sexta-feira, maio 28, 2010

Para descansar a Vista


















Do grande Antero,  açoriano ilustre que nasceu e morreu na sua Ponta Delgada, aqui vai poema para nos pôr a pensar:

A Divina Comédia

Erguendo os braços para o Céu distante
E apostrofando os deuses invisíveis,
Os homens clamam: - «Deuses impassíveis,
A quem serve o destino triunfante,


Porque é que nos criastes?! Incessante
Corre o tempo e só gera, inextinguíveis,
Dor, pecado, ilusão, lutas horríveis,
Num turbilhão cruel e delirante...


Pois não era melhor na paz clemente
Do nada e do que ainda não existe,
Ter ficado a dormir eternamente?


Porque é que para a dor nos evocastes?»
Mas os deuses, com voz inda mais triste,
Dizem: - «Homens! porque é que nos criastes?!»

Antero de Quental (1842; 1891)


Neste tempo em que muita gente se refugia de novo na contemplação do sagrado, esquivas que são actualmente as benesses douradas que fazem com que a vida de todos os dias se suporte , faz-nos pensar a interrogação do velho Antero ... Homem, salva-te a ti próprio! Os deuses que criaste abandonaram o Olimpo e eles também vagueiam, perdidos, sem crentes nem adorações, nem incensos.

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