quarta-feira, abril 27, 2011

Cegos que conduzem outros cegos

Evangelho segundo S. Mateus 15,1-2.10-14.

Aproximaram-se, então, de Jesus alguns fariseus e doutores da Lei, vindos de Jerusalém e disseram-lhe: «Porque transgridem os teus discípulos a tradição dos antigos? Pois não lavam as mãos antes das refeições.» Jesus chamou, depois, a multidão para junto de si e disse-lhes: «Escutai e tratai de compreender! Não é aquilo que entra pela boca que torna o homem impuro; o que sai da boca é que torna o homem impuro.» Os discípulos aproximaram-se dele e disseram-lhe: «Sabes que os fariseus ficaram escandalizados, por te ouvirem falar assim?» Ele respondeu: «Toda a planta que não tenha sido plantada por meu Pai celeste será arrancada. Deixai-os: são cegos a conduzir outros cegos! Ora, se um cego guiar outro cego, ambos cairão nalguma cova.»

Sempre gostei muito deste episódio da vida de Jesus, aqui contado por S. Mateus. Reparem que "não é aquilo que entra pela boca que torna o homem impuro, mas sim o que sai pela mesma boca!!"

Reflexão importantíssima para o gastrónomo amador, cozinheiro do pior  e escriba inventor que se dirige a V. nos tempos que correm. Mas adiante que não estamos em Amarante...

 A verdadeira razão desta minha chamada de hoje ao texto sagrado, foi a citação "Deixai-os: são cegos a conduzir outros cegos! Ora, se um cego guiar outro cego, ambos cairão nalguma cova.»

O que podem fazer os cegos se os encarregam de conduzir outros cegos? Todos cairão nalguma cova (ou Buraco)...













Somos nós os cegos que nos deixámos conduzir por outros que tais. Desde que a brisa da Democracia soprou no rectângulo parece que nos endoidámos pela liberdade conquistada e vai de brincar "às casinhas" com os recursos (poucos e mal aproveitados) deste País.

Pode ser que, como dizem alguns - meu mestre Vasco Pulido Valente entre esses - que Portugal nunca tivesse tido, desde os tempos de D. Afonso I, "sustentabilidade económica" para se governar sózinho como País independente. E que apenas os ciclos das especiarias, das pedras preciosas da India e do ouro do Brasil nos tenham permitido alguns fulgores  face aos congéneres e certos laivos de aparente abastança localizada. Mas nunca tais fenómenos foram associados ao desenvolvimento real do País.

O que se "desenvolveu" terão sido os bolsos das classes dominantes, dos burocratas das Alfândegas , dos "Contadores Reais". Ontem, como hoje, há sempre alguém a ganhar com as crises, seja  uma casa nobre ou  um Partido.

 D. Dinis, o Rei iniciado,  "Plantador de Naus a Haver" ,  ainda pensou para a frente , mas depois dele tenho a impressão que a esmagadora maioria dos nossos governantes  só pensaram para trás e para ao lado:

- "Para onde me devo virar para mais abocanhar do pedaço que me coube da herança do velho Afonso? Olha ali os Judeus cheios de massa à espera de quem os tosquie..."

E lá foram os tristes judeus desenvolver os Países Baixos , deixando para trás uma  terra "mãe de vilóes e  madrasta de homens honrados" tal como o Poeta se referia a Goa.

Nestes tempos do agora, com a Troika a assobiar-nos às pernas e com os dirigentes(??) que temos, não sei se necessitamos de ainda mais cegos para nos conduzirem ao abismo. Os que temos são capazes de chegar.

Não querem abrir os olhos antes que seja tarde de mais?  

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