quarta-feira, fevereiro 17, 2016

Recordações de S. Petersburgo ( a propósito do jogo)



Estive a ver ontem o joguito e a sofrer quase  até este acabar (até aos 91 minutos, para ser mais preciso). E durante a jogatana lembrei-me da minha aventura de 2007 em S. Petersburgo.

Já aqui contei as histórias das minhas comidas nos restaurantes "Na Zdrovie" e "Canvas".

O que talvez não tenha dito foi quem estava nesse "Canvas" (restaurante do Hotel Renaissance) na mesa ao lado da minha.

Não sei o nome nem o que fazia na vida o pai de família que ali se sentou com os dois filhos adolescentes e a (deslumbrante)  mulher, que não seria a mãe das crianças pelo aspecto.

O que me impressionou na altura ( a mim que paguei 50 euros por 30 graminhas de beluga) foi que o dito cidadão russo mandou vir do mesmo beluga, mas num balde. À primeira vista parecia ser um balde de gelo. E a família alimentou-se fartamente desse balde, brandindo para o efeito colheres de sopa prateadas que envergonhavam soberanamente a discreta colherzinha de café com que eu colhia, ova a ova, o precioso caviar.

O olhar de piedade que me foi lançado da mesa ao lado doeu. E pensei " Estes bois tanto comem desta m**** que ainda lhes dá uma volta ao intestino. Uma ou duas! E era bem feito!!".

Como percebem foi um autêntico  latido de raposa a olhar para as uvas (vinha de enforcado) no alto das pérgulas... Estão verdes, não prestam...

A noção de perspectiva, de relatividade,  que aquele encontro fortuito me deu ficará para toda a minha vida. Eu,  que pensava estar no escalão superior do consumo, encontrei ali a "família alfa" do consumo pantagruélico... No que ao caviar diz respeito.

Mais tarde, já no Hermitage, observei outra peculiaridade daquele grande país.  O Hermitage é um dos maiores museus do mundo, com uma dimensão descomunal. Estará para o nosso MNAA como a baleia azul para um golfinho do Sado. Tem 365 salas e 20 km de extensão linear. Para ver tudo , tudo mesmo, 3 meses de visitas diárias são capazes de não ser suficientes.

Em cada uma das 365 salas existem guardas.  Nas salas com as peças mais importantes a segurança é forte. Mas noutras salas que já não estão assim tanto na moda, a segurança é feita por senhoras com mais de 50 anos, que passam pelas brasas durante as tardes, sentadas em cadeiras nos cantos.

Perdi-me naquele labirinto e fui dar a uma sala que depois vim a saber que seria a porta de entrada para as colecções orientais .

Estive sozinho  - quero dizer, estava lá uma senhora guarda mas apenas de corpo, o espírito estaria no país dos sonhos - com magníficas esculturas e pinturas bizantinas. Cheguei a mexer ( a tocar com os dedos) nalgumas peças!  Uma experiência incrível.

Nota: a fotografia representa um Díptico de marfim bizantino com cenas de circo, datado do século V a.c. É da Coleção Oriental do Hermitage.

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