A poesia das sextas-feiras tem hoje que se bater com os aniversários de Cristiano Ronaldo, Neymar e Carlos Tevez...
Para já não falar do "nosso" Francisco Galamba que, tanto quanto sei, não joga à bola profissionalmente (pior para ele), mas sempre vai tomando conta dos nossos desenhos de selos e de artes finais de livros...
Poesia em redor da bola só podia ser um poema de Vinicius de Moraes sobre o imortal Mané Garincha - "o anjo das pernas tortas".
Manoel Francisco dos Santos, nasceu em Pau Grande ( e Olé!) e tinha as pernas deformadas. A perna direita tinha mais 6 cm do que a outra, por isso arqueava. Quando nasceu tinham dúvidas que pudesse andar mas depois não só andou como correu e driblou.
É ainda hoje considerado o maior ponta direita que existiu e um dos melhores jogadores de futebol do mundo.
Pessoa humilde e com dificuldade para memorizar tácticas e nomes, chamava a todos os defesas encarregues de o marcar "João".
Na final do mundial da Suécia (1958) em que o Brasil ganhou 5 a 2 com um festival da dupla Garrincha-Pelé, Mané chamava "João" ao atleta sueco Börgensson a toda a hora e este mais tarde escreveu que tinha ficado chateado porque pensava que o estavam a mandar para algum sítio feio...
E aqui vai poema:
O ANJO DAS PERNAS TORTAS
A um passe de Didi, Garrincha avança
Colado o couro aos pés, o olhar atento
Dribla um, dribla dois, depois descansa
Como a medir o lance do momento.
Colado o couro aos pés, o olhar atento
Dribla um, dribla dois, depois descansa
Como a medir o lance do momento.
Vem-lhe o pressentimento; ele se lança
Mais rápido que o próprio pensamento
Dribla mais um, mais dois; a bola trança
Feliz, entre seus pés — um pé de vento!
Mais rápido que o próprio pensamento
Dribla mais um, mais dois; a bola trança
Feliz, entre seus pés — um pé de vento!
Num só transporte, a multidão contrita
Em ato de morte se levanta e grita
Seu uníssono canto de esperança.
Garrincha, o anjo, escuta e atende: — Goooool!
É pura imagem: um G que chuta um o
Dentro da meta, um l. É pura dança!
Em ato de morte se levanta e grita
Seu uníssono canto de esperança.
Garrincha, o anjo, escuta e atende: — Goooool!
É pura imagem: um G que chuta um o
Dentro da meta, um l. É pura dança!
Vinicius de Moraes
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