terça-feira, outubro 08, 2013

Um Amor Feliz e Angústia para o Jantar


"Um Amor Feliz" passa-se na sociedade post 25 de Abril, aqui em Lisboa e arredores,   temos a história de um escultor  com quase sessenta anos e de uma estrangeira duas décadas mais nova que ele. Além da diferença de idades, ambos estão casados - ele com uma pediatra, ela com um homem de negócios que lhe parece quase um estranho. Os dois conhecem-se num jantar de boas-vindas a um outro casal  do meio e começam a encontrar-se às escondidas, no atelier dele. São estes os elementos que servem de base à história deste romance de David Mourão-Ferreira, escrito em 1986.

Cito um parágrafo muito moderno (e de que maneira!) desse romance admirável:
"De regresso ao meu cadeirão, mal-humorado, e olhando de novo aqueles oligarcazinhos de meia tigela, que bebiam e comiam de tudo com tão boa boca, avidamente metidos até ao gasganete em negociatas de batatas ou de batotas, em tráficos de terrenos ou de terrores, acudiu-me a conclusão de não ser por acaso que"poder" e"podre", em português, se escrevem fatalmente com as mesmas letras."

Em contraponto o clássico dos clássicos da literatura “escapista” ou romanceada sobre o conflito de classes: Angústia para o Jantar de Luis Sttau Monteiro, a obra-prima de 1961, também ela passada em redor da nossa capital, com reminiscências do então aristocrático “English Bar” (onde nunca se levavam as amantes!)  e de outros locais bem conhecidos da época.

É a história de dois antigos colegas de liceu, que passados 30 anos continuavam a jantar todos os dias 15 de cada mês. O Gonçalo,que é empresário rico e filho de boas famílias. Casado e com dois filhos, um dos quais era motivo de grande preocupação devido às suas ideias revolucionárias. E o António, empregado de escritório e pobre, filho de um oficial da marinha e solteiro.
Apesar de toda a intimidade demonstrada na conversa, dá  ideia ao leitor que ambos se odiavam. Gonçalo gozava com António devido à falta de dinheiro e à condição social, e António invejava Gonçalo porque ele tinha de tudo melhor que ele. No caminho para casa cada um ficava a pensar porque raio se continuavam a  encontrar todos os dias 15…

Quando nos aproximamos dos 40 anos do 25 de Abril faz bem a qualquer alma lusa reler estas duas obras.

Um comentário:

pat disse...

Fiquei com vontade de ler...