Ana Paula Pacheco, Professora do Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da USP, fala sobre esta obra notável:
"Em Grande sertão: veredas, o humor relativo às relações entre jagunços (homens "provisórios" e desconfiados) e proprietários (cuja calma bovina é sempre ardilosa) dá conta, até certo ponto, de apontar as razões para a suspensão da representação dos conflitos, visto que independência e submissão ao senhorio são inconciliáveis. A invenção rosiana dessa independência é um ponto sobre o qual gostaria de me estender em seguida, mas vale sublinhar desde já que, no mito dos heróis jagunços, torna-se modelar a história de poucos; nos termos do livro: organização grupal, à margem não só da ordem, como do capital, por parte dos homens (livres?) do sertão, não detentores de bens (seja porque os abandonaram, seja porque nunca os possuíram)."
Os mais antigos lembram-se dos Jagunços da "Gabriela", obra-prima de Jorge Amado que nos prendia à TV lá para 74 e 75. E da forma como o termo "Jagunço" entrou no nosso vocabulário de então:
- "Tás feito um Jagunço oh desgraçado!"
- "Isto é que me saíste um Jagunço! Então são horas de chegares a casa??!!"
- "Oh Jagunço traz mais um fino e mexe-me esse cú carago!"
Sem saber muito bem porquê dei comigo a pensar como este, digamos assim, lumpenproletariado - passando por cima de teorias sociológicas e económicas que bastem - do século XIX e XX, quase já extinto em Minas Gerais quando Rosa publicou "Grande Sertão" , podia renascer noutras paragens, na nossa Europa, devido à crise económica e financeira que atanaza tanta família por aqui.
O que são os Jagunços , afinal, se não um protótipo dos "guerreiros do apocalipse" de Moebius (o pseudónimo do enorme Jean Giraud, pai do Métal Hurlant, desenhador de Arzach , Blueberry e de tantas coisas mais)?
Nestas épocas de desagregação social e económica, só nos faltava mesmo o aparecimento destas tribos de gente sem eira nem beira, sem posses nem terras, sem patrões nem lealdades, mas Livres.
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