terça-feira, janeiro 19, 2016

O fim nem sempre está escrito



Acabar de escrever um livro ou um artigo é sempre, para mim, a parte pior da "encomenda".

Começar também não é fácil, há aquela questão da "angústia do escriba perante a folha branca" agora transformada pela tecnologia em "écran branco". Mas esta  - pelo menos no meu caso - resolve-se rapidamente.

O truque que uso para começar é desatar a escrever mesmo que sem ter nada a ver com o assunto. E ao fim das primeiras linhas lá arranjo forma de dar a volta ao texto e entrar dentro dos carris .

Mas para acabar uma obra criativa temos que decidir se o final deve ser moralista, eufórico, optimista, realista ou ainda do tipo duvidoso, aquele em que deixamos ao leitor a interpretação final do sucedido.

Como aqueles episódios um pouco datados sobre o Monstro do Loch Ness onde se provava que a criatura era uma invenção ao longo dos minutos de visionamento, mas onde a última imagem do documentário era um pescoço alongado a vir ao de cima do lago, no meio da neblina...

O mais engraçado é que quando começo a escrever nem sempre sei qual será o final do texto.  E do muito que tenho lido sobre o assunto, parece que assim acontece também com escritores de sucesso -  com quem não me comparo, obviamente!!

 Aliás, os filmes de Hollywood são revistos em sessões especiais de teste para avaliar qual o "fim" que mais agrada aos espectadores. O muito dinheiro investido obriga a que se tomem precauções para assegurar a rentabilidade da operação.

O "fim" pode ser ainda um assunto que desagrada aos escritores, na maioria das vezes porque se apaixonam pelo texto e não querem acabar a obra. São exemplos Tolstoi no "Guerra e Paz" e mais perto de nós Tolkien no "Lord of the Rings".

Há livros (e filmes, já agora) que acabam mal. Pelo menos para mim.
Dou como exemplo de filmes "Sinais" e "A 9ª Porta" , já para não falar do clássico "2001 Odisseia no Espaço".
E quanto a livros?  Não gostei do final de "Hucleberry Finn" (desculpa lá amigo Twain) nem sequer do final do "Monte dos Vendavais". E, em português, tenho que dizer que Alves Redol poderia ter acabado de outra maneira o seu magnífico "Barranco de Cegos".

É claro que temos de ter em atenção a frase mais que conhecida (e sábia) de Jules Michelet: 
Le but n’est rien. Le chemin, c’est tout." Nem sempre é o final que interessa. Mas sim a forma como lá se chega. 
E isto também pode ser verdadeiro noutras matérias. Acho eu.

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