sexta-feira, maio 18, 2012

Para Descansar a Vista, nas plantas!

Hoje, Dia Mundial do Fascínio das Plantas, é tempo para pensarmos um pouco nesta "gente" verde que nos acolhe, nos permite respirar, nos alimenta e nos protege, nos encanta simplesmente por existir.

São todas dignas de proteção e de respeito, desde a mais bela orquídea madeirense até à vetusta contenção e incomparável dignidade de um  carvalho beirão!


O Jardim

Consideremos o jardim, mundo de pequenas coisas,
calhaus, pétalas, folhas, dedos, línguas, sementes.
Sequências de convergências e divergências,
ordem e dispersões, transparência de estruturas,
pausas de areia e de água, fábulas minúsculas.

Geometria que respira errante e ritmada,
varandas verdes, direcções de primavera,
ramos em que se regressa ao espaço azul,
curvas vagarosas, pulsações de uma ordem
composta pelo vento em sinuosas palmas.

Um murmúrio de omissões, um cântico do ócio.
Eu vou contigo, voz silenciosa, voz serena.
Sou uma pequena folha na felicidade do ar.
Durmo desperto, sigo estes meandros volúveis.
É aqui, é aqui que se renova a luz.

António Ramos Rosa, in "Volante Verde"

Nota biográfica por cortesia de "Sapo-Poesia":

António Ramos Rosa nasceu em Faro, a 17 de Outubro de 1924, e aí viveu durante a sua juventude até se mudar definitivamente para Lisboa, em 1962. Dele pode dizer-se que literalmente a sua vida se confunde com a poesia, tendo sido a sua casa sempre um espaço informal de acolhimento e intercâmbio com outros poetas e leitores de poesia, tanto portugueses como estrangeiros. A sua personalidade e obra têm merecido a distinção de prémios literários nacionais e internacionais, confirmando a importância do seu percurso literário com a atribuição do Prémio Pessoa, em 1988.

Com quase meio século de actividade poética, António Ramos Rosa é um autor não só fértil, mas também dedicado à própria fertilidade simbólica das palavras. É um poeta das imagens e dos gestos, abraçados por um sentido muito vivo e preciso de ser um corpo animado pelo contacto profundo com as coisas do mundo e da natureza. Poderia dizer-se que António Ramos Rosa, em cada poema, procura cercas as palavras de um sopro que efectivamente as anime e as torne mais próximas das coisas que evocam. É um escrita de tom quase epidérmico, e pelo facto de constituir uma obra tão vasta, podemos encontrar uma miríade de variações na expressão, que vagueiam desde a presença dramática das paixões que afligem o ser humano, à tentativa de concretizar através das palavras a alegria de viver de um momento feito símbolo pela presença de uma resposta da natureza...

O último livro que editou intitula-se Cada árvore é um ser para ser em nós, e constitui uma parceria com o fotógrafo Paulo Gaspar Ferreira, autor das fotografias que acompanham os poemas de A. R. Rosa – uma árvore na Granja de Belgais (Castelo Branco), junto da qual foram igualmente efectuados registos sonoros que figuram num CD anexo ao livro. É uma obra verdadeiramente belíssima, cheia de frescura e imagens de profundo requinte poético, que vale certamente a pena por se apresentar como uma composição muito completa em torno do tema da árvore, tratado de forma humanizada...

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