Duas observações, hoje sem muito humor, a não ser que se considere o humor negro de que Allan Pöe foi supremo cultor.
Uma delas, sobre a generalização da "Corrupção" na vida do mundo ocidental , na vida de todos nós, que já era apregoada há quase 200 anos pelo dramaturgo austríaco Arthur Schnitzler (grande amigo de Freud).
A outra, do nosso caríssimo filósofo iconoclasta Agostinho da Silva, é um hino de calma e sensatez sobre a "Morte", sobre a espera pelo derradeiro nivelador de todas as injustiças e desigualdades sociais.
Sempre me fascinou o pensamento seguinte de Arthur Schnitzler sobre a Corrupção "lato sensum":
Somos Todos Corruptíveis
A faculdade de se deixar corromper no sentido mais amplo do termo é uma particularidade da espécie humana em geral; mais ainda, as relações entre os homens só são possíveis porque somos todos corruptíveis em maior ou menor grau. Cada vez que dependemos do amor, da benevolência, da simpatia ou simplesmente da delicadeza, estamos já no fundo corrompidos, e o nosso juízo nunca é, por isso, verdadeiramente objectivo; e ele é-o tanto menos quanto nos esforçamos por permanecer incorruptíveis.
A corruptibilidade está longe de se limitar à estrita relação de pessoa a pessoa; uma obra, uma acção, um gesto pode lisonjear-nos confirmando o nosso amor próprio, as nossas opiniões ou a nossa impressão sobre o mundo.
É apenas quando utilizamos conscientemente a corruptibilidade dos outros para nossa vantagem pessoal ou em detrimento de um terceiro, que ela é um mal, mas a falta é então mais nossa do que daquele cuja corruptibilidade nos beneficia.
Arthur Schnitzler, in 'Relações e Solidão'
Nas relações de poder, de amor, de amizade, de negócios. Nas relações empresariais, nas familiares, quem pode dizer que nunca corrompeu, ou se aproveitou da corruptibilidade dos outros, neste sentido que lhe dá Schnitzler?
Elogiar é já corromper, se o louvor tiver por objectivo "ganhar pontos" junto do "outro"...
Encarar a Morte
É talvez sinal de prisão ao mundo dos fenómenos o terror e a dor ante a chegada da morte ou a serena mas entristecida resignação com que a fizeram os gregos uma doce irmã do sono.
Para o espírito liberto ela deve ser, como o som e a cor, falsa, exterior e passageira; não morre, para si próprio nem para nós, o que viveu para a ideia e pela ideia.
Não é mais existente, para o que se soube desprender da ilusão, o que lhe fere os ouvidos e os olhos do que o puro entender que apenas se lhe apresenta em pensamento; e tanto mais alto subiremos quando menos considerarmos a morte como um enigma ou um fantasma, quanto mais a olharmos como uma forma entre as formas.
Agostinho da Silva, in 'Diário de Alcestes'
O que diria hoje o "inefável" Ministro das Finanças Vitor Gaspar deste Senhor Agostinho da Silva, que afirmava placidamente na TV "nunca ter pago, nem fazer intenção de vir a pagar, Impostos?"
No encontro entre o "supremo" (o máximo dos máximos) justicialista fiscal dos Trabalhadores e o maior *iconoclasta do seu tempo, quem iria prevalecer? Acho que o velho Agostinho da Silva espiritualmente ganharia este desafio esotérico. Pela inteligência, obviamente, embora Vitor Gaspar fosse muito capaz de o mandar prender...
Também Sócrates (o Velho, não haja confusões!) morreu nas grades pela cicuta e hoje ninguém se lembra de quem o mandou prender e matar (Ânito, Meleto e Lícon foram os principais acusadores...Quem o sabia? Então voltem a esquecer sff, porque esta gentinha não merece memória).
* ICONOCLASTA
Membro de seita religiosa do século VIII que proscrevia o culto das imagens.
Que ou quem se opõe ao culto das imagens.
Que ou quem que não respeita tradições, monumentos ou convenções.
Que ou quem mina o crédito ou a reputação alheios.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário