quarta-feira, novembro 11, 2009

Caso AFINSA - Consequências

O Tribunal Superior de Justiça de Madrid declarou ontem o Processo de liquidaçãoo dos bens da AFINSA, o que poderá levar a que os seus aforristas possam vir a receber algum valor do que lá tinham colocado.

Estima-se - Fonte: caderno de Economia do "Público" - que os bens da AFINSA atinjam 813 milhões de euros (peças filatélicas, não sei como foram calculadas, mas mesmo assim no valor atribuído de 249 milhões). As responsabilidades da mesma firma serão de 1,6 mil milhões de euros. Se tudo corresse bem os investidores poderiam esperar receber 1 terço do que lá investiram...

Mas... Como foi calculado o valor dos espécimens filatélicos em cofre? Partindo do princípio que se utilizaram um ou dois catálogos europeus de referência (Yvert, Michel) estes valores de catálogo, como bem sabem aqueles que conhecem da poda filatélica, são meramente indicativos das transacções.

Até se dizia que, depois da AFINSA, o coleccionador interessado comprava a 70% do valor de catálogo e, se tivesse sorte, tentava vender a 60%...

Por outro lado vão cair no mercado secundário milhões de selos de muitos países (incluindo Portugal) com datas de emissão até 2005. Que impacto vai esta infusão de produto ter no mercado filatélico? E quem se vai apressar para comprar? E em que condições?

Da nossa parte já decidimos há muito tempo ir retirando da circulação os selos dos anos recentes passados, para não complicar ainda mais a vida ao mercado secundário e também impedir que estes selos reintroduzidos e comprados (a kg? Em saldo?) possam ser utilizados na postagem aqui em Portugal. Até ao final de Dezembro de 2009 serão retirados de circulação os selos portugueses até 2005.

2 comentários:

Francisco disse...

Se os correios já receberam o dinheiro da venda dos selos, qual a razão da sua retirada de circulação? Apoiar o mercado filatélico! Mas, e o público não filatelista? Serão os selos "propriedade" dos Filatelistas?

- Retirado do meu blogue http://mundialatms.blogspot.com/

Adolfo Palma disse...

Caro Dr. Raul Moreira,

Compreendo a posição dos CTT de "ir retirando da circulação os selos dos anos recentes passados" para impedir que os stocks resultantes da liquidação da Afinsa "reintroduzidos e comprados (a kg? Em saldo?) possam ser utilizados na postagem aqui em Portugal".

Compreendo porque os CTT não poderiam aceitar que alguém comprasse os stocks de selos portugueses a uma mínima fracção do facial e os utilizasse para franquiar correspondência com um desconto muito maior do que aquele que os CTT concedem às empresas com grande volume de correspondência. Admito que esse hipotético desconto poderia ir dos 40% a 50% por cento, no caso de recompra, ou chegar aos 80% a 90% por cento, no caso de se tratar de entidade que adquira directamente os stocks da Afinsa.

Já não compreendo quando o Dr. Raul Moreira afirma que esta medida de retirar os selos de circulação visa também "não complicar ainda mais a vida ao mercado secundário", ou seja, ao comércio filatélico.

Em primeiro lugar a retirada de circulação é independente da comercialização por parte dos serviços de filatelia, ou seja, os serviços de filatelia podem vender ao facial selos que já foram retirados de circulação. Ainda há poucos anos, aquando da mais que justificada retirada de circulação dos selos com dupla denominação escudos/euros os serviços de filatelia avisaram os seus assinantes de que, embora esses selos saíssem de circulação, muitos deles continuavam disponíveis nos serviços de filatelia. O inverso também é verdadeiro, ou seja, os selos podem estar em circulação e já não serem comercializados pelos serviços de filatelia: ou porque o stock se esgotou (o que acontece em Portugal) ou porque houve uma decisão nesse sentido (é o que acontece em países como a França, onde os selos continuam em circulação mas o prazo de venda ao público é limitado no tempo). Concluímos assim que é a cessação da venda dos selos por parte da administração postal, e não a sua retirada de circulação, que beneficia o comércio filatélico porque é quando cessa a venda dos selos ao facial que o comércio os consegue vender com uma margem comercial.

Em segundo lugar se com a liquidação dos stocks da Afinsa "vão cair no mercado secundário milhões de selos de muitos países (incluindo Portugal) com datas de emissão até 2005" o valor pelo qual esses stocks vão ser adquiridos tende a baixar no caso dos selos terem sido retirados de circulação. Ou seja, a margem de risco de quem investir na compra desses stocks é maior ao saber que eles apenas servem ao mercado filatélico e não servem para postagem e, portanto, pagará menos por eles. Ao mesmo tempo, para recuperar rapidamente o capital investido, terá tendência a vender ao desbarato, ao mercado filatélico, parte dos stocks que adquiriu, baixando o valor de mercado dos mesmos e prejudicando, portanto, o comércio filatélico. Neste hipotético quadro o coleccionador sai a ganhar, mas só aparentemente, porque ao adquirir selos muito abaixo do seu valor facial questionará o valor pelo qual adquiriu no passado as novidades filatélicas que compõem a sua colecção (e concluirá que a mesma vale muito pouco). Perguntar-se-à se vale a pena continuar a adquirir selos modernos acima do seu valor facial, aos comerciantes, e mesmo ao seu valor facial, nos correios?

Melhores cumprimentos,
Adolfo Palma