement de la philatélie

parce que:
– la philatélie constitue une partie importante des activités du secteur postal et apporte un soutien
appréciable  aux autorités émettrices de timbres-poste et au développement
postal en général;
– les timbres-poste et les produits philatéliques dérivés continuent de représenter une source de revenus
importante, tant lorsqu'ils sont utilisés à des fins normales d'affranchissement postal que dans un
but commercial et philatélique;
– les timbres-poste donnent au service postal une image de marque spécifique qui le distingue des
services de distribution du secteur privé;
– les timbres-poste continuent de jouer un rôle d'ambassadeur pour les pays et leurs autorités émettrices de timbres-poste, non seulement sur le plan national mais aussi sur le plan
international;
– l'utilisation accrue des timbres-poste par le secteur privé, notamment par des entreprises de marketing
direct ou par le biais de timbres personnalisés, apporte à la promotion du service postal des avantages
supplémentaires,
conscient
que de nombreux Pays-membres transforment leurs anciens opérateurs désignés en entreprises commerciales
et introduisent la concurrence sur le marché de la poste aux lettres, mais que peu ont réellement examiné
la question de la philatélie au cours de ce processus,
considérant
que les expériences des  autorités émettrices de timbres-poste dont les pays se sont
déjà engagés dans cette voie peuvent être riches d'enseignements pour les autres,
reconnaissant
que l'émission de timbres-poste en tant que symboles et images de marque d'un pays et de ses autorités émettrices de timbres-poste nécessite une attention particulière et la désignation
d'une autorité officielle unique à cet effet,
2
notant avec satisfaction
la mise en place du système mondial de numérotation des timbres-poste en tant que moyen d'enregistrement
et de vérification des émissions légales et le développement de ce système,
prie instamment

– les  Pays-membres:
·
de demander aux  autorités émettrices de timbres-poste, lorsqu'ils émettent
des timbres, de prendre en considération les besoins des consommateurs des services postaux
de base et des collectionneurs ainsi que la valeur sociale et culturelle des timbres;

·
d'examiner comme il se doit les questions réglementaires relatives à l'émission des timbres et à
la philatélie, y compris les lois sur les droits d'auteur et la propriété intellectuelle;

·
de mettre en place des dispositifs juridiques pour garantir le droit des  autorités
émettrices de timbres-poste d’émettre des timbres-poste conformément à la Convention de
l’UPU, et tout particulièrement pour les timbres personnalisés;

·
de participer à l’alimentation des contributions affectées pour le développement de la philatélie
pour faire face aux besoins urgents, en premier lieu dans le domaine de la formation;

·
de s’assurer que les autorités émettrices de timbres-poste participent pleinement au système
mondial de numérotation des timbres-poste;

·
de surveiller le marché philatélique pour garantir le respect des lois nationales en matière
d’émission de timbres et de faire tout leur possible pour supprimer ou prévenir les abus;

·
de fournir à l’UPU des informations sur l’évolution du marché;
·
d'adopter et de mettre en oeuvre des pratiques exemplaires permettant de garantir la participation
des parties intéressées au niveau national ainsi que leur coopération et leur soutien au
niveau international,

charge
le Conseil d'exploitation postale:
– de continuer à dialoguer avec les partenaires du secteur philatélique et de coordonner les activités en
matière de développement de la philatélie;
– de poursuivre ses travaux pour déterminer les moyens les plus efficaces d'informer les membres et le
secteur philatélique des timbres-poste officiellement émis par les  autorités
émettrices de timbres-poste;
– de continuer à promouvoir l'application de pratiques exemplaires et de principes commerciaux solides
dans le secteur philatélique, grâce à une formation et à des activités ciblées;
– de poursuivre la mise en oeuvre des programmes de formation pour les autorités
émettrices de timbres-poste intégrant l’innovation, des techniques de développement du marché de la
philatélie, l’utilisation des nouvelles technologies, des techniques permettant une meilleure sécurité
des émissions de timbres-poste ainsi que le respect de l’environnement et du développement durable;
– de mettre en oeuvre une stratégie encourageant les Pays-membres à inclure dans les programmes
philatéliques annuels des thèmes planétaires sollicités par des institutions des Nations
Unies;
– d’étudier la fusion entre le système mondial de numérotation et le système d’échange des timbresposte
(art. RL 113 du Règlement de la poste aux lettres) afin de réduire les coûts.