Ana Paula Pacheco, Professora do Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da USP, fala sobre esta obra notável:
"Em Grande sertão: veredas, o humor relativo às relações entre jagunços (homens "provisórios" e desconfiados) e proprietários (cuja calma bovina é sempre ardilosa) dá conta, até certo ponto, de apontar as razões para a suspensão da representação dos conflitos, visto que independência e submissão ao senhorio são inconciliáveis. A invenção rosiana dessa independência é um ponto sobre o qual gostaria de me estender em seguida, mas vale sublinhar desde já que, no mito dos heróis jagunços, torna-se modelar a história de poucos; nos termos do livro: organização grupal, à margem não só da ordem, como do capital, por parte dos homens (livres?) do sertão, não detentores de bens (seja porque os abandonaram, seja porque nunca os possuíram)."

- "Tás feito um Jagunço oh desgraçado!"
- "Isto é que me saíste um Jagunço! Então são horas de chegares a casa??!!"
- "Oh Jagunço traz mais um fino e mexe-me esse cú carago!"
Sem saber muito bem porquê dei comigo a pensar como este, digamos assim, lumpenproletariado - passando por cima de teorias sociológicas e económicas que bastem - do século XIX e XX, quase já extinto em Minas Gerais quando Rosa publicou "Grande Sertão" , podia renascer noutras paragens, na nossa Europa, devido à crise económica e financeira que atanaza tanta família por aqui.
O que são os Jagunços , afinal, se não um protótipo dos "guerreiros do apocalipse" de Moebius (o pseudónimo do enorme Jean Giraud, pai do Métal Hurlant, desenhador de Arzach , Blueberry e de tantas coisas mais)?
Nestas épocas de desagregação social e económica, só nos faltava mesmo o aparecimento destas tribos de gente sem eira nem beira, sem posses nem terras, sem patrões nem lealdades, mas Livres.
Nenhum comentário:
Postar um comentário