segunda-feira, outubro 07, 2013

Para que serve o "Canudo"?


O Público de hoje comenta que apenas 50% da quebra nas candidaturas do Ensino Superior será devida a factores demográficos (menos crianças a nascer, menos alunos a estudar). Os outros 50% são causados por falta de vontade ou falta de dinheiro, ou descrença nos resultados, por parte de pais e alunos.

Quando o Sr. Presidente da República apelou no discurso do 5 de Outubro ao “reforço na qualidade da Escola Pública, que é a forma tradicional de se fazer a mobilidade social no Portugal democrático” provavelmente já saberia destes resultados.

É triste ver pais e educadores a abandonar a ideia de sacrifícios pelos filhos, mesmo que estes tenham boas notas, apenas porque as saídas profissionais de licenciados, mestres e doutorados são cada vez mais complicadas.

O número de licenciados, mestres e doutorados sem emprego aumenta sem parar. Que incentivo, que sinais dará esta situação aos mais interessados? Talvez que se aprenderem um ofício, daqueles que todos precisam  - canalizador, electricista, carpinteiro, biscateiro de qualquer coisa – nunca lhes faltará trabalho nem dinheiro em casa. Com a vantagem que, se tiverem sorte, já começam a ganhar dinheiro a partir dos 15 ou 16 anos.

É um retrocesso civilizacional de quase 40 anos. Situamo-nos a caminho de uma situação só vista mesmo antes do 25 de Abril…

A educação pela educação era um privilégio dos mais ricos. Daqueles que podiam estudar Humanidades e fundar depois um jornal com o dinheiro da Avó que armazenava em Gaia mais de 1500 pipas de vinho (referência queirosiana). Quem se ligava neste País às ciências “duras”, sabendo que as mesmas não traziam outra ocupação excepto a docência universitária (e esta apenas se estivéssemos bem com o regime)? Apenas quem tinha muita vocação. Quase como para Padre! Os 3 ou 4 matemáticos que tivemos de relevo depois do grande Pedro Nunes tiveram este destino e nenhum deles enriqueceu com a profissão. Pelo contrário.

Os médicos, advogados,  engenheiros e economistas , esses sim, ganhavam dinheiro e fundavam dinastias familiares. Depois da revolução começaram até a ter uma nova fonte de emprego, que eram os muitos “tachos” governamentais. Mas para lá chegar tinha de se ter os “melhores contactos”. Podia subir-se a pulso, mas ajudava sempre um “empurrão certo, da pessoa certa, na ocasião certa” (Belmiro de Azevedo ou Cupertino de Miranda podem contar como foi).

Com a crise que se instalou (e tenham todos a certeza que apenas a geração seguinte poderá ver o início do seu fim) acabou esta “entente cordiale” que envolvia quem estuda, é bom aluno e arranja emprego, quem o financiou durante os anos de estudo (os pais) e, finalmente, quem o empregava.

Mal estamos: Não há certezas (nem sequer esperanças) de emprego depois dos estudos superiores. É visível a “ganância” das universidades que, depois do Processo de Bolonha e aflitas com os cortes  do Ministério, utilizam os Mestrados e Doutoramentos como fontes primárias de financiamento (extorquindo às famílias tudo aquilo que podem). Admira que quem tem de gerir os dinheiros (cada vez mais escassos) de uma família comece a encaminhar os filhos para outras vias?
O único problema vai ser o futuro. Se existir futuro, quem virá para cá gerir e tomar conta dos lugares de topo?

Resposta: Tal como há 50 anos atrás, os filhos e netos de quem tem dinheiro e os mandou estudar, de preferência pagando-lhe os estudos “lá fora” ou na privada cá de dentro. O mundo é redondo e a história repete-se.

Nenhum comentário: