quarta-feira, agosto 31, 2011

Uma polémica interessante

Um dos nossos Leitores - leiam no local do costume - critica esta minha mania de estar sempre a falar de restaurantes e a recomendar alguns. E escreve (com razão mas também alguma demagogia) "que se eu fosse um contribuinte a ganhar 500 euros por mês não poderia nem frequentar esses locais, nem andar a comer cabritos por aí..."

Primeiro, o óbvio: se eu fosse um cidadão a ganhar 500 euros por mês (ou menos) não frequentaria nem esses, nem mais nenhum Restaurante concerteza. Mas...não sou. E se ganhasse menos de 500 euros também não teria esta "mania" de fazer Posts nem ter Blogues, porque o hardware é caro e a InterNet não é de graça... Nem talvez o meu Leitor teria a oportunidade de ler os meus dislates, se também ganhasse apenas isso, pelas mesmíssimas razões.

Mesmo assim não sei se não comeria Cabrito ou Borrego  de vez em quando... Cá em cima na terrinha, na altura em que o leite das ovelhas começa a ser necessário para fazer o queijo ( que dá muito mais rendimento ao Pastor do que os borregos) é possível comprar-se essa carne a 6 ou 7 euros o kg.  Em Lisboa custa quase o dobro, em redor dos 11,5 euros. E qualquer pensionista de Seia ou de Gouveia compra borrego nestas alturas, para os dias mais importantes do ano.

Depois, a defesa do Comilão (Moi): Tenho 56 anos e não sei muitas coisas. Também tenho dúvidas sobre se voltarei a aprender outras coisas novas  nesta altura da vida (mas neste mundo esquisito tudo é possível). Escrever sobre aquilo que não sei? Para isso já temos o Nuno Rogeiro, "especialista" em tudo, desde a Música popular ao Desporto, passando pela Política Externa e pela Defesa Nacional (deve receber relatórios semanais da maioria dos serviços secretos ocidentais, o que, tendo em vista o que se passa aqui no Burgo, já me pareceu mais estranho...)

Por isso escrevo (também)  sobre Gastronomia. Não será para todos? Não Senhor. Também a Festa do Avante (onde fui já algumas vezes e tenho ideia de ir este ano) não será para todos... A EP custa este ano 20 euros até 1 de Setembro e 30 euros depois disso... É o preço de um almocinho no Galito...

Já pensaram nisso? A nossa vida é um conjunto de escolhas, sobretudo quando a falta de dinheiro aperta: Cinema ou livros na feira do parque deste ano?  Ao Sábado, almoçar umas sardinhas fora ou fazer em casa, para toda a família, um cachaço de porco assado no forno? Comprar o Expresso ou trazer uns croissants para casa? Comprar um casaco nos Saldos ou convidar a mais que tudo para jantar fora?

O problema está ( e estará cada vez mais) quando alguns de nós já não tiverem hipótese de escolher entre aquilo que (não) recebem e as primeiras necessidades... Se o que  há para decidir este mês é pagar a electricidade e deixar a água para o mês que vem?

Isso é que são problemas... E se calhar, deixando de frequentar restaurantes e livrarias, estaremos nós também - os que podem ainda lá ir - a contribuir para a generalização cada vez maior desses casos aflitivos.

O mundo não é simples, nem só branco nem só preto. Cada vez mais será nas tonalidades de cinzento que, infelizmente, temos de navegar. Com a costa à vista, está claro!

terça-feira, agosto 30, 2011

3 experiências, 2 sucessos

Os últimos restaurantes a que fui foram o Galito, à entrada de Carnide, em Lisboa; o Santa Luzia, em Viseu; e o Curral dos Caprinos, na Estrada da Várzea, a Colares.

Paguei, para 2 pessoas, sensivelmente o mesmo nos três locais: 68,40 euros no Galito, 65,20 euros no Santa Luzia e 69,70 euros no Curral.

Saí satisfeito, com os olhos a brilhar e de pé ligeiro, dos dois primeiros Restaurantes. Comi mal (e com muita pena, atendendo aos "pergaminhos" da velha casa), no Curral dos Caprinos. Mas vou esmiuçar de seguida:

a) No Galito comeram-se as entradas bastas e boas da Casa, uma garrafa de Soalheiro 2010 (magnífico!);
 1 Cozido de Verão e uma dose de Iscas de Porco fritas, 2 cafés e um Jameson.
b) No Santa Luzia foi-se por uma mayonnaise de camarão a dividir por dois (excelente); duas doses de Barriga de porca frita com arroz de feijão e migas beirãs; um Quinta de Saes Branco 2008 e um Quinta de Saes Tinto Estágio prolongado de 2005; 2 cafés.
c) Finalmente, no Curral dos Caprinos - também se começou por umas entradas de fritos (croquetes , rissóis); 2 queijinhos frescos; 1 Dose de Cabrito assado e outra de Bacalhau Assado na Brasa à moda da Casa. Uma garrafa de Vallado Tinto 2008 (muito bom). 2 cafés.

O Serviço é de qualidade alta nas três Casas aqui referidas. Obviamente que no Galito somos já "da família" e que no Santa Luzia estamos lá quase, mas não é pelo serviço que o Curral desta vez "pecou"...
Foi mesmo no capítulo da confecção e  qualidade  dos seus materiais.

Em primeiro lugar houve que devolver duas garrafas de verde tinto. Por estarem  há demasiado tempo no frio já não se podiam beber. Depois o Cabrito Assado foi uma sombra do cabrito que por ali se comia... Ausente a sapidez necessária , molho deslassado, batatas assadas requentadas, animal de dimensão poderosa e, por isso mesmo, mais talhado para chanfana do que para assar no forno. Bem sei que estou mal habituado, por trazer da Serra os melhores cabritos, até 5kg ou 5,5kg no máximo, mas mesmo assim já comi esse prato emblemático no Curral muito melhor confeccionado.

Aliás, a dimensão da "besta" não é tudo...Carne de Luxo pode-se comer na Beira Alta de animais já com 8 ou 9 kg (os chamados Borregos mamões, que apesar de já comerem erva ainda "mamam"... É preciso é saber fazer: mais de 4 horas em forno médio, virar muitas vezes...).

O Bacalhau  devia ser bem grelhado na brasa, mas a qualidade do peixe falhava de novo: muito (demasiado) demolhado, húmido e sem lascar, carne a desfazer-se depois da acção da grelha. Batata de má qualidade, tal como a do Cabrito, aliás.

É o Bacalhau que temos, dirão alguns... Mentira! Vão à Tertúlia às Segundas Feiras e logo verão o que quero dizer.

Agora em jeito de conclusão: estando os tempos como estão, e a pagar praticamente o mesmo, porque raio havemos de insistir em frequentar Restaurantes que não nos satisfazem? Será por Masoquismo? Então aconselho a baterem com a cabeça num muro, sai mais barato desde que o muro não vos pertença, porque cabeça dura que nem cornos devem ter...

Nota sobre Restaurantes aqui perto de Lisboa que NUNCA vos deixarão ficar mal: Beira Mar, Degrau L, Galito, Horta dos Brunos, Jockey, Solar dos Presuntos, Tertúlia. Alguns são mais caros (Beira Mar e Degrau L) mas em todos eles desde que o volume da carteira o permita, sairão felizes e contentes a assobiar o "fado da Mouraria"...mesmo que não o conheçam.

O tabuleiro de Cabrito na foto foi "caseiro"...Não notam logo pelo cheirinho a rosmaninho e pelo tostado da pele? E com grelos lá da quinta, segados à mão...

segunda-feira, agosto 29, 2011

Meias são para os pés

O velho Coronel Ferraz, cavaleiro olímpico da equipe nacional lá para os anos 40 do século passado, muitas vezes me dizia quando eu (sem cheta que se visse) o abordava para comprarmos um "cavalo a meias":
-" Filho, meias são para os pés!"

E tinha razão. Depois disso muitas vezes comprovei a sabedoria do adágio. Mesmo agora que enceto a 2ª semana de férias "a meias" com o trabalho, torno a verificar que tal escolha não é boa nem para o trabalho nem para o descanso da criatura (moi).

Na semana passada interrompi as férias na 4ª  Feira (Reunião sobre a adopção do Acordo ortográfico  nos CTT); na 5ª Feira (para alinhavarmos a arte final da Agenda deste ano, no Atelier) e na Sexta Feira (reunião sobre as consequências da implementação do IVA nos Serviços Postais). Não duvido da importância dos assuntos (se duvidasse tinha ficado em casa) mas não há semana de férias que aguente 3 buracos seguidos.
Nesta semana, já amanhã temos a reunião de controlo do Plano. E no dia 1 de Setembro (quinta feira) acabam-se estas "Férias"...

Para piorar o ambiente é esta a semana do meu aniversário. Não tenho problema nenhum em contar os anos que faço (farei 56). O problema é que a minha Mulher os fazia exactamente no mesmo dia -  o que quando somos vivos e felizes  dá uma alegria do caraças, mas se há o azar de um ir mais cedo ter com o seu Criador imaginem a chatice que fica a acompanhar o sobrevivente até ao fim natural dos seus dias...

Fico cá em Lisboa ? Vou à Beira pôr umas flores na campa? Tudo isso já fiz em anos anteriores. Este ano ainda não sei bem. É uma decisão que eu e o Senhorio tomamos sempre à última hora.


O Outono já se avizinha neste Agosto estranho, e é um pouco de Outono também o meu humor. Nem tanto pelas recordações - que são sempre boas, na minha memória selectiva nunca ou quase nunca faço reviver os últimos 3 anos da doença fatal, de 97 a 99 - mas também porque as condições actuais do País não permitem muita extroversão.

Os nossos "putos" estão "à rasca" sem saber o que podem fazer com os graus académicos que acumularam. A entrada na vida adulta, que dantes implicava "casa e pucarinho", vai sendo adiada. As famílias estruturadas não se constituem porque todos têm medo do futuro e de trazer filhos a este vale de lágrimas.

Na prática já nem se coloca a questão do "cavalo a meias"... as "meias" propriamente ditas é que já estão a tapar mais do que um par de pés , em muitos lares, em demasiados lares.

E temo que seja lá mais para o Natal que muitos portugueses se vão aperceber dos verdadeiros limites da sua "riqueza" .  Sem dinheiro para gastar no supérfluo - obviamente necessário, minimalmente que seja, para fazer sonhar as pessoas, e chamando já "supérfluos" a Livros, CD's,  ou a bilhetes para espectáculos públicos- o bom Povo Português começará a provar as tais passas do Algarve que lhe foram prometidas.

E quando muitas famílias - pondo todos estes supérfluos de parte - já não tiverem ao fim do mês dinheiro para o estritamente necessário?

Sinais de partilha destes sacrifícios por todos começam a ser gritantemente necessários também. Espero que o Governo esteja a pensar nisso. E actue.

sexta-feira, agosto 26, 2011

Para Descansar a Vista

Nasce esta Sexta feira cinzenta e chuvosa (onde está a novidade?)  e estamos a 26 de Agosto... Clima dos trópicos, El Nino a sair do seu habitat natural? Se continuarmos assim os alertas de furacões serão normais daqui a alguns anos para a costa ocidental da Europa...

Mas divago.

Quando o Governo se prepara para "solicitar" aos ricos que ajudem a pagar a Crise  -  mas com quantas cerimónias... e só depois de decisões semelhantes de Espanha e França - faz-nos bem (acho eu) tirar a barriga de misérias espiritualmente falando e elevar os olhos e a alma para planos superiores de existência onde as amarguras da vida actual por momentos se possam esquecer.

A sugestão de hoje é carregar as baterias com "barulho de água, sabor de água e vista de água"  pois, como dizia o velho Afonso da Maia,  lá na quinta de Santa Olávia inventada por Eça, "nada haverá de mais proveitoso para o Homem".

"Sabor de àgua??!!" O gajo desta vez é que pirou. Então vou passar o fim de semana a água? "

Calma Leitores! Água pela manhã e até à hora do almoço... Depois ... Bem não se esqueçam que em qualquer garrafa de vinho 80% do conteúdo (volume) é de facto água.

Desta forma podem continuar com a água até se deitarem, Tinta ou Branca, ou Palheta...

Canto dos Espíritos sobre as Águas

 A alma do homem
É como a água:
Do céu vem,
Ao céu sobe,

E de novo tem
Que descer à terra,
Em mudança eterna.

Corre do alto
Rochedo a pino
O veio puro,
Então em belo
Pó de ondas de névoa
Desce à rocha lisa,

E acolhido de manso
Vai, tudo velando,
Em baixo murmúrio,
Lá para as profundas.

Erguem-se penhascos
De encontro à queda,
— Vai, 'spúmando em raiva,
Degrau em degrau
Para o abismo.

No leito baixo
Desliza ao longo do vale relvado,
E no lago manso
Pascem seu rosto
Os astros todos.

Vento é da vaga
O belo amante;
Vento mistura do fundo ao cimo
Ondas 'spumantes.

Alma do Homem,
És bem como a água!
Destino do homem,
És bem como o vento!

Johann Wolfgang von Goethe, in "Poemas"
Tradução de Paulo Quintela



quinta-feira, agosto 25, 2011

Chapeladas Várias

1 - A Steve Jobs, fundador e principal mentor da Apple. Na altura da sua retirada  - todos supomos que  que por motivos de saúde - há que reconhecer a qualidade da sua forma de estar no mundo dos negócios. Se hoje associamos à Apple  a incrível criatividade que nos prende  nas "asas do desejo",  tal se deve em alto grau a Steve Jobs. O que lhe posso desejar? A leitura do texto inspirado de Agostinho da Silva, da Terça Feira passada.

2 - Às instituições de justiça norte-americanas, pela forma como rapidamente se encarregaram do caso tenebroso de Strauss-Kahn. Foram rápidas a prender , mas também o foram a deixar cair as acusações sem nexo. Uma pergunta insidiosa ouso fazer: mesmo sem entrar em teorias da conspiração "à la mode" dos saudosos X Filles, a quem aproveitaria esta tramóia? A quem?

3 - Agora por X Files, aqui vai também chapelada a David Duchovny, que na série Californication está (talvez) a fazer o maior papel da sua vida... Vejam o novelista Hank Moody ( nome da sua até agora  única novela: "God Hates us All") passar por LA como um Marlowe dos tempos modernos, num Porsche totalmente rebentado (este carro já é outra vedeta da série) fornicando com quem lhe aparece mais à mão e escandalizando a sociedade literária  ( e não só)  da impagável "La La Land".. Imperdível!

4 - Por último, chapelada ao Benfica pela exibição de ontem à noite.  Está claro que ao contrário do "profeta Jesus" não acho que tenha sido "perfeita". Perfeita, perfeita não foi. E  quanto a Jorge Jesus já se sabe que é quando está calado que fala melhor, mas deixando isso de lado, deu gosto ver aquele jogo contra uma equipe que está longe de ser fraca...

quarta-feira, agosto 24, 2011

A alcatifa e o cimento

Antigamente a dicotomia da luta de classes passava para a empresa (qualquer que ela fosse) sob a forma do "cimento" e da "alcatifa" ou, no linguarejar anglo-saxónico,  da oposição entre "blue collars e white collars". Era a malta da fábrica e a dos escritórios, a "luta" entre o trabalho manual e o trabalho intelectual. Entre quem entrava pelo Portão e quem entrava pela Porta.

Mais tarde a revolução dos "à rasca", em todo o mundo, introduziu o vocábulo de calão "suits" ("fatos") para se referir ao "inimigo executivo", ao gestor das empresas e dos bancos que utilizava o tradicional fato de 3 peças cinza ou preto de risca de giz, ou mais modernamente, o azul escuro de duas peças, sempre com camisa branca. Os "Suits" eram   (e se calhar são) os donos do mundo ocidental. Porquê apenas ocidental? Talvez porque não estou a ver algum príncipe saudita do petróleo a trajar oficialmente fato azul escuro, embora se calhar o tenha nos muitos km de roupeiros lá dos seus palácios...

As Empresas de tecnologias de ponta baralharam todas estas contas dos velhos ortodoxos marxistas-leninistas ou trotskistas... Em Palo Verde ou  Silicon Valley (onde Infinite Loop 1 é a morada da sede da Apple, por exemplo) os engenheiros de software vestem jeans debutados, usam piercings e tatuagens, andam de bicileta ou de Toyota Prius... e ninguém pode discutir que influenciam tanto ou mais a nossa vida do que o financeiro de Wall Street.

Já as culturas das Universidades mais "novas" - por exemplo a CalTech da California, local do laboratório da NASA, Universidade que já "originou" 31 Prémios Nobel e 65 Medalhas Nacionais (USA) de Ciência e Tecnologia, O grande probabilista Smirnov (que recebeu em 2010 a medalha Fields  - o Nobel da matemática) também foi professor da CalTech - tinham dado a "machadada" nestas coisas do código de vestuário adequado a "quem manda".  Professores com Nobel muito provavelmente andam pelo campus em T-Shirts e "chinos", e sandálias nos pés, que o clima aconselha.

Não é de agora , esta moda dos circulos universitários pouco ou nada ligarem ao vestuário. O grande Eisntein passeava-se em Princeton com as calças amarradas à cintura por uma ... gravata... Estávamos em 1950 e ninguém se atrevia a olhar duas vezes para o Génio.

O "ShowBiz Look", (preto em cima de preto, sem gravata) , em Portugal muito usado pelo Comendador Joe Berardo, já faz parte dos usos de uma certa élite intelectual mas também financeira.

Tudo isto para dizer que no dia de hoje, o "hábito já não faz o monge"... Cuidado com as aparências.

A "gauche caviar" é muito capaz de usar um blaser BOSS por cima de uma T-Shirt vermelha-revolução de Outubro... E ir assim para o comício contra os "mandamentos" da Troika...

E não me admirava mesmo nada que o actual Secretário de Estado Adjunto do 1º Ministro, (o muito significativamente chamado Dr. Carlos Moedas) andasse pelo Campo das Cebolas em Jeans e camisa desbotada...

Isto hoje está tudo muito "baralhado". Já não é possível identificar o lobo nem o cordeiro pelo pêlo...

"Devia tê-la julgado pelos Actos, e não pelas Palavras", dizia o Príncipezinho de Saint Exupéry sobre a flor...

Pois é.

terça-feira, agosto 23, 2011

Notas Simples de final de fèrias

Duas observações, hoje sem muito humor, a não ser que se considere o humor negro de que Allan Pöe foi supremo cultor.

Uma delas, sobre a generalização da "Corrupção" na vida do mundo ocidental , na vida de todos nós, que já era apregoada há quase 200 anos pelo dramaturgo austríaco Arthur Schnitzler (grande amigo de Freud).

 A outra, do nosso caríssimo filósofo iconoclasta Agostinho da Silva, é um hino de calma e sensatez sobre a "Morte",  sobre a espera pelo derradeiro nivelador de todas as injustiças e desigualdades sociais.

Sempre me fascinou o pensamento seguinte  de  Arthur Schnitzler sobre a Corrupção "lato sensum":

Somos Todos Corruptíveis

A faculdade de se deixar corromper no sentido mais amplo do termo é uma particularidade da espécie humana em geral; mais ainda, as relações entre os homens só são possíveis porque somos todos corruptíveis em maior ou menor grau. Cada vez que dependemos do amor, da benevolência, da simpatia ou simplesmente da delicadeza, estamos já no fundo corrompidos, e o nosso juízo nunca é, por isso, verdadeiramente objectivo; e ele é-o tanto menos quanto nos esforçamos por permanecer incorruptíveis.

A corruptibilidade está longe de se limitar à estrita relação de pessoa a pessoa; uma obra, uma acção, um gesto pode lisonjear-nos confirmando o nosso amor próprio, as nossas opiniões ou a nossa impressão sobre o mundo.

É apenas quando utilizamos conscientemente a corruptibilidade dos outros para nossa vantagem pessoal ou em detrimento de um terceiro, que ela é um mal, mas a falta é então mais nossa do que daquele cuja corruptibilidade nos beneficia.

Arthur Schnitzler, in 'Relações e Solidão'

Nas relações de poder, de amor, de amizade, de negócios. Nas relações empresariais, nas familiares, quem pode dizer que nunca corrompeu, ou se aproveitou da corruptibilidade dos outros, neste sentido que lhe dá Schnitzler?

Elogiar é já corromper, se o louvor tiver por objectivo "ganhar pontos" junto do "outro"...

Encarar a Morte

É talvez sinal de prisão ao mundo dos fenómenos o terror e a dor ante a chegada da morte ou a serena mas entristecida resignação com que a fizeram os gregos uma doce irmã do sono.
Para o espírito liberto ela deve ser, como o som e a cor, falsa, exterior e passageira; não morre, para si próprio nem para nós, o que viveu para a ideia e pela ideia.
Não é mais existente, para o que se soube desprender da ilusão, o que lhe fere os ouvidos e os olhos do que o puro entender que apenas se lhe apresenta em pensamento; e tanto mais alto subiremos quando menos considerarmos a morte como um enigma ou um fantasma, quanto mais a olharmos como uma forma entre as formas.

Agostinho da Silva, in 'Diário de Alcestes'

O que diria hoje o "inefável" Ministro das Finanças Vitor Gaspar deste Senhor Agostinho da Silva, que afirmava placidamente na TV "nunca ter pago, nem fazer intenção de vir a pagar, Impostos?"

No encontro entre o "supremo" (o máximo dos máximos) justicialista fiscal dos Trabalhadores e o maior *iconoclasta do seu tempo, quem iria prevalecer? Acho que o velho Agostinho da Silva espiritualmente ganharia este desafio esotérico. Pela inteligência, obviamente, embora Vitor Gaspar fosse muito capaz de o mandar prender...
Também Sócrates (o Velho, não haja confusões!) morreu nas grades pela cicuta e hoje ninguém se lembra de quem o mandou prender e matar (Ânito, Meleto e Lícon foram os principais acusadores...Quem o sabia? Então voltem a esquecer sff, porque esta gentinha não merece memória).

* ICONOCLASTA
Membro de seita religiosa do século VIII que proscrevia o culto das imagens.
Que ou quem se opõe ao culto das imagens.
Que ou quem que não respeita tradições, monumentos ou convenções.
Que ou quem mina o crédito ou a reputação alheios.

segunda-feira, agosto 22, 2011

Viva a Selecção! Essa e as outras...Comprem português!

Não ganhámos na Colômbia, mas caímos de pé. Danilo, Nelson Oliveira, Mika e Compadres estão de parabéns!

Aqui no burgo aconselha-se a que se compre Português. Cada vez mais essa não será uma opção mas quase que uma obrigação, devido aos tempos que correm.

Para esses consumos Tugas aqui vai também o nosso aplauso.

 E de bem "pouca coisa" necessitamos que não seja lusa para viver... Ou não?

Ora deixem lá ver:
 - Carros, bicicletas, motas,autocarros, tudo o que tenha mais de uma roda (carrinhos de mão ainda fabricamos, acho eu?)
- Boas séries de TV (House, Fringe, The Good Wife, Spartacus, Mad Men, Daily Show);  em Portugal deixa-me embaraçado o apego dos locais para coisas obscenas que têm a ver com a observação ao vivo das desgraças e alegrias de outras pessoas, os chamados Reality Shows, uma praga, verdadeira lepra dos Audio Visuais em qualquer país do mundo onde brotem...
- Charutos cubanos. Não há outros, que me desculpem os Amigos da Fábrica Estrela...
- Charcutaria espanhola, sobretudo o incomparável Jamón de Jabugo.
- Os gadjets da Apple. Todos. A começar nos MacBooks e a acabar nos IPad e IPhones. Para ser verdadeiramente  íntegro devo dizer que estas coisas, muito boas, são mais para a malta do Design...Mas todos gostam de lhes mexer, mesmo que desdenhem abertamente e em voz alta...
- Whisky de Malte velho, das amadas ilhas (de Islay, das Orkney.)
- Relógios Suiços. (IWC; AP;PP...)
- Literatura norte-americana de F&SF (George.R.R.Martin, vê se te despachas com o resto do Song of Ice and Fire, meu ganda calão de m****!!!)
- Show Business em geral e Filmes em particular. Com uma vénia ao Mestre Oliveira, mas ainda não há nada como as velhas fábricas de Hollywood ou da Broadway.
- Gravatas, da Hermés ou Givenchy. Lenços de senhora da Hermés ( estes Foulards são  a melhor prenda que podem dar a alguém  do sexo feminino com mais de 25 anos! Acreditem!).
- Musica. De qualquer género. A começar no antigo alemão, João Sebastião, e a acabar no melhor Jazz. passando pelo Rock&Roll, está claro! O que seria de nós a ouvir apenas música lusa no IPod...

Agora, para aliviar esta carga, nosso, mesmo nosso, temos tudo o que se possa comer e beber. Desde as águas de mesa aos vinhos, passando pelo melhor peixe e marisco deste planeta, indo ao encontro (esborrachando mesmo) as carnes de origem controlada, os Cabritos de Montesinho, os Borregos... O incomparável queijo de Ovelha (da Serra, de Serpa, de Azeitão). Por aí estamos por enquanto bem servidos...

E ainda bem porque, infelizmente e como se comprova todos os dias, para atrair o turista da verdadeira Europa já não podemos contar com Sol e Mar...

Transforme-se por isso este País num atraente restaurante de cozinha regional portuguesa, onde, por vezes, ainda se pode fazer uma tarde de praia como antigamente. Mas só de vez em quando.

sexta-feira, agosto 19, 2011

Adeus Ó Serra!

Estamos no ir. Desta vez cumprimos o  dever patriótico de deixar branco e tinto bem encaminhados e envasilhados para o Natal ( se lá chegarem, que isto de um Homem estar só na serra também cansa e dará uma sede do caraças...Uma sede das antigas.) Mas o meu cunhado já está avisado: ou tem tento na língua ( e garganta) ou está o caldo (verde) entornado...

Deixamos a terra com receio do que por aí venha, das medidas de contenção que nos apertem a todos. Sobre isso talvez estejam até melhor defendidos os amigos cá de cima, com as batatas e couves que tiram das leiras, do que nós lá para as Lisboas, que apenas tiramos do alcatrão borracha dos pneus...

Há muita insatisfação no ar que se respira. E deste povo cordato pode muito bem sair alguma raiva mal contida. Não digam que não os avisei...

No ajuste de contas com "quem tem a culpa de nos encontrarmos assim" é fácil encontrar-se terreno fértil para a indignação popular. Nem tanto com os cortes nos salários (que por aqui os 1500 euros são raros) mas sobretudo com as diminuições dos apoios à doença e à terceira idade.

Afinal estamos já não tanto no Cavaquistão, como era chamado nos tempos gloriosos da estratégia do betão, mas sim no Ginjóstão ( a terra dos velhos ginjas, da "malta" com mais de setenta...).

Os novos bazam mais depressa do que uma socialite ( a mumificada  Lili Caneças vem à memória, treme-treme em cima do catamaran)  a cheirar bosta de vaca.  Quem por aqui fica são os velhos.

E deles temos que tratar. Quando digo "temos" refiro-me à família, claro, mas também às instituições. Sociedade que abandona os seus velhos não merece ter lugar algum na história.

Marco encontro com os leitores para dia 22 de Agosto.

Até lá comam e bebam, amem muito, banhos de mar sempre que possam. E não se esqueçam que por muito que o corpo peça mimos,deve haver sempre um momento (ou dois) para a alma. Para a Imaginação.

Va, pensiero, sull'ali dorate ...

Para Descansar a Vista

Já aqui falei da “Sesta”. E hoje volto ao tema para os habituais poemas das sextas-feiras. Dois grandes poetas portugueses e um do Brasil discorrem sobre o sonho e sobre a “noite” dos nossos sentidos: as horas que passamos a dormir.

Para alguns, serão tempo perdido e “mau planeamento” do Criador, por isso treinam-se para reduzir as horas de sono, de forma a optimizarem a respectiva presença, sempre  alerta, na sociedade.

Para outros o sono é apenas um veículo que os conduz a um outro mundo, talvez mais sereno e bem organizado do que aquele que pisam durante as horas de trabalho diárias. Uma porta para a fantasia.

Nestes últimos me incluo.



Durmo. Se Sonho, ao Despertar não Sei

Durmo. Se sonho, ao despertar não sei
Que coisas eu sonhei.
Durmo. Se durmo sem sonhar, desperto
Para um espaço aberto
Que não conheço, pois que despertei
Para o que ainda não sei.
Melhor é nem sonhar nem não sonhar
E nunca despertar.

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"


Dormir um Pouco...

Homenagem a Federico García Lorca

Dormir um pouco — um minuto,
um século. Acordar
na crista
duma onda, ser
o lastro de espuma
que há no sono
das algas. Ou
ser apenas
a maré, que sempre
volta
para dizer: eu não morri, eu sou
a borboleta
do vento, a flor
incandescente destas águas.

Albano Martins, in "Castália e Outros Poemas"


Dormindo

De qual de vós desceu para o exílio do mundo
A alma desta mulher, astros do céu profundo?
Dorme talvez agora... Alvíssimas, serenas,
Cruzam-se numa prece as suas mãos pequenas.

Para a respiração suavíssima lhe ouvir,
A noite se debruça... E, a oscilar e a fulgir,
Brande o gládio de luz, que a escuridão recorta,
Um arcanjo, de pé, guardando a sua porta.

Versos! Podeis voar em torno desse leito,
E pairar sobre o alvor virginal de seu peito,
Aves, tontas de luz, sobre um fresco pomar...
Dorme... Rimas febris, podeis febris voar...

Como ela, numa lividez de névoas misteriosas,
Dorme o céu, campo azul semeado de rosas;
E dois anjos do céu, alvos e pequeninos,
Vêm dormir nos dois céus dos seus olhos divinos...

Dorme... Estrelas, velai, inundando-a de luz!
Caravana, que Deus pelo espaço conduz!
Todo o vosso dano nesta pequena alcova
Sobre ela, como um nimbo esplêndido, se mova:
E, a sorrir e a sonhar, sua leve cabeça
Como a da Virgem Mãe repouse e resplandeça!

Olavo Bilac, in "Poesias"

quinta-feira, agosto 18, 2011

Estância Turística Quinta do Tornadoiro ( & SPA)

O nosso amigo Zeca “my lady”, já aqui conhecido pelas suas aventuras na Inglaterra , com a “malta” dos MG’s, foi com a mulher a Cabo Verde e de lá regressou cheio de histórias para contar.

A maioria delas sobre a qualidade do Hotel (& SPA) onde tinham estado alojados. Ele era SPA para aqui, SPA para ali, e mais isto que eu fazia no SPA e as massagens que a Laura fazia no SPA…Nunca mais se calava com a história.

Já aborrecidos, os serranos que o ouviam começaram a gozar com aquilo do SPA.

-“SPA? Era mas era saudades da Sopa cá da terra!”
-“ Nada disso compadre! Era a falta do tinto! Sem Cepa vai pró SPA”
-“ Estão enganados! SPA quer dizer Sítio dos Patetas Alegres!”
-“ Ou isso ou Só Parvos Aqui”.
“Sem Patas Allez!” (esta de um emigrante) .

O João (outro vizinho, também já mais que farto das histórias do Zeca) tem uma courela lá para os lados do Tornadoiro, onde mantinha um barraco para as vasilhas e outro material de curar as videiras. Algumas vezes lá íamos petiscar, pois o panorama era belíssimo e estávamos longe dos olhares controladores das “legítimas” Marias.

Como este nosso vizinho é um sujeito muito bem disposto, com o auxílio do filho (advogado em Coimbra) decidiu fazer uma brincadeira à volta desta bizarrice das "grandezas" do passeio a Cabo Verde com SPA.

E logo se pôs a anunciar a próxima inauguração da “Estância Turística Quinta do Tornadoiro ( & SPA)”. E desata a convidar a malta para lá ir ao “evento”.

Combinou-se uma visita à novel unidade hoteleira e o que lá se viu foi de espantar!

A barraca estava pintadinha de fresco. Tinha lá estado um dos planeadores da “festa” a tratar do assunto.

Ar condicionado sob a forma de duas janelas sem portadas. Cozinha tradicional constituída por um bidon de mazout cortado ao meio, com uma grelha por cima. Cozinha “gourmet” num buraco do chão, cá fora das 4 paredes.

Adega de temperatura controlada era uma corda à beira do poço, para amarrar os garrafões.

WC para Homens e Senhoras, respectivamente um carvalho e uma azinheira, nem próximos nem distantes um do outro.

E quanto ao SPA? Uma mangueira de rega ligada ao motor do poço!

E o mais engraçado é que tudo isto estava assinalado, com letreiros pintados em travessas de madeira !

O vosso Blogger assumiu as funções de “Chef invité” e logo se pôs à frente da “brigada de cozinha”.

No buraco do chão fez-se uma fogueira e assaram-se batatas envoltas em papel de alumínio, na grelha do bidon entraram chouriças, febras, costeletas e postas de bacalhau.

O maior problema foi a exiguidade da Adega de temperatura controlada… Foi necessário ir buscar mais 2 cordas para lá se amarrarem os garrafões (3) que se tinham trazido.

Mesmo assim o Zeca refilou:

-"Está tudo muito bem Amigo João! Mas onde estão as massagistas que me passavam a mão pelo pêlo lá em Cabo Verde? "

De facto nem pagando tínhamos encontrado voluntário(a)s para a tarefa...

quarta-feira, agosto 17, 2011

Comentários ao "O Passado e o Presente"

Dois dos nossos Leitores comentam este Post "O Passado e o Presente", o que muito agradeço. Podem ler esses comentários no local do costume.

Aqui faço algumas observações sobre os mesmos.

De facto não é possível comparar os anos 60 do século passado com os dias de hoje. E ainda bem. Os progressos que o 25 de Abril permitiu que se fizessem em todas as vertentes da modernidade foram notáveis, com especial relevo para os índices de desenvolvimento humano, como a taxa de mortalidade à nascença, a literacia\educação, a expectativa de vida ao nascer e o PIB per capite.

Hoje em dia (dados de 2009 publicados pela ONU em 2010) Portugal ocupava a 40ª posição entre os 42 Países considerados "Muito Desenvolvidos". E evidentemente que o PIB per capite nos penalizava ...

O que quis fazer notar com aquele Post era outra coisa. Era a importância da componente financeira no comportamento humano.

Em 2012 muitos portugueses poderão estar  perante o Consumo tal como estavam os seus Pais e avós em 1960.  Por exemplo, o esforço que se fazia em 1960 para comprar casa, ou pagar um aluguer, com os salários da época, pode vir a ser comparado com esforço financeiro semelhante em 2012. Digo isto sem ter feito os cáculos, apenas por conhecimento empírico. O que fez mudar a filosofia de habitação em Portugal foi o acesso ao crédito bancário. Que hoje , se não acabou,  estará muito perto de ter acabado...

A situação financeira das famílias pode assim estar a caminho de ficar igual, ou pior, porque, como muito bem faz notar a Maria da Paz, nesses anos 60 não havia tanto desemprego como hoje e ( infelizmente) amanhã.

E o pior de tudo é que esta gente da actualidade não está habituada a esses sacrifícios! Filhos e Netos foram as mais das vezes criados numa sociedade de pretensa abundância, onde era fácil, muito fácil, o acesso ao crédito e, através dele, às benesses e tentações da Sociedade de Consumo levada ao extremo.

O meu Bisavô, que era carteiro no Estoril em 1930 , seria  talvez mais "rico" do que um carteiro actual. Não porque ganhasse mais (em termos comparativos), mas porque era muito mais "frugal" na sua vida do dia-a-dia. Não tinha os "maus" hábitos de consumo do carteiro actual.

Poderão os meus leitores sempre dizer que o que está mal são esses maus hábitos e que é necessário cortar as expectativas em todos os lares da classe média. Será assim, sem dúvida, mas que vai ser difícil e muito doloroso, disso podem ter a certeza.

Alegrias na “desgraça”

Mesmo nos dias amargos da falta de liberdade e dos apertos de cinto, o vinho compunha muitas tristezas. Por estes dias de Verão nada agradava tanto ao meu sogro do que receber e visitar os amigos, nas respectivas adegas, a provarem o “vinho novo”.

Convém explicar que na Beira Alta , por causa das temperaturas mais baixas, o vinho da vindima de um ano só começava a “dar prova” na Páscoa do ano seguinte, mas era costume engarrafar-se por volta de Maio ou Junho. Por esse motivo estamos agora a beber o vinho da vindima de 2010.

A velha fábula de “ser no S. Martinho que se provava o vinho” teria mais a ver com o Ribatejo e o Alentejo, e mesmo assim era preciso o ano ter sido muito “avançado”.

Pois o meu sogro - e estamos situados lá para o inicio dos anos 70 - adorava receber os amigos e os taberneiros (que na altura eram seus clientes) na adega, sendo certo e sabido que logo de seguida era convidado para exéquias semelhantes na casa dos outros.

Os 3 compadres da vida airada (já aqui muito falados no Blogue) não deixavam os créditos por mãos alheias. Considerados os maiores bebedores da aldeia (havia quem lhes chamasse outra coisa parecida...), nesta altura do ano estavam nas suas “sete quintas”…

Zé “Peido Manso”(o Pedreiro) , Ti Correia Môco (o Pastor, bastante surdo) e Manuel da Angélica (o Taxista), não perdiam pitada destas provas, apresentando-se sempre sorridentes em casa dos adegueiros. Mesmo que não fossem convidados (QUE ERA O MAIS CERTO) tinham um “faro” especial para detectar estas festanças.

O Pastor era sempre bem-vindo, trazia com ele um queijo velho , considerado o melhor acompanhante para o vinho novo, um pouco na esteira daquele velho ditado das montarias “cavaleiro novo, cavalo velho”. O compadre Taxista também era recebido com sorrisos. A “malta” nunca sabia se seriam necessários os seus serviços, numa emergência, e ele estava disponível a qualquer hora do dia e da noite, tal e qual como se fosse bombeiro. E para além disso, como a mulher criava porcos, era normal aparecer com uma ou duas chouriças na algibeira.

Agora o Zé Pedreiro – por acaso o mais borrachão dos três – não era muito bem-vindo onde quer que se arrimasse. Toleravam-no, porque vinha com os outros, mas a fama de “vaza cântaros”, aliada ao facto da sua arte de pedreiro ser sempre vendida a bom preço (era careiro e abusava porque na terra não havia outro) não ajudavam muito. Tinha jeito e maneira de sovina, o que na terra era muito mal visto.

Desta forma os outros dois Compadres começaram a ver a sua presença ligeiramente enlameada por culpa do Zé, e logo se reuniram para tratar do assunto.

-“Oh Amigo Zé, Vomecê tem de levar alguma coisa quando for connosco para as adegas. Parece mal aparecer assim de mãos vazias.”

-“Isso mesmo! Bem dito Compadre Correia! O Zé devia aparecer com qualquer coisa. Um dia destes já tenho vergonha de me estar sempre a pendurar”.

-“Mas trazer o quê? Hei-de levar um garrafão de vinho? Atão vou levar uma botija com água para a nascente? Homessa!”

-“Não digo isso Compadre, mas qualquer coisa que se coma. O Ti Correia leva sempre um queijo, eu roubo à Maria umas chouricitas para levar também. E V. não julgue que é fácil! Que ela não sabe ler nem contar, mas quanto às chouriças dá sempre por falta delas!”

-“Chiça para Vomecês! Eu não tenho ovelhas nem mato porcos! Sou mestre de obras! Querem que leve um tijolo burro?”

-“ A bem dizer o Compadre é tanto mestre de obras como eu sou condutor da camioneta da carreira. Eu ando num Taxi e Vomecê é mas é Pedreiro, mas não se amofine e vá pensando nisso”.

O Zé “peido manso” lá decidiu ,depois de muito instado, começar a aparecer com “qualquer coisita”.

Como a próxima “festa” era em casa de meu sogro, o que por lá se passou faz parte dos “estórias” com que ele mais tarde nos entretinha.

Seriam 9 ou 10 amigos, contando com os 3 compadres e com o dono da casa.

A minha sogra tinha a mesa posta na Adega com 2 travessas de bacalhau cru desfiado e temperado, mais duas de febras e iscas de porco assadas, farinheiras tostadas na sertã e 4 pães de kg do Sabugueiro. O lugar de honra, ao meio da mesma mesa, era reservado para o queijo do Ti Correia, um “monumento” que ele já tinha avisado que traria. Havia ainda uma tábua e uma assadeira de barro onde o Taxista podia dispor as chouriças “desviadas” à sua legítima.

Chegada a “trupe” dos compadres apresenta-se o Zé Pedreiro e mostra o que levava para a festa: uma lata de atum.

-“Desculpem, mas como vim de bicicleta foi o que coube na algibeira”

Todos olharam e não pensaram nada bem. Uma latita para 9?

Comeu-se e bebeu-se. Elogiou-se o vinho, branco e tinto. Elogiou-se o queijo, com quase 3 kg estava de lamber os beiços. Deram-se vivas às chouriças, ali mesmo assadas em bagaço do bom.

No final o meu sogro deu 2 garrafas, uma de branco e outra de tinto, a cada conviva. Quando chegou a altura do Zé “peido manso”, pediu licença foi à cozinha buscar uma garrafita de cerveja, lavou-a à frente de todos e disse:

-“ Amigo Zé , quer do branco ou do tinto? Como vai de bicicleta não quero estorvá-lo com as garrafas maiores…”

Estava dado o recado. Mas não parece que tenha tido muito efeito…

terça-feira, agosto 16, 2011

Comentário às PPP

O Nosso Leitor Felisberto comenta, e bem, o Post sobre as AE "fantasmas" e as Parcerias Publico-Privadas:

Parece-me até que as ditas parcerias publico privadas foram iniciadas por um semhor que agora parece sofrer de amnesia; o nosso Exmº Presidente da Republica. As mesmas foram iniciadas po ele e cresceram desmesuradamente com o Eng. Guterres. Mas pela forma como o nosso Presidente por vezes se dirige aos Portugueses mais parece nada ter a ver com as ditas. Daí se conclui que quer P.S, quer P.S.D.têm o rabo preso em todos estes anos de desgovernação. Para bem de todos e independentemente da nossa simpatia politica, queira Deus que este Governo consiga colocar o País no rumo certo.

O Passado e o Presente

As histórias que os velhos contam infelizmente voltam à liça…

Numa povoação pequena como aquela em que nos encontramos, a 4 km de Seia, a vida quotidiana há 40 anos atrás, antes do 25 de Abril, fazia-se sempre, ou quase sempre pelos mesmos caminhos: trabalho seis dias por semana, geralmente na “fábrica” ( alguma das fiações que antigamente pululavam pelas duas encostas da Serra, hoje todas falidas), ao Domingo a missa e à tarde a conversa nas tavernas com os amigos à mesa da bisca, ouvindo o relato do futebol na Rádio. Dos campos tratava-se todos os dias, depois da saída das fiações. As mulheres já por lá andavam e os homens iam ter com elas depois das 17h.

Regava-se de noite e à vez. A água era pouca e por isso mesmo um bem precioso. Muita cegada ( daquelas que acabavam com cabeças rachadas) ouvi contar sobre tempos de rega não respeitados, ou “desvios de água”.

Só os homens trabalhavam fora de casa. E não eram todos! Muitos tinham emigrado, outros por vários motivos (até políticos) não conseguiam arranjar emprego. As mulheres reforçavam o magro orçamento familiar a “enfiar cortes”, um trabalho mal pago que era feito à noite, dava cabo da vista e que consistia em comporem com a agulha e fio de lã, à luz do petróleo, as falhas que os teares mecânicos tinham deixado nas fazendas.

Estudavam os rapazes até à 4ª classe, por norma, e as raparigas nem isso. Eram logo postas a ajudar as mães. A minha mulher, apesar de neta de lavradores e comerciantes de gado (e por esse motivo andar no colégio, a concluir o antigo LIceu), com16 anos já fazia sozinha as refeições para todo o pessoal que andava nos campos, mais de 20 homens e mulheres pagos à hora para as tarefas mais pesadas da quinta – as vindimas, ceifar o milho, arrancar as batatas, apanhar a azeitona.

As casas dos Pastores eram fartas , mas de muito trabalho. O dia começava às 3 e meia ou 4 da manhã, para as ordenhas, e depois desfiava-se por aí fora, com homens e mulheres sempre a trabalhar, nos campos,com as centenas de ovelhas e a cuidar dos cães. Mas também nas queijarias, a tratar do leite ou a escaldar os panos brancos que envolviam os queijos e que eram mudados todos os dias nas alturas de “sôrar”.

Filha de Pastor já sabia que nunca lhe faltava a comida no prato, nem o trabalho, 9 ou 10 horas por dia , pois era ela que tinha de substituir a mãe nas tarefas caseiras. Já com 9 ou 10 anos eram treinadas para cuidar da casa e da cozinha.

Doenças eram um martírio. Médicos e medicamentos eram pagos particularmente e havia maleitas que arruinavam muitas famílias. A tuberculose era comum. Às doenças que não conheciam ( por exemplo as oncológicas) chamavam “bicho” e não gostavam de falar nisso com medo de as “chamar”. Quem partia um braço normalmente ia ao endireita, que era mais barato que o hospital.

Mezinhas, chás de ervas e papas de linhaça faziam tanto parte do repositório farmacológico como as aspirinas e antibióticos de hoje.

Vivia-se bem? As pessoas não conheciam outra vida… Desde que nasciam até que morriam.

Por muitas comparações que se façam com esse passado recente, o problema de hoje em dia pode ser mesmo esse.

É que os actuais portugueses já conheceram outra vida…E não vão gostar mesmo nada do que por aí se aproxima.

De Cavalo para Burro é sempre mais difícil passar. E há que esperar alguns pares de coices.

segunda-feira, agosto 15, 2011

Crónicas da Serra 2

A "malta" cá de cima já começou a poupar "pr'à Crise" como eles dizem. Têm sobretudo receio que haja cortes nas ajudas aos doentes e aos velhos. No resto não se importam assim tanto. É gente antiga, habituada a viver com pouco, quase todos tiram as batatas e as couvitas da terra, e para conduto haverá o que se puder comprar.

Alguns ainda se lembram dos tempos da fome, lá para os anos 60 do século passado, e ensinam aos novos o que passaram.

Todos têm dificuldade em entender como é que um País que recebeu tanto dinheiro e aparentava tanta ostentação, está hoje assim como está, pelas ruas da amargura.

 "-Comilões! Foram todos uns Comilões!"

E têm razão. Agora quem "comeu tudo e não deixou nada" é que eu não sei ... Nem eles. Mas desconfiam.

Os jovens estão revoltados com a falta de emprego. A emigração, outra vez para o Luxemburgo e para a Suiça, é comum. Vão os que têm competências manuais: pedreiros, carpinteiros, estucadores, electricistas.

Quem parece estar a viver menos mal aqui em cima, mesmo com a Crise, são os mecânicos de automóveis. Como não há dinheiro para comprar novo, têm as oficinas sempre cheias com os carros antigos. Entram e saem que parecem moscas...

E, tenho de o dizer, na viagem que fizémos de Lisboa para  a Mealhada pela A8, tomando depois a A17 e a A14 e daí para a A1 de novo, foi confrangedor ver os pouquíssimos carros que circulavam até chegarmos à A1.

Para que se gastaram rios de dinheiro naquelas AE que hoje mais parecem estradas fantasmas? Para encher de dinheiro os bolsos de alguém, não duvido...

A história das parcerias publico-privadas e da forma como hipotecaram o futuro do País tem de ser explicada. É urgente que seja explicada!

Mas duvido... Há demasiados interesses em jogo. Quer do PS quer do PSD.

domingo, agosto 14, 2011

A Sesta

As virtudes do descanso depois do almoço - sobretudo quando o Sol dá de chapa na testa - têm sido postuladas por muitos (e bons). Desde logo o Dr Mário Soares, que sem isso não passava fosse dia de trabalho ou de descanso. Mas também foram famosos praticantes da Sesta as seguintes personalidades:
 John F. Kennedy, Lyndon B. Johnson, Ronald Reagan, Margaret Thatcher,Bill Clinton, Albert Einstein, Leonardo Da Vinci, John D. Rockefeller, Eleanor Roosevelt, Johannes Brahms, Beethoven, Benjamin Franklin, e Robert Louis Stevenson. Sem falar de Sir Winston Churchil, o mais conhecido deles todos que apregoava aos 4 ventos que a sua saúde de ferro, apesar dos muitos charutos e litros de champagne e whisky, se devia à prática dos chamados 3 "r's" durante e após a sua sesta diária: Rest, Relaxation, and Recovery (Descanso, Descontracção, Recuperação).

A insuspeita Universidade de Berkeley até provou ,durante um projecto que realizou em 2009, que a "Sesta"  torna as pessoas mais inteligentes:
"A new research conducted by scientists at the University of California, Berkeley, demonstrates that taking an afternoon nap is very useful for it may enhance as well as reinstate the power of your brain. The researches have said that in addition to invigorating the mind, a sleep schedule that is biphasic or has two phases also makes one more intelligent."

Não sei se acredito nisso tudo, mas é certo e sabido que pratico a "sesta" depois do almoço sempre que posso, nas férias e nos fins de semana. Recomendo o mesmo a todos que o possam fazer sem destruir a harmonia familiar.

Até acredito - falando por experiência própria - que não há coisa mais satisfatória e reconfortante do que uma sesta a dois, seja Verão ou seja Inverno, apesar da respectiva concretização implicar ter os miúdos ou fora de casa ou a fazerem o mesmo... Isto é, com menos de 5 ou mais de 15 aninhos...

E havendo  Sogra ou Mãe (ou ambas) que não compartilhem a mesma "cabana" está claro! Não sei porquê mas essas santas criaturas têm horror à felicidade dos outros , sobretudo se evidenciada à sua frente. Daí a má vontade e a "trombice" como costumavam encarar estas partilhas  de volúpia conjugal.

Hoje em dia durmo sozinho. Eu e os meus sonhos. Mas ainda é uma das Santas que, tal como há 15 anos atrás, me desperta para as duras realidades da vida de viúvo a tomar conta de 3 indigentes (Filho, Cunhado e a tal Santa sogra):

-"Olhe, venha-me ajudar que não sei o que havemos de fazer para o jantar!"
-"Eu vou já minha Sogra "




E lá tenho de deixar desamparada a Giovana Antonnelli (Musa actual dos meus sonhos , grande amiga da "left hand").

Até já Giovana ! Logo à noite falamos melhor. Vou atender a Santa cá de cima...(raios que a partam mais o jantar das bestas!)



Pirraça...

Estão lindos, não estão?

Reparem que não há nem sombra, quanto mais cheiro, de presunto ou de toucinho por cima!!

Apenas o peixe fresco, as ovas ,  um raminho de salsa e o resto que escrevi há pouco (cebola, alho , pimenta e sal)..

Um trago de vinho branco (do tal...). Uma horita de forno quente.

Crónicas da Serra 1

Noite dos trópicos, quente, mas durante o dia sente-se menos este calor seco.  Devem estar 26 ou 27 graus ao meio dia, mas a manhã amanhece sempre nebulada e com algum frio...Por exemplo, agora estão 15 graus...Não chove na serra há muitas semanas e os lavradores já começam a falar com os seus botões e a ver a vida a andar para trás...

Depois da "leitoada" de ontem há que começar a tratar dos peixes que vieram connosco na bagagem. Hoje vamos assar à portuguesa dois Pargos pequenos da nossa costa, a rondar o kg e meio cada um, com ovas de pescada e batatas da terras pequenas.

Já sabem como será: cebola às rodelas e tomate fresco aos bocados, um bom golpe de azeite e alho picadinho, sal e pimenta preta qb. O resto é com o forno...Para as batatas a "cama" é a mesma. Temos é de estar atentos ao "desenvolvimento do assunto", para ir mudando os tabuleiros conforme for necessário.

Já provei o tinto deste ano. Vinho possante, sabendo um tudo nada ao açucar, do muito grau que devia ter dado. Hoje, se tudo estiver como pensamos, vamos provar o branco. O mítico branco da nossa casa, causador de tantas idas à adega.

Ontem, depois da "desgraça" do Benfica , viu-se a do Sporting... E também o Braga empatou. Neste campeonato estranho parece-me que se vai outra vez estender a passadeira vermelha para passar o "azulão"..

Enfim...



quinta-feira, agosto 11, 2011

Finalmente a Aldeia

Partimos para uns dias de férias lá no descanso dos pinheiros, com cheiro a alecrim e giesta...

A Adega é o local mais fresquinho da quinta, nesta altura do ano... Antecipamos "bué" de  visitas com amigos e familiares  para "ver o estado do branco"...

Pode haver alguma perturbação no ritmo destes Posts, mas prometo que irei dando notícias nas já habituais "Crónicas da Serra".

Amanhã serão os preparativos da viagem, as últimas compras, o peixe fresco no "Cortes" e os outros "mimos" habituais da época.

No Sábado  estarei à porta da Meta logo pela manhã, fazendo companhia  ao mestre assador enquanto este termina o leitãozinho que será o nosso almoço. Com o Espumante de uva moscatel galega  da Casa de Sarmento, pois claro!

Prometo que no Domingo darei conta do que se tiver passado.

Boas Férias para os que vão agora!

quarta-feira, agosto 10, 2011

Onde estão as passas dos queques?

Lembram-se dos queques com passas?  Pois desapareceram... Volatizaram-se à conta de misteriosas decisões tomadas por tenebrosos "Bosses" da pastelaria, uma espécie de D. Corleones do pastel de nata...

Os consumidores queixaram-se? Penso que sim, desejo que sim, mas não tenho a certeza. Nesta guerra do cêntimo, se postos perante a hipótese de pagar mais 10 cêntimos pela passazinha do queque, muita gente diria que não estava para isso.

Mas outros estariam disposto a tal! Quando acaba a escolha possível para nos submetermos à decisão dos "outros" trata-se de uma ameaça à Democracia!

"Passas dos queques? O gajo tá mas é passado dos c***"

Parece que estou a ouvir os meus leitores. Mas tenham a paciência de me ler mais uns minutos para se perceber bem onde quero chegar...

A ideia é simples e tem a ver com as opções do Sr Governo do "mete a mão ao bolso": se tiver que escolher entre irem-me ao bolso directamente , aos meus rendimentos mensais do trabalho (como fizeram já 2 vezes, com os 10% do corte de salários e com a metade - upa, upa - do subsídio de Natal) E aumentarem os impostos sobre o consumo, isto é, irem-me ao bolso de forma indirecta, no preço daquilo que compro, eu escolheria sempre esta última opção!

Porquê?

Porque me dariam a possibilidade de escolha! Hoje carapau fresco, amanhã sardinha de lata, um fim de semana por outro um pargozito... Ao pequeno almoço,  um pãozinho com queijo, ou um queque com passas, ou um sem passas!

Bem sei que esta posição vai aborrecer muita gente. No fim de contas o IVA é um imposto cego, que a todos afecta por igual, enquanto que  o corte dos salários será "cirurgíco" e "socialmente atento" às divergências entre ricos e pobres...

Mas como sabem essa argumentação é MENTIROSA!
a) Em primeiro lugar porque os cortes dos salários afectam apenas isso mesmo: os salários! E não os outros rendimentos dos "verdadeiramente Ricos"
b) E em segundo lugar porque é sempre possível proteger os mais desfavorecidos em regime de IVA. Por isso é que existem as taxas minoradas.

O que receio ( eu e Vocês) é que o buraco da economia global seja já tão grande que nada mais reste a este Governo do que fazer as duas coisas ao mesmo tempo! Cortes nos salários e aumentos no IVA!

Lá nos rendimentos dos "pobres" Banqueiros e Investidores é que não se mexe! Isso é Sagrado!

Mas porquê?

Se até grandes economistas deste Ocidente defendem que devem ser esses mesmos banqueiros a pagar a crise que eles próprios causaram, sendo imperativo limitar as margens de lucros dos bancos artificialmente!

Mistérios de S. Bento...

terça-feira, agosto 09, 2011

O que se passa em Londres?

E não só em Londres, a noite passada os desacatos alastraram a Birmingham e a mais algumas cidades de Inglaterra.

Temos a tentação de comparar esta situação com o que se passou em Paris, nos bairros da periferia, há 6 anos atrás. Tratava-se de uma reacção das camadas mais pobres da população ( e jovens sobretudo) contra o magro futuro que viam à sua frente: desemprego, falência dos sistemas de protecção social, limites à emigração, etc, etc...

Pode ser que em Londres sejam as mesmas variáveis que estejam na base dos disturbios, não importando mesmo nada qual foi o pretexto... Mesmo em Paris, em 2005\6,  acho que já ninguém se lembra do pretexto para se começarem a incendiar pneus,. assaltar esquadras de polícia, partir e pilhar lojas , autocarros e outras coisas mais.

São os marginais, os gangs da noite, a malta da droga, que  estão na base destas coisas? Acho que não... Agora que se aproveitam destas "válvulas de escape",  da inquietação e descontentamento geral, isso é bem certo. Estão organizados, estão armados, têm a noção dos locais que vale a pena pilhar e obviamente alimentam-se destas situações. Engordam à custa da violência e da pilhagem desenfreada....

Vital Moreira, em Novembro de 2005, escrevia o seguinte sobre a situação no "Banlieu de Paris":

"É evidente que a prioridade é acabar rapidamente com a onda de violência e restabelecer a ordem e a segurança pública nas cidades francesas. Mas seria ilusório pensar que depois tudo pode ficar na mesma, com a prisão e condenação de algumas dezenas de responsáveis pelas destruições ocorridas. A situação de crise que os gravíssimos desacatos em Paris e noutras cidades francesas vieram evidenciar carece de respostas políticas de fundo que proporcionem uma esperança de vida decente e digna para todos os que habitam os subúrbios degradados por essa Europa fora. Quando Paris está a arder, convém lembrar que nem só ela é combustível..."

Palavras premonitórias...Nada se fez para dar esperança às classes mais desfavorecidas. E a situação de Crise económica e financeira em que o mundo ocidental está imerso cada vez mais torna difícil obter os meios que são necessários para tomar essas medidas de apoio. Pelo contrário, os Governos nada fazem senão "apertar" os punhos em torno do Estado Social...

O Estado Social, tal como o vivemos no último terço do Século passado, não só passou de moda como se tornou impossível de sustentar... Foi talvez à custa desse Estado Social que muitos Governos se endividaram. Mesmo os "mighty USA" que sempre apostaram na livre concorrência para resolver estas coisas da assistência médica e da reforma para "todos" , tiveram que arrepiar caminho  quando se aperceberam que  metade da população não estava coberta por esse tipo de segurança social privada...

E nesta Inglaterra da Crise o Governo Tory tem cortado que se farta nos apoios... Só na Educação fez mais sangue que os matadouros de perus todos juntos dos USA, por alturas do "ThanksGiving Day"...

Qual será a resposta? Sem dinheiro não haverá "vícios sociais"... Sem estes "vícios sociais" é provável que alastrem os desacatos a mais países. E será perigoso e muito preocupante...

Mesmo que não haja "money" para apoios sociais,  não é bom esquecer que a controlar multidões também se gasta dinheiro... Os exércitos "privados" custam fortunas. O Ceausescu de má memória gastava pipas de massa a manter um Estado autoritário e extorsionário dos seus próprios cidadãos. Quem deseja caminhar para aí?

Não tenho respostas para tudo. Mas os arautos coveiros do tal "Estado Social" fariam bem em meditar nestas consequências.

O problema é que nos condomínios privados onde moram e passam férias estão protegidos por seguranças privados armados até aos dentes... E não se devem preocupar muito com estes "sobressaltos da plebe".

Só lhes faltará - mas lá chegaremos - aprenderem a tocar cítara para, tal e qual como Nero Ahenobarbus , cantarem com voz de cana rachada e dedicarem uma ode à cidade que arde por baixo deles...

Seja ela  Los Angeles, Paris, Londres, Madrid , Lisboa ou de novo Roma (esta já se vai habituando)...

segunda-feira, agosto 08, 2011

Bacalhau, antes que desapareças...

Um fim de semana sem praia. Começa a tornar-se hábito. Penso que o que está mal são mesmo os nossos hábitos... Sol e calor nas ventas , água do mar a 20º? No ar, 33º grauzinhos à sombra? Verão como antigamente?

Talvez a próxima geração dos Tugas seja como os ingleses, que com água a 14º e temperatura do ar a 20º já saltam para as suas praias,  rindo e cantando por causa da  boa sorte que têm...

Nesta altura em que os meios novos (Moi) ainda não estão dispostos a esses sacrifícios há que encontrar alternativas para passar o tempo que não requeiram muito esgaravatar no bolso das moedas.

Neste FDS fui (fomos) ao barbeiro, e ao cinema (ver o "Super 8". Muito recomendável!! Paródia inteligente aos filmes do Spielberg com actores de palmo e meio notáveis!). E para o almoço de Sábado atrevi-me a fazer um bacalhau no forno com natas e azeitonas.

A Receita paradigmática do Bacalhau com Natas que deve estar na cabeça de todos os alfacinhas será a do "Funil" , casa antiga da velha burguesia lisboeta, na Elias Garcia. Essa receita é semelhante à que aqui apresento, mas leva puré de batata. Como verão eu decidi antes ir pelas batatas fritas.

A vantagem destas receitas é que muito se pode ir adiantando de véspera, poupando assim nos tempos à frente do fogão no dia aprazado para a degustação.

Na sexta feira à noite cozi 4 boas postas de bacalhau (eu tento sempre comprar o de cura amarela. Apesar de  não ser tão grosso como o "Asa Branca", é muito melhor, rijo e saboroso, mantendo os seus óleos essenciais). O Bacalhau é cozido em leite onde deito uns grãos de pimenta preta. Logo que o leite levante fervura apaga-se o lume e depois abafa-se o tacho durante uma meia hora para que o bacalhau acabe de cozer.

Depois de deixarem esfriar limpem bem de espinhas e de peles. Reservem as lascas.

No dia seguinte vão adiantando as batatas. Fritem bem em óleo de amendoim, em cubos pequenos. Reservem também. Para 4 pessoas serão 1,5 kg, mais ou menos. Uma cuba da fritadeira bem cheia.

Fazemos de seguida o refogado: um bom golpe de azeite, muita cebola cortada às rodelas finas (4 médias ou 3 grandes).  3  chalotas também finamente cortadas. 5 dentes de alho migados  bem finos. Louro picadinho, pimenta preta. Juntem uma mão meia de sal grosso. Quase no final do refogado (quando a cebola começar a alourar levemente) juntem um copo de vinho branco meio (já sabem que eu gosto de usar Moscatel de Setúbal)  e metade de uma embalagem de molho "Barilla" com azeitonas e tomate.
Feito o refogado deitem dentro as lascas de bacalhau e um frasco inteiro de azeitonas pretas descaroçadas, bel escorridas. Mexam algumas vezes para envolver bem e deixem apurar em lume brando, durante cerca de 30 minutos.

Num tabuleiro de ir ao forno deitem o preparado. Por cima as batatas fritas. E por cima destas 3 embalagens pequenas de molho béchamel (não vale a pena estarem a fazer em casa).  Espalhem bem o Béchamel de forma a cobrir todas as batatas uniformemente.

Levem ao forno quente (250º). Meia hora na posição de assar normal e meia hora a tostar por cima.

Acompanhem com uma salada mista feita na altura.

E para beber ? Aconselho um Branco de Verão:  Alvarinho Soalheiro de 2010 ( a cerca de 9 euros).

Bom Apetite!

sexta-feira, agosto 05, 2011

Para descansar a Vista

Poemas curtos de Verão, à medida das férias.... Embora o tempo não esteja de ananases. Não se pode ter tudo.

Têm a Crise,  agora também queriam ter Sol e Praia? Gulosos... Leiam e sorriam. Ou não.



Poeminha de Homenagem à Preguiça Universal

Que nada é impossível
não é verdade;
todo o mundo faz nada
com facilidade

Millôr Fernandes, in "Pif-Paf"

O Prazer é Silencioso

Ao contrário da ideia assente
A palavra não é criadora de um mundo;
O homem fala como o cão ladra
Para exprimir raiva, ou medo.

O prazer é silencioso,
Tal como o é o estado de felicidade.

Michel Houellebecq, in "A Possibilidade de uma Ilha"


Conjugação

Para o A. Cruzeiro Seixas

A construção dos poemas é uma vela aberta ao meio
e coberta de bolor
é a suspensão momentânea dum arrepio num dente
fino

Como Uma Agulha

A construção dos poemas
A CONS
TRU
ÇÃO DOS
POEMAS

é como matar muitas pulgas com unhas de oiro azul
é como amar formigas brancas obsessivamente junto
ao peito
olhar uma paisagem em frente e ver um abismo
ver o abismo e sentir uma pedrada nas costas
sentir a pedrada e imaginar-se sem pensar de repente

NUM TÚMULO EXAUSTIVO.

António Maria Lisboa, in "Ossóptico e Outros Poemas"


Duas notícias breves

Neste dia soubemos coisas extraordináias:
a) Um "maduro" sueco, físico nuclear amador,  entretinha o seu tempo livre de desempregado a ...cozinhar lá em casa um reactorzinho nuclear, com material comprado através do E-Bay, sobretudo em sites alemães. Depois da 1ª explosão a vizinhança terá desconfiado e queixou-se à Polícia. Esta invadiu o apartamento , também alertada pelo "diário de bordo" que o jeitoso mantinha num Blog , e terá convencido o Homem que cozinha é mais para bifes e arroz de pato...

b) As bolsas asiáticas, até aqui o grande refrigério deste mundo capitalista, encerraram todas no vermelho ontem (hoje de manhã no Ocidente)...Parece que a "malta" que se entretinha a brincar com a dívida soberana do Ocidente Europeu está agora a esticar os tentáculos... Primeiro aos USA e agora a Oriente.

Se a moda pega e alastra estou mesmo a ver as CIA's de vários Estados a encetarem a caça ao miserável investidor que sobressalta mercados e desatina as contas das dívidas soberanas... E , na enxurrada, são bem capazes também de ir os "colarinhos brancos" que manipulam as informações, nas Agência de Ratice (rating, perdão!). Lá ficará Guantanamo com má vizinhança!

Aqui para nós, até acho que essa operação seria bem mais útil à Humanidade em geral do que tantas de que se ouve falar...

E até já tenho o nome de Código para ela:  Operação Chulos na Choldra. Em Inglês "Pimps in Prison".

quinta-feira, agosto 04, 2011

Palmas ao Governo: Preço das Vacinas para baixo!

Não leitores, não ensandeci. Quando fazem alguma coisa bem feita (na minha opinião) devem os governantes ser louvados tal e qual como não me coíbo de os zurzir forte e feio quando acho que  prevaricam.

Neste caso estava uma medida estranha ( para não dizer estúpida) do governo Sócrates . Tinham, em Janeiro deste ano, feito subir desmesuradamente os preços das vacinas (aquelas associadas à chamada "consulta do viajante") nalguns casos mais de 200%,  tendo como justificação aproximar o custo real das vacinas ao preço que o Utente teria de pagar.

Parece (mas não juro!) que o "racional"  que esteve na base de tal medida seria mais ou menos este:

-" Quem viaja para estes locais tropicais, ilhas paradisíacas, Brasis , India do Taj-Mahal,  Safaris no Quénia, e etc e tal,  devem ser os ricos, a malta da massa. Eles que paguem!"

Parece que alguém se esqueceu das missões de assistência médica ou social, dos missionários propriamente ditos( católicos ou protestantes), dos desgraçados que, por obrigação ou a procurarem melhores  condições de vida,  têm de ir agora à aventura num percurso inverso de Norte para Sul, tal como os "outros" o tinham feito há poucos anos de Sul para Norte...

O resultado foi "interessante": Desde a adopção desta medida quase ninguém se voltou a vacinar contra a malária, febre amarela, meningite dos trópicos, e as outras doenças associadas aos climas meridionais extremos.

Mas a "malta" continuou a partir para esses destinos... Os ricos obviamente vacinados e os "outros" sem protecção...

Também com vacinas unitárias a custarem 100 euros quem o poderia fazer?  Com uma "receita" geral a aliviar o Zé de uns 700 euritos (ou mais...) ...Olha, Olha... Só os  ricos! Os tais a quem a medida se dirigia em primeiro lugar!

A procura dos  Safaris para o Quénia até pode ter aumentado...Não sei, nem me interessa.  Deus queira que aqui na Pátria Tasca, à conta de semelhante monumento da estupidez controladora dos gastos primários com a saúde, não tenham também aumentado os casos de doenças tropicais...

Parabéns Sr Governo e Sr Ministro da Saúde!