Poeta não morre. Ser poeta é "ser mais alto, ser maior do que os outros... é ser mendigo e dar como quem seja Rei..."
O poeta pode cair por terra, porque é feito da matéria perecível de toda a humanidade. Todavia as ideias ficam, a obra deve ser lida, transmitida e comentada.
Sophia de Mello Breyner Andresen foi ( e é) um dos maiores poetas portugueses (ela não gostava que lhe chamassem poetisa).
Compartilha o meu espaço de conforto, aquele paraíso particular a que gostaria de ascender depois desta vida terrena, juntamente com Camões, Pessoa, Herberto Hélder, Florbela, Alexandre O'Neil e poucos mais.
Hoje é o dia em que a "nomenklatura" portuguesa achou por bem dar-lhe como local de repouso final o panteão nacional.
Como se ela precisasse de mais esta homenagem dos poderosos, depois de uma vida de impecável solidez cívica , a dar voz aos humildes.
A terra lusa tem destas coisas. Só se lembra de louvar as grandes almas depois de mortas.
Por vezes leva tempo esta consideração póstuma. Em relação a Sofia levou 10 anos, mas ao pobre Luis de Camões levou tanto tempo que, quando deram pela falta de respeito, nem sabiam já em que vala comum lhe tinham enterrado os ossos...
Mas deixemos passar. O que interessa é que Sophia estará para sempre viva nos seus poemas. E aqui vai hoje um deles:
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
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