segunda-feira, julho 28, 2014

Ir vivendo...

Amigos e conhecidos muitas vezes respondem à nossa delicada pergunta " Como vai isso?" com a resposta típica do lusitano meio quilhado com a vida: "Cá vamos vivendo, obrigado..."

O "ir vivendo" , numa tradução livre do pensar e do sentir de quem fala assim, deve significar mais ou menos isto:

- "Olhe, muito obrigado por ter perguntado. Falta dinheiro para gastar e trazer qualidade à minha vida. O miúdo precisa de óculos e de livros para a escola, a minha sogra queixa-se dos preços dos medicamentos e dos médicos, a patroa e eu já não vemos a cor de uma cadeira de cinema há mais de um ano. E tive de reduzir a TV Cabo ao mínimo possível."

"Ir vivendo" é mais "Ir sobrevivendo".  Significa ter de abdicar dos pequenos prazeres da vida para nos concentrarmos naquelas despesas que são obrigatórias e imprescindíveis. Significa que já não há espaço para o  supérfluo na nossa vida.

Talvez seja mal comparado, mas não posso deixar de pensar que  esta situação tem semelhanças com o que se passa com  a Arte, a Ciência  e a Cultura, que são quem mais sofre em alturas de aperto financeiro dos países. Tem de haver dinheiro para a assistência social, para as escolas, para o fundo de desemprego. As Artes podem esperar. A Ciência não é prioridade. A Cultura é um luxo dos países ricos.

Não sei se todos compreendem o enorme perigo de nos deixarmos embalar por esta filosofia mercantilista?

A primeira coisa que devemos fazer é combater o preconceito de que, pelo facto das necessidades serem tantas, não há espaço para a ciência, cultura e a arte. Isso é um equívoco monumental. A ciência, a cultura e a arte são elementos de convivência e estimulam as inovações. Não se trata de estabelecer prioridades. Há uma série de esferas da acção pública e da acção privada que precisam de ser enfrentadas ao mesmo tempo. E a ciência, a cultura e a arte estão entre elas.

Foi feita uma petição pública sobre esta matéria no início de 2014, cujo texto não pode estar mais actual. Leiam aqui sff:

http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=manifestocontracrise

"A política cultural deve ser um vector decisivo na construção do modelo de desenvolvimento contemporâneo de uma nação. Arte, ciência  e cultura são essenciais aos sistemas de inovação de uma sociedade.  A sua força simbólica e dinâmica económica produzem  aprofundamento da cidadania, qualificação de ambientes sociais, sustentabilidade, respeito pela diversidade e redução de níveis de violência direta. É através dos valores culturais que cada pessoa  desenvolve o seu reconhecimento próprio e o seu lugar na sociedade."

Não fui eu que o disse. Está nos programas de desenvolvimento da ONU...

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