Temos a tentação de comparar esta situação com o que se passou em Paris, nos bairros da periferia, há 6 anos atrás. Tratava-se de uma reacção das camadas mais pobres da população ( e jovens sobretudo) contra o magro futuro que viam à sua frente: desemprego, falência dos sistemas de protecção social, limites à emigração, etc, etc...
Pode ser que em Londres sejam as mesmas variáveis que estejam na base dos disturbios, não importando mesmo nada qual foi o pretexto... Mesmo em Paris, em 2005\6, acho que já ninguém se lembra do pretexto para se começarem a incendiar pneus,. assaltar esquadras de polícia, partir e pilhar lojas , autocarros e outras coisas mais.
São os marginais, os gangs da noite, a malta da droga, que estão na base destas coisas? Acho que não... Agora que se aproveitam destas "válvulas de escape", da inquietação e descontentamento geral, isso é bem certo. Estão organizados, estão armados, têm a noção dos locais que vale a pena pilhar e obviamente alimentam-se destas situações. Engordam à custa da violência e da pilhagem desenfreada....
Vital Moreira, em Novembro de 2005, escrevia o seguinte sobre a situação no "Banlieu de Paris":
"É evidente que a prioridade é acabar rapidamente com a onda de violência e restabelecer a ordem e a segurança pública nas cidades francesas. Mas seria ilusório pensar que depois tudo pode ficar na mesma, com a prisão e condenação de algumas dezenas de responsáveis pelas destruições ocorridas. A situação de crise que os gravíssimos desacatos em Paris e noutras cidades francesas vieram evidenciar carece de respostas políticas de fundo que proporcionem uma esperança de vida decente e digna para todos os que habitam os subúrbios degradados por essa Europa fora. Quando Paris está a arder, convém lembrar que nem só ela é combustível..."
Palavras premonitórias...Nada se fez para dar esperança às classes mais desfavorecidas. E a situação de Crise económica e financeira em que o mundo ocidental está imerso cada vez mais torna difícil obter os meios que são necessários para tomar essas medidas de apoio. Pelo contrário, os Governos nada fazem senão "apertar" os punhos em torno do Estado Social...
O Estado Social, tal como o vivemos no último terço do Século passado, não só passou de moda como se tornou impossível de sustentar... Foi talvez à custa desse Estado Social que muitos Governos se endividaram. Mesmo os "mighty USA" que sempre apostaram na livre concorrência para resolver estas coisas da assistência médica e da reforma para "todos" , tiveram que arrepiar caminho quando se aperceberam que metade da população não estava coberta por esse tipo de segurança social privada...
E nesta Inglaterra da Crise o Governo Tory tem cortado que se farta nos apoios... Só na Educação fez mais sangue que os matadouros de perus todos juntos dos USA, por alturas do "ThanksGiving Day"...
Qual será a resposta? Sem dinheiro não haverá "vícios sociais"... Sem estes "vícios sociais" é provável que alastrem os desacatos a mais países. E será perigoso e muito preocupante...
Mesmo que não haja "money" para apoios sociais, não é bom esquecer que a controlar multidões também se gasta dinheiro... Os exércitos "privados" custam fortunas. O Ceausescu de má memória gastava pipas de massa a manter um Estado autoritário e extorsionário dos seus próprios cidadãos. Quem deseja caminhar para aí?
O problema é que nos condomínios privados onde moram e passam férias estão protegidos por seguranças privados armados até aos dentes... E não se devem preocupar muito com estes "sobressaltos da plebe".
Só lhes faltará - mas lá chegaremos - aprenderem a tocar cítara para, tal e qual como Nero Ahenobarbus , cantarem com voz de cana rachada e dedicarem uma ode à cidade que arde por baixo deles...
Seja ela Los Angeles, Paris, Londres, Madrid , Lisboa ou de novo Roma (esta já se vai habituando)...
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