terça-feira, fevereiro 16, 2016

Está hoje mais frio



Depois de dezenas de anos de frequência da Versalhes logo de manhãzinha,  o primeiro comentário que os meus "sócios" fazem assim que nos encontramos à porta é sempre sobre o tempo. E hoje o comentário comum era "Faz muito frio!"

É preciso dizer que com os meus sessenta anos sou um "puto" ao pé deles... O mais novo a seguir terá mais de 70.  E sentem mais frio com essas idades.

Eu posso confirmar isso com as minhas "santas". A única altura em que não refilam com o "despesismo" de que sou acusado a toda a hora é  quando me exigem para ligar o aquecimento central. Nestes meses de Inverno gasto uma bilha de 45 kg todos os 15 dias...

Na quinta da Beira Alta o "aquecimento central" são as lareiras. Trabalham a pinho. Do nosso. Sempre sai mais barato, embora a mão de obra e o asseio se compliquem.

O português tem por costume embirrar com o tempo que faz. Só lhe agrada o sol , desde que não seja  lavrador.  Chuva , vento e frio são assuntos que o incomodam.

Mas também na agricultura este assunto se está a tornar incómodo. O meu cunhado que tem a seu cargo a importantíssima tarefa de cuidar das nossas vinhas ( as poucas que restam e que só dão vinho para nosso consumo) anda sempre com a cabeça às voltas por causa do tempo que faz ou que deveria fazer.

Por exemplo, quando passou o ano novo disseram-me que "as terras estavam tão duras da falta de chuva que nem uma enxada lá entrava". Ontem já me foi referido que "os campos já não absorvem mais água, está tudo que parece um charco".

Parece aquela anedota do compadre alentejano, aflito com a seca e que se tinha dirigido à Direcção Regional da Agricultura com os papéis do pedido de subsídio. Quando lá chegou a chuva caía com tanta força que o funcionário da direcção o olhou com ar desconfiado. O compadre  pediu desculpa, saiu,  entrou no café Arcada e logo ali mudou o pedido para "indemnização pelas cheias".

O que é certo é que o tempo já não é o mesmo. O IPMA (Instituto Português do Mar e da Atmosfera) declara que foi este Janeiro de 2016 o mês mais quente dos últimos 50 anos (quem diria com o "briol" que está hoje!) e o mais chuvoso dos últimos 15 anos. Podem ler mais aqui:

http://www.ipma.pt/resources.www/docs/im.publicacoes/edicoes.online/20160205/aWMAJBRPxNvEhEfRMSdW/cli_20160101_20160131_pcl_mm_co_pt.pdf

Na Serra da Estrela os Invernos duravam mesmo 3 meses e eram rigorosos que se fartavam. Invernos rigorosos de antigamente, quando as estações do ano, em Portugal, eram coisa para se levar a sério. Fazia um frio de morrer, mais ainda lá para as serrarias da Beira Alta, onde a aspereza do clima é que marcava o ritmo do dia-a-dia. 

Os rebanhos ainda eram acossados pelos lobos e a água congelava nos poços e nas charcas dos lameiro.  Isso tudo ainda testemunhei eu. Há 40 anos atrás , não estou a falar de 400 anos no passado...

Faz-nos pensar o conselho dado pela Agência Portuguesa do Ambiente:  Importa, agora, face á consciência generalizada de que as Alterações Climáticas estão já em curso, e que nalgum grau os seus impactes são inevitáveis, dar uma crescente atenção à vertente da adaptação.

Ou seja: O mal já está feito, Só nos resta remediar. É uma pôrra...

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